Em nosso pequeno e humilde trabalho, estaremos
agora entrando, no quarto livro (Ezequiel), dos últimos 17 livros da Bíblia
que, justamente são os livros proféticos.
A fonte principal
de nossas pesquisas, pela qual seguiremos sua divisão proposta, com ligeiras
alterações, é a Bíblia de Estudo de Genebra – BEG.
Autoria
– características do autor:
·Provavelmente
de Ezequiel – “Deus torna forte, endurece”.
·Não
se tem nenhuma informação a respeito de Ezequiel além das contidas nesse livro
que leva o seu nome.
·Foi
levado ao cativeiro quando tinha aproximadamente 26 anos, em 597 a.C., depois
de Nabucodonosor ter tomado Jerusalém e levado cativos Joaquim, a família real,
os cidadãos mais proeminentes e os artesãos qualificados (2Rs 24.14). Ele viveu entre os exilados a mais de mil
quilômetros de distância de Jerusalém, e durante o período de sua pregação, o
templo estava em ruínas
·Começou
a profetizar com trinta anos de idade (1.1). Data correspondente ao quinto ano
do exílio do rei Joaquim (1.2-3).
·O
seu ministério durou pelo menos vinte e três anos, ocasião em que ele deveria
ter cerca de cinquenta anos. Seu papel profético foi reconhecido pelos líderes
entre os exilados (8.1; 20.1).
·Ezequiel
era um sacerdote (1.3). Os sacerdotes geralmente começavam seus serviços no
templo com a idade de trinta anos. No ano em que deveria ter começado o seu
serviço no templo, Deus o chamou para tornar-se profeta.
·Ezequiel
viveu junto ao rio Quebar (1.1). Era casado, mas a sua esposa faleceu durante o
cativeiro, pouco antes de a cidade de Jerusalém ser destruída em 586 a.C.
(24.18).
·Nesse
livro, Deus comumente se dirige ao profeta usando a expressão "filho do
homem", basicamente com o significado de "pessoa, ser humano".
O
termo enfatizava a fragilidade e a insignificância humanas quando comparadas
com a transcendência de Deus. Num período posterior da história judaica, essa
mesma expressão adquiriu um significado de muito maior relevância (2.1 e Dn
7.13).
Também
foi uma expressão muito usada por Jesus Cristo, principalmente registrada nos
evangelhos - Mt 8:6; 9:20; Mc 2:10,28; Jo 6:62; At 7:56; Fp 2:5-8.
Propósito:
Incentivar os exilados a permanecerem fiéis
ao Senhor, para que ele cumprisse a sua promessa de reconduzi-los à Terra Prometida
e de conduzir o templo e Jerusalém a novas alturas de glória.
Data:
593-570 a.C.
Verdades
fundamentais – conforme BEG:
•Judá
e Jerusalém merecerem a sentença dada por Deus de destruição total e exílio.
•O
julgamento vem sobre aqueles que violam flagrantemente a lei de Deus.
•Deus
julgará as nações que se voltaram contra o seu povo.
•Depois
do exílio, Deus mandaria grandes bênçãos ao seu povo.
•Jerusalém
e o seu templo seriam o centro do povo restaurado de Deus.
Contextualização
•Ezequiel
testemunhou grande parte do declínio e queda daquele que havia sido o poderoso
Império Assírio.
•Os
exércitos da Babilônia, sob Nabucodonosor, surgiram como um poder dominante no
antigo Oriente Próximo.
•As
forças babilônicas e os exércitos do Faraó Neco do Egito periodicamente lutavam
pelo território antes sujeito aos assírios; os reis de Judá, em Jerusalém
acabavam sendo envolvidos por essas lutas.
•Jeoaquim
foi colocado no trono de Jerusalém por Neco (2Rs 23.34) em 690 a.C.
•Após
a derrota dos egípcios em Carquemis, em 605 a.C., Jeoaquim trocou sua aliança e
tornou-se vassalo de Nabucodonosor.
•Permaneceu
sujeito a Nabucodonosor durante três anos, quando novamente trocou sua aliança
de volta para o Egito (2Rs 24.1).
•No
mesmo mês que Nabucodonosor determinou punir Judá pela sua infidelidade,
Jeoaquim morreu, e seu filho Joaquim reinou em seu lugar.
•Joaquim
ficou para enfrentar a ira de Nabucodonosor.
•Após
um breve cerco em 597 a.C. Nabucodonosor levou Joaquim cativo juntamente com
uma grande parte da população de Jerusalém, inclusive Ezequiel (2Rs 24.8-12).
•Nabucodonosor
empossou Zedequias, tio de Joaquim, como governador em seu lugar; Zedequias
governou até a destruição de Jerusalém em 586 a.C.
•Embora
alguns considerem Zedequias como o último rei de Judá, Joaquim foi o último
governante legítimo. As datas no livro de Ezequiel são todas atribuídas em
termos dos anos do exílio de Joaquim.
•O
reinado de Zedequias foi caracterizado por uma oscilação semelhante à de
Jeoaquim entre as alianças com o Egito e com a Babilônia (17.15-19).
•Tanto
os cativos como muitas das pessoas que haviam permanecido em Jerusalém
esperavam que o exílio fosse curto, e que os que haviam sido deportados logo
voltassem para a cidade e Jerusalém fosse poupada de maiores desventuras.
•Os
falsos profetas incentivavam essa crença. Uma vez que o Senhor havia escolhido
Jerusalém como a sua morada e havia defendido a cidade no passado, era
popularmente crido que a cidade era inviolável.
•Muito
da pregação de Ezequiel foi devotada a advertir os exilados de que um destino
pior estava ainda reservado para Jerusalém — a cidade seria destruída.
•Nenhum
outro livro profético apresenta tantas notas cronológicas. Ezequiel estava
consciente da relevância da sua mensagem para a situação histórica imediata.
•As
datas ajudam a orientar o leitor para a cena contemporânea. Veja a tabela a
seguir. Quanto à exatidão das datas na tabela, a cronologia para a última
metade do primeiro milênio a.C. (incluindo o tempo de Ezequiel) é segura e
confiável devido à disponibilidade e concordância dos registros cronológicos
tanto da Bíblia quanto de documentos extra bíblicos existentes numa variedade
de línguas antigas do Oriente Próximo.
•Observações
astronômicas registradas por escribas antigos permitem uma correlação entre
calendários antigos e modernos com alto grau de confiabilidade. Embora seja
concebível que algumas dessas datas venham a ser ajustadas à luz de descobertas
posteriores, mudanças de vulto são improváveis.
•A
última data mencionada em Ezequiel é 571 a.C. (29.17). O livro não poderia ter
alcançado sua composição final até essa data.
•Outras
porções podem ter sido escritas antes e compiladas perto do final da vida de
Ezequiel. Não há nenhuma evidência significativa para se atribuir a qualquer
porção substancial do livro uma data posterior ao curso de sua vida.
CRONOLOGIA
EM EZEQUIEL - BEG
Ref.
Dia/Mês/Ano
Calendário
Juliano
Acontecimento
1.1
5/4/30
31/07/593
A narrativa do chamado
1.2
5/4(?)/5
31/07/593
A narrativa do chamado
8.1
5/6/6
17/09/592
A visão dos acontecimentos em Jerusalém
20.1
10/5/7
14/08/591
Os anciãos vêm para consultar
24.1
10/10/9
15/01/588
O início do cerco de Jerusalém
26.1
1/-/11
Entre 04/587 e 04/586
A profecia contra Tiro
29.1
12/10/10
7/01/587
A profecia contra o Egito
29.17
1/1/27
26/04/571
O Egito em vez de Tiro
30.20
7/1/11
29/04/587
Profecia contra o Faraó
31.1
1/3/11
21/06/587
Profecia contra o Faraó
32.1
1/12/12
3/3/585
Profecia contra o Faraó
32.17
15/712
Entre 04/586 e 04/585
A profecia contra o Egito
33.21
5/10/12
8/01/585
Chega um que escapou de Jerusalém
40.1
10/1/25
28/4/573
A visão da Jerusalém restaurada.
Propósito
e características
•O
livro de Ezequiel é inigualável no sentido de que, com algumas exceções
ocasionais, ele é inteiramente autobiográfico, isto é, escrito na primeira
pessoa do singular, do ponto de vista do próprio Ezequiel.
•Ezequiel
registra um maior número de ações simbólicas do que qualquer outro livro
profético (3.22-26; 4.1-3; 4.4-8; 4.9-11, 4.12-14; 5.1-3; 12.10-16; 12.17-20;
21.6-7; 21.18-24; 24.15-24; 37.15-28).
•Ezequiel
se identificava intimamente com a sua própria mensagem, tendo suportado
sofrimentos e provações extremas com o intuito de proporcionar sinais que
poderiam incitar a nação ao arrependimento (p. ex., deitar-se sobre o seu lado
durante mais de um ano - 4.4-7).
•Ezequiel
usava também parábolas (caps. 15; 16; 17; 19; 23) e provérbios (12.21-22;
16.44; 18.2-3)
Cristo
em Ezequiel – conforme BEG.
O ministério profético de Cristo foi
antecipado quando Ezequiel anunciou que Deus destruiria Jerusalém e enviaria a sua
população para o exílio em razão de sua continuada descrença.
O julgamento contra os apóstatas dentre o
povo da aliança estendeu-se também ao ministério de Jesus.
Jesus apelou para o arrependimento entre os
judeus e um remanescente respondeu em fé.
Entretanto, como Ezequiel, Jesus anunciou
que a destruição do templo e de Jerusalém ocorreriam novamente após a sua
partida (Mt 24; Jo 2.19).
Ezequiel também anunciou julgamento contra
as nações que atormentavam o povo de Deus (29.19; 30.25; 38.21-23).
Num certo grau, esses julgamentos ocorreram
na inauguração do reino de Cristo (Mt 24.34; Lc 11.32,51), mas serão plenamente
realizados no julgamento que acontecerá quando Cristo retornar (Ap 11.18; 14.7;
15.1).
A obra de Cristo foi antecipada quando
Ezequiel anunciou:
üQue
Deus um dia poria um fim ao exílio (caps. 33-48).
üQue
se estabeleceria uma aliança de paz (34.5; 37.6).
üQue
restauraria Jerusalém a uma glória maior do que nunca antes (cap. 48).
De acordo com essas esperanças, a morte, a
ressurreição e a ascensão de Jesus ocorreram perto da cidade (Mt 16.20). A
descida do Espírito ocorreu ali, no dia de Pentecostes, quando milhares de
exilados creram no Messias (At 2).
Além disso, entre a sua primeira e a sua
segunda vinda, a Jerusalém celestial, onde Cristo está, tornou-se um aspecto
importante da fé cristã (Jo 3.31; Cl 1.5).
O Novo Testamento também fez de Jerusalém a
peça central dos novos céus e da nova terra a serem estabelecidos quando Cristo
retornar (Ap 21.2).
O próprio Cristo foi antecipado quando
Ezequiel mencionou "o príncipe" em 34.24; 37.25; 44.3, 45.7,16-17,22;
46.2,4,8,10,12,16-18. Esse príncipe seria o filho de Davi que reinaria sobre o
povo de Deus após o exílio.
Da época do exílio até Jesus, nenhuma
figura real da casa de Davi reinou sobre Israel (Lc 1.32-33). Assim, Jesus
cumpre as esperanças que Ezequiel tinha para a restauração da casa de Davi após
o exílio - 37.24.
Ezequiel depositava muitas de suas
esperanças para o futuro de Israel na restauração do templo e do seu sacerdócio
(caps. 40-48).
Como filho encarnado de Deus, Jesus é o
cumprimento final tanto do templo de Deus (Jo 2.19-22; Ap 21.22) como do
sacerdócio (Hb 7.1-8.6).
Sua morte foi um sacrifício expiatório (Rm
3.25; Hb 2.17).
Ele agora ministra diante do trono de Deus
no céu, intercedendo pelos santos.
Quando retornar em glória, Cristo
santificará os novos céus e a nova terra para ser uma morada santa para Deus
(Ap 21.22-23), substituindo o templo como lugar de sua presença especial
Divisão
proposta do livro de Ezequiel
Seguiremos a mesma estruturação proposta
pela BEG para a divisão do livro de Ezequiel ao qual iniciaremos hoje.
O livro se divide em três partes. Tanto a
parte que anuncia julgamento sobre Jerusalém como a parte que profetiza
restauração, inicia com oráculos a respeito do papel de Ezequiel como atalaia
(3.16-21; 33.1-20).
•Nas
duas primeiras, Ezequiel anunciou o julgamento sobre Jerusalém (caps. 1-24) e
sobre outras nações estrangeiras (caps. 25-32).
•A
partir do momento em que um mensageiro chegou relatando a destruição de
Jerusalém (33.21-22), a pregação do profeta passa a ser dominada pelas
promessas de restauração e misericórdia para o futuro (caps. 33-48).
I. JULGAMENTO SOBRE JUDÁ E JERUSALÉM
(1.1-24.27).
II. PROFECIAS CONTRA AS NAÇÕES
(25.1-32.32).
III. FUTURAS BÊNÇÃOS PARA JUDÁ E JERUSALÉM
(31.1-48.35).
Ezequiel 1:1-28 Segmentação e Reflexões
Começaremos agora o livro de Ezequiel
composto de 48 capítulos. Estamos no primeiro capítulo que nos mostrará a
espetacular visão de Ezequiel junto ao rio Quebar.
I. JULGAMENTO SOBRE JUDÁ E JERUSALÉM (1.1-24.27).
Ezequiel proclamou que Judá e Jerusalém
seriam destruídas pelos babilônios em razão dos pecados continuados e
constantes daqueles que permaneceram em Jerusalém.
Essa primeira grande divisão do livro – o
capítulo primeiro - tem como foco o julgamento contra Judá e a destruição final
de Jerusalém pelos babilónios.
Esses acontecimentos e oráculos têm lugar
entre 593 a.C. (1.2) e 588 a.C. (24.1).
Dividiremos esse capítulo primeiro em dois
conjuntos de visões ligados entre si pela vocação de Ezequiel, seus atos
simbólicos e oráculos: A. A primeira série de visões, a vocação, os atos
simbólicos e os discursos relacionados de Ezequiel (1.1-7.27); B. A segunda
série de visões, a vocação, os atos simbólicos e os discursos relacionados de
Ezequiel (8.1-24.27).
A. A primeira série de visões, a vocação, os atos simbólicos e os discursos
relacionados de Ezequiel (1.1-7.27).
Doravante, até 7.27, estaremos vendo a
primeira série de visões, a vocação, os atos simbólicos e os discursos
relacionados de Ezequiel.
Essa primeira seção do foco profético sobre
o julgamento de Judá e de Jerusalém dividiremos também em três partes: 1. Visão
e vocação (1.1-3.27); 2. Os atos simbólicos (4.1-5.4); e, 3. Discursos
relacionados (5.5-7.27).
1. Visão e vocação (1.1-3.27).
Até 3.27, estaremos vendo a visão
impressionante de Ezequiel e sua vocação. O livro inicia com o registro de
Ezequiel a respeito de sua visão da impressionante carruagem de Deus (1.1-28) e
a vocação recebida de Deus (2.1-3.27). Também aqui dividiremos em duas partes:
a. A visão da carruagem de Deus (1.1-28); b. A vocação de Ezequiel (2.1-3.27)
a. A visão da carruagem de Deus (1.1-28).
Estaremos neste capítulo vendo a visão
espetacular de Ezequiel, a visão da carruagem de Deus. Em sua visão inaugural
Ezequiel testemunhou uma teofania (aparecimento visível de Deus): Deus como um
guerreiro divino aproximando-se em seu carro de batalha.
O livro apresenta um duplo cabeçalho, uma
na primeira pessoa (vs. 1) e outro na terceira pessoa (vs. 2-3). As datas em
Ezequiel são comumente apresentadas em relação ao ano correspondente do reinado
de Joaquim. Entretanto, esse não é o caso para a primeira data apresentada no
livro.
Os vs. 2-3 datam a visão inaugural de
Ezequiel no quinto ano de Joaquim, ao passo que o vs. 1 especifica um trigésimo
ano não identificado.
Muito provavelmente essa data se referia à
idade de Ezequiel na ocasião do seu chamado como profeta, de modo que o
trigésimo ano de Ezequiel era, também, o quinto ano de Joaquim.
Normalmente os sacerdotes assumiam plena
responsabilidade aos trinta anos (Nm 4.3), mas Ezequiel estava no exílio, longe
do templo em Jerusalém, incapaz de cumprir o seu chamado como sacerdote.
Os céus irão se abrir no tempo de Deus e as
visões de Deus irão ser abundantes. Eu aprendo aqui que Deus fala. Ele sempre
falou, está falando e continuará a falar. Temos, portanto, de estarmos atentos
ao que fala conosco de diversas formas, ali com Ezequiel, era em uma
manifestação teofânica.
Foi ali, longe de casa, junto a um rio - rio
Quebar – pois os judeus que viviam fora da Terra Prometida comumente
estabeleciam o seu lugar de culto ao longo de correntes de água (SI 137.1; At
16.13).
Dois textos cuneiformes de Nipur mencionam
um "Grande Rio", provavelmente o rio Quebar; este era o nome de um
largo canal de irrigação que coletava água do Eufrates, perto de Babilônia.
Tudo o que aconteceu foi registrado no
tempo e no espaço para situar a visão que teve. Foi no quinto ano onde Joaquim
foi levado para o exílio em 597 a.C.; Nabucodonosor designou Zedequias para
governar Jerusalém no lugar de Joaquim (2Rs 24.15-17; 2Cr 36.10). No entanto,
Joaquim ainda era o rei legítimo de Judá (2Rs 25.27-30) até mesmo no exílio, e
as datas em Ezequiel (1.2-3; 3.16; 8.1; 20.1; 24.1; 26.1; 29.1,17; 30.20; 31.1;
32.1,17; 33.21; 40.1) são apresentadas segundo os anos do seu reinado.
Pressupondo que a data em 1.2 seja também no quarto mês (1.1), do quinto ano de
Joaquim, essa visão aconteceu, provavelmente, em julho de 593 a.C.
Ezequiel
olhou – vs. 4.
Compare a visão inicial de Ezequiel com
outras narrativas de chamado:
·Moisés
(Ex 3).
·Gideão
(Jz 6).
·Isaías
(Is 6).
·Jeremias
(Jr 1).
Como Moisés, o profeta modelo (Dt
18.15,18), aqueles que o sucederam comumente iniciaram a carreira profética com
a investidura na presença de Deus. Cada um deles foi admitido na corte
celestial de Deus, onde ouviram em primeira mão as palavras divinas.
Os profetas que registraram suas experiências de chamado não o fizeram para fornecer
informação autobiográfica, mas para autenticar a sua autoridade profética; pelo
menos em alguns casos essa experiência distinguia os verdadeiros profetas dos
falsos (1Rs 22.19-28; Jr 23.16-18).
Ezequiel era um
sacerdote! Filho de Buzi, de quem nada se sabe. A palavra do Senhor não virá a
qualquer um, mas àquele que ele chamar e que irá falar a palavra dele. O desafio
dele era grande, mas Deus era maior e lhe deu vitórias porque a mão do Senhor –
o Espirito de Deus - era sobre ele. Quanto mais não dará vitórias aos seus
filhos, em Cristo Jesus? Vejamos o que ele viu.
Ezequiel viu – vs. 4.
Um vento tempestuoso
vindo do norte - para outras referências a tempestades como teofanias, veja 2Rs
2.1,11; Jó 38.1; 40.6; SI 77.18; 83.15; 148.8; Is 29.6; 66.15; Jr 4.13; 23.19;
30.23; Na 1.3; Zc 9.14 – e também viu uma grande nuvem, com fogo a revolver-se
e resplendor ao redor dela e no meio disso uma coisa como metal brilhante que
saía do meio do fogo.
Nos tempos
modernos, essa descrição se encaixaria perfeitamente a uma máquina voadora, um
tipo de aeronave.
Ezequiel continua
a sua narrativa de suas visões. Ele agora fala dos quatro seres viventes que
viu – vs. 5 ao 14.
Eram eles os querubins
(10.1,15,17,20). Compare com os serafins, que ministravam diante de Deus no
chamado de Isaías (Is 6.2) e com a visão de João do trono divino (Ap 4.6).
Era do meio
daquela nuvem, “daquela nave”, ou de sua “carruagem”, que saia algo semelhante
a quatro seres viventes, com semelhanças de homens, com cada um deles com
quatro rostos e quatro asas também. Em seguida, fala de suas pernas direitas e de
seus pés semelhantes ao de bezerro, luzindo um brilho de bronze polido. Parece
estar descrevendo um tipo de traje nos pés ou calçado reluzente. Era debaixo
das quatro asas que surgiam mãos de homem aos quatro lados. Do homem tinham os
rostos, as mãos, as pernas.
O fato de que suas
asas "se uniam uma à outra" (v. 9) relembra o querubim que ficava
acima da arca no lugar mais sagrado do templo (1 Rs 6.27; 2Cr 3.11-12); o
Cronista também descreve a arca como a carruagem divina (1Cr 28.18).
Os quatro rostos,
conforme a BEG, representavam a mais alta forma de vida nos vários reinos da
natureza. Cada face humana, sendo suprema, olhava para frente. O touro
representava os animais domésticos, o leão os animais selvagens e a águia os
pássaros.
O fogo era a
principal forma de teofania (aparecimento de Deus) no Antigo Testamento (Gn
15.17; Êx 3.2; 13.21-22; 14.24, 19.18; 24.17; Nm 11.1; Dt 1.33; 4.11-12,
24,33,36; 5.22-26; 9.3; SI 18.8; 78.14,21; 89.46).
Depois de
descrever os seres viventes que ziguezagueavam como relâmpagos, ele passa a
descrever uma roda na terra ao lado de cada um deles. A roda era brilhante, tinham
a mesma aparência, aspecto e estrutura – como se fosse uma dentro da outra -, movimentava-se
nas quatro direções, sendo que ao se movimentar não se viravam.
Conforme se
movimentavam os seres viventes, as rodas ao lado deles também se movimentavam e
as suas cambotas – estruturas arqueadas que poderiam servir de molde e de
suporte – metiam medo. O curioso era que as quatro rodas estavam cheias de
olhos ao redor.
Qualquer movimento
que fazia os seres viventes, as rodas igualmente faziam. Se andavam, elas
andavam; se se elevassem, elas também se elevavam; se parava, elas também
paravam.
Era para onde o
espírito quisesse ir que elas iam, pois o espírito as impelia e as rodas se
elevavam juntamente com eles. A explicação disso era que nelas havia o espírito
dos seres viventes. O espírito dos seres viventes estava nas rodas! – vs. 21.
Depois de
descrever os seres viventes e as rodas, ele passa a descrever o que estava
acima das cabeças deles, dos seres viventes.
Havia algo
parecido com o firmamento como cristal brilhante que metia medo o qual era
estendido sobre a sua cabeça. Debaixo do firmamento era que estavam estendidas
as suas asas a de um em direção à outra. Havia ainda em cada um outras duas
asas com que cobriam o corpo de um lado e do outro. E andavam eles e o tatalar
das asas era como o rugido de muitas águas, como a própria voz do Onipotente. Foi
neste momento que ele ouviu um estrondo tumultuoso, como se fosse um tropel de
um grande exército.
Um componente auditivo era um elemento
comum nas teofanias (aparecimentos de Deus) que envolviam o exército divino
(2Sm 5.24; 2Rs 7.6; 1Cr 14.15; 13.4; 66.6; JI 2.5. cf. Gn 3.8; Ex 19.19; Is
6.4). Veja particularmente Ez 3.12-13; 10.5.
Assim que paravam, eles abaixavam as suas
asas. Neste momento veio uma voz – vs. 25. Uma voz de cima do firmamento que
estava sobre a sua cabeça.
Por cima do firmamento uma espécie de trono.
Um trono como uma safira e nela assentado uma figura semelhante a um homem. Ezequiel
virou-se cautelosamente para descrever o ocupante da carruagem.
A luz que se irradiava da presença divina
era esmagadora (cf. Dn 7.9-10), pois Deus habita em luz inacessível (1Tm 6.16).
O resplendor que ele via era de aspecto
semelhante ao do arco-íris. O arco-íris não apenas reflete o resplendor que
envolve Deus, mas também serve de lembrete ao povo de que ele, Deus, domina
sobre o mar, assim como da sua promessa de nunca mais destruir todo o mundo com
um dilúvio (Gn 9.16-17).
O aparecimento de Deus era aterrorizante,
mas o arco-íris, que lembra a aliança de Deus, proporcionava alguma segurança
de sua compaixão e boa vontade. No entanto, ele também traz à memória a decisão
a respeito do dilúvio que resultou do julgamento devastador que Deus proferiu
contra a incredulidade e a desobediência.
Ezequiel conclui o capítulo dizendo que
aquela era a aparência da glória do SENHOR e que vendo isto, caiu com o rosto
em terra e ouvi a voz de quem falava.
É muito complicado querer analisar algo que
de nada sabemos. Quando foi que eu vi a glória do Senhor teofanicamente? Quem sou
eu para arriscar algum palpite?
No entanto, temos fatos e podemos analisá-los.
Ez 1:1 Aconteceu
no trigésimo ano,
no quinto dia do quarto mês,
que,
estando eu no meio dos exilados,
junto ao
rio Quebar,
se
abriram os céus,
e eu
tive visões de Deus.
Ez 1:2 No quinto dia do
referido mês,
no quinto ano de cativeiro do
rei Joaquim,
Ez 1:3
veio expressamente a palavra do SENHOR
a Ezequiel, filho de Buzi,
o
sacerdote, na terra dos caldeus,
junto
ao rio Quebar,
e ali
esteve sobre ele
a mão
do SENHOR.
Ez 1:4 Olhei,
e eis que um vento tempestuoso
vinha do Norte,
e uma grande nuvem,
com
fogo a revolver-se,
e
resplendor ao redor dela,
e no
meio disto,
uma
coisa como metal brilhante,
que
saía do meio do fogo.
Ez 1:5
Do meio dessa nuvem
saía a
semelhança de quatro seres viventes,
cuja
aparência era esta:
tinham
a semelhança de homem.
Ez 1:6
Cada um tinha
quatro
rostos,
como
também
quatro
asas.
Ez 1:7
As suas pernas eram direitas,
a
planta de cujos pés era
como a
de um bezerro
e luzia como o brilho de bronze
polido.
Ez 1:8
Debaixo das asas
tinham
mãos de homem,
aos
quatro lados;
assim
todos os quatro tinham
rostos
e asas.
Ez 1:9
Estas se uniam uma à outra;
não se
viravam quando iam;
cada
qual andava para a sua frente.
Ez 1:10
A forma de seus rostos
era
como o de homem;
à
direita,
os
quatro tinham rosto de leão;
à
esquerda,
rosto
de boi;
e
também rosto de águia,
todos
os quatro.
Ez 1:11
Assim eram os seus rostos.
Suas
asas se abriam em cima;
cada
ser tinha duas asas,
unidas
cada uma à do outro;
outras
duas
cobriam
o corpo deles.
Ez 1:12
Cada qual andava para a sua frente;
para
onde o espírito havia de ir,
iam;
não se viravam quando iam.
Ez 1:13
O aspecto dos seres viventes
era
como carvão em brasa,
à
semelhança de tochas;
o fogo
corria
resplendente
por entre os seres,
e dele
saíam
relâmpagos,
Ez 1:14
os seres viventes
ziguezagueavam
à
semelhança de relâmpagos.
Ez 1:15
Vi os seres viventes;
e eis
que havia uma roda na terra,
ao lado
de cada um deles.
Ez 1:16
O aspecto das rodas
e a sua
estrutura
eram
brilhantes como o berilo;
tinham
as quatro
a mesma
aparência,
cujo
aspecto e estrutura
eram
como se estivera uma roda
dentro
da outra.
Ez 1:17
Andando elas,
podiam
ir em quatro direções;
e não
se viravam quando iam.
Ez 1:18
As suas cambotas eram altas,
e
metiam medo;
e, nas
quatro rodas,
as mesmas eram cheias de olhos
ao redor.
Ez 1:19
Andando os seres viventes,
andavam
as rodas ao lado deles;
elevando-se eles,
também
elas se elevavam.
Ez 1:20 Para onde o espírito
queria ir,
iam,
pois o
espírito os impelia;
e as
rodas
se
elevavam juntamente com eles,
porque nelas havia o espírito
dos seres viventes.
Ez 1:21
Andando eles,
andavam
elas
e, parando eles,
paravam
elas,
e, elevando-se eles da terra,
elevavam-se
também as rodas juntamente com eles;
porque
o espírito dos seres viventes
estava
nas rodas.
Ez 1:22
Sobre a cabeça dos seres viventes
havia
algo semelhante ao firmamento,
como
cristal brilhante que metia medo,
estendido
por sobre a sua cabeça.
Ez 1:23 Por debaixo do
firmamento,
estavam
estendidas as suas asas,
a de um
em direção à de outro;
cada um
tinha
outras duas asas
com que
cobria o corpo
de um e de outro lado.
Ez 1:24
Andando eles,
ouvi o
tatalar das suas asas,
como o
rugido de muitas águas,
como a
voz do Onipotente;
ouvi o estrondo tumultuoso,
como o
tropel de um exército.
Parando
eles,
abaixavam
as asas.
Ez 1:25 Veio uma voz de cima do
firmamento
que
estava sobre a sua cabeça.
Parando eles,
abaixavam
as asas.
Ez 1:26 Por cima do firmamento
que
estava sobre a sua cabeça,
havia
algo semelhante
a um
trono,
como
uma safira;
sobre
esta espécie de trono,
estava
sentada uma figura
semelhante
a um homem.
Ez 1:27 Vi-a
como
metal brilhante,
como
fogo ao redor dela,
desde os seus lombos
e daí para cima;
e desde
os seus lombos
e daí para baixo,
vi-a
como
fogo
e um
resplendor ao redor dela.
Ez 1:28
Como o aspecto do arco
que aparece na nuvem em dia de
chuva,
assim
era o resplendor em redor.
Esta era a aparência
da glória do SENHOR;
vendo
isto,
caí com
o rosto em terra
e ouvi
a voz de quem falava.
O que vimos nesse capítulo extenso e
complicado de visões espetaculares? Que veio a ele, Ezequiel, a palavra do
Senhor e de forma expressa, isto é, clara, definida, precisa, ligeira; e que ainda sobre ele veio a mão do Senhor.
Ele então descreve a sua visão – o que viu:
a “nave”, os quatro seres viventes, as rodas e seus espíritos, os seus
movimentos, o firmamento e acima do firmamento o trono e a voz do Todo-Poderoso
– e exclama ao final do capítulo que essa era a aparência da glória do Senhor e
que em função disso caiu com o seu rosto em terra.
O que disse a voz, veremos no capítulo
seguinte.
Como estamos falando da glória de Deus, que
fez Ezequiel cair com o seu rosto em terra, achei pertinente e oportuna a
exposição de um texto da BEG sob essa glória, a seguir:
A glória de Deus é a
honra e o esplendor que ele possui desde a eternidade, independentemente de
qualquer coisa que ele receba de volta da sua criação. Nas Escrituras, a glória
de Deus é retratada principalmente pelo resplendor magnífico da manifestação de
Deus. Assim, a própria shekiná, a nuvem resplandecente que podia assumir o
aspecto de fogo (Êx 24.17) era chamada de glória de Deus. Deus apareceu nessa
nuvem de glória em momentos importantes da História (Êx 33.22; 34.5; cf. 16.7,10;
24.15-17; 40.34-35; Lv 9.23-24; 1 Rs 8.10-11; Ez 1.28; 8.4; 9.3; 10.4;
11.22-23; Mt 17.5; Lc 2.9; cf. At 1.9; 1Ts 4.17; Ap 1.7). O resplendor de Deus
é a demonstração visível da maravilha de sua transcendência sobre toda a
criação. Enquanto a "glória" dos seres humanos diz respeito às suas
riquezas e qualidades admiráveis, a glória de Deus é a sua grandeza, o
esplendor e a honra incomparável como Criador de todas as coisas. Davi meditou
sobre essa ideia em ICr 29.10-11. "Bendito és tu, Senhor, Deus de Israel,
nosso pai, de eternidade em eternidade. Teu, Senhor, é o poder, a grandeza, a
honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na
terra; teu, Senhor, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos".
A glória de Deus
também é o propósito para o qual todas as coisas foram criadas. Nas palavras do
apóstolo Paulo, "... dele, e por meio dele, e para ele são todas as
coisas. A ele, pois, a glória eternamente" (Rm 11.36). Todas as coisas têm
corno fim supremo que Deus seja glorificado por meio de sua criação. A natureza
proclama a glória de Deus (SI 8.3-9), a derrota do mal lhe confere honra (1Jo 2.13-14)
e a redenção do seu povo lhe dá grande glória (Ef 1.13-14). Nesse sentido, a
glória de Deus é a finalidade inevitável de todas as coisas.
Glorificar a Deus é a
responsabilidade moral de todos os seres humanos. Nesse sentido, ao honrarmos a
Deus em tudo o que fazemos, o reverenciamos e reconhecemos seu poder, bondade e
dignidade. Com efeito, os seres humanos devem viver em sujeição aos mandamentos
de Deus a fim de reconhecer a sua grandeza incomparável diante de todas as outras
criaturas. Paulo apresenta esse objetivo como a motivação para nossas escolhas
na vida, "... quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer,
fazei tudo para a glória de Deus" (1 Co 10.31). Nas palavras do Breve
Catecismo de Westminster, "O fim principal do homem é glorificar a Deus e
gozá-lo para sempre" (BC 1).
A glória que Deus
recebe dos seres humanos é o tipo de honra mais elevado que a criação pode dar
ao seu Criador. No início, Deus abençoou os seres humanos com "glória e...
honra" (SI 8.5) colocando-nos no mundo como portadores honoráveis da sua
imagem (veja o artigo teológico "Criados à imagem de Deus", em Gn 1).
Nossa queda no pecado maculou a glória da humanidade, mas a nossa redenção em
Cristo culminará com a nossa glorificação em Cristo quando ele voltar (Rm
8.17-23). Como criaturas glorificadas criadas à imagem de Deus, seremos capazes
de honrar ainda mais a Cristo e ao Pai ao qual toda a glória é devida (1 Co 1
5.4 2-44; Ap 5.12). Nas palavras dos reformadores, "Somente a Deus seja a
glória" (soli Deo gloria).
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