Como já dissemos o evangelho de Lucas foi
escrito com o propósito principal de apresentar um relato fiel e organizado
visando estabelecer os fatos a respeito do ministério de Jesus e sua
importância para a história da salvação, além de fornecer parâmetros para a
igreja em sua pregação de arrependimento e perdão em nome de Jesus para todas
as nações. Estamos no capítulo 15, parte IV.
IV. O MINISTÉRIO PÚBLICO DE JESUS: DA GALILEIA À JERUSALÉM (9.51-19.27)
- continuação.
Como já dissemos, até o capítulo 19,
veremos o ministério público de Jesus: da Galileia para Jerusalém. O Evangelho
de Lucas registra a jornada de Jesus em direção a Jerusalém. Não há um paralelo
mais extenso nos outros Evangelhos (embora haja paralelos de algumas seções
individuais). O Evangelho de Lucas apresenta uma caminhada solene até a
capital, onde Jesus morreria pelos pecadores, de acordo com a vontade de Deus.
Assim, nós dividimos essa quarta parte
conforme a BEG em 18 subpartes: A. Ensino sobre discipulado (9.51-10.42) – já vimos; B. Ensino sobre oração
(11.1-13) – já vimos; C. Jesus e os
espíritos maus (11.14-26) – já vimos;
D. Bênção e julgamento (11.27-13.9) – já
vimos; E. A cura de uma mulher no sábado (13.10-17) – já vimos; F O reino de Deus (13.18-14.24) – já vimos; G. Ensino sobre discipulado (14.25-35) – já vimos; H. Três parábolas sobre os
perdidos (15.1-32) – veremos agora;
I. Sobre dinheiro e serviço (16.1-17.10); J. Os dez leprosos (17.11-19); K. A
vinda do reino (17.20-37); L. Parábolas sobre oração (18.1-14); M. Jesus e as
crianças (18.15-17); N. O jovem rico (18.18-30); O. Profecia da Paixão
(18.31-34); P. Devolvendo a visão ao cego (18.35-43); Q. Um cobrador de
impostos chamado Zaqueu (19.1-10); R. A parábola das minas (19.11-27).
Breve síntese do capítulo 15.
Os fariseus e os escribas estavam chateados
por que Jesus estava com os pecadores e lhes dava atenção. Na verdade, queriam
atenção especial para eles, pois afinal de contas eram "melhores" do
que os pecadores e do que os publicanos.
Jesus, ao contrário, não olhava as
aparências dos homens nem se deixava levar pela glória deles, antes se alegrava
quando via um pecador que se arrependia de verdade diante de Deus. A alegria no
céu era tão grande que anjos festejavam.
Lembro-me de Frank E. Peretti - Este Mundo
Tenebroso - narrando a salvação de uma alma. Esse autor nesse romance
atreveu-se a narrar a história contando os fatos como um jornalista e ao mesmo
tempo narrando também os bastidores de todos os atos no âmbito espiritual,
conforme está escrito na Bíblia. Quando ele narra a salvação de uma alma, ele
narra a festa nos céus. Eu gostei muito.
Jesus veio ao mundo não para chamar os
justos, mas os pecadores ao arrependimento e nós agora temos essa missão, essa
nobre missão. Por isso, temos de sair para fora do templo para irmos buscar os
pecadores e lhes dizer que há esperanças para eles!
Vejamos o presente capítulo com mais
detalhes, conforme ajuda da BEG:
H. Três parábolas sobre os perdidos (15.1-32).
Lucas comenta que se achegavam a ele para ouvi-lo
todos os publicanos e todos os pecadores, mas os fariseus e os escribas
murmuravam com inveja, principalmente porque Jesus os recebia e comia com eles.
Então ele pronuncia três parábolas sobre os perdidos.
Lucas reuniu três parábolas sobre os
ensinos de Jesus sobre coisas que estavam perdidas, concentrando a atenção na
misericórdia de Deus em resgatar e receber o seu povo, bem como na atitude
apropriada ao considerar a salvação dos outros.
Os publicanos e os pecadores eram pessoas
que tinham uma conduta imoral ou se ocupavam de coisas que os escribas
consideravam incompatíveis com a observância à lei de Deus.
Uma das prescrições rabínicas era "não
se associar com pecadores", e os rabinos nem sequer ensinavam tais
pessoas. Observe que o cap. 14 termina com "ouça" e o cap. 15 começa
mostrando esses mesmos "pecadores" se reunindo para ouvir Jesus.
A primeira parábola era a das cem ovelhas e
que o pastor perdeu uma delas. Os rabinos concordavam que Deus recebia o
pecador penitente, porém essa parábola ensina que na verdade é Deus quem busca
o pecador e o povo de Deus deve se alegrar com os anjos quando os pecadores se
arrependem.
Na parábola, vemos que o céu nos mostra a
atitude correta que um pecador arrependido deve ter: júbilo (cf. vs. 10). A
proporção aqui foi de 100:1.
A segunda parábola é a das dez dracmas. A
palavra "dracma" ocorre somente no Novo Testamento e apenas nessa
passagem; tratava-se de uma moeda grega feita de prata, cuja unidade
correspondia à quantia paga ao trabalhador por um dia de serviço.
As dez moedas podem ter sido as economias
de uma vida inteira dessa mulher. Ela então acende a candeia. Provavelmente a
casa não tinha janelas (ou talvez fossem pequenas), então era necessário
acender uma candeia mesmo durante o dia.
Novamente – vs. 15 -, o céu nos mostra a
atitude correta que um pecador arrependido deve ter: júbilo (cf. o vs. 7). A
proporção aqui é de 10:1.
A terceira parábola é a do filho pródigo –
vs. 11 ao 32. Talvez fosse mais apropriado chamar a parábola do filho pródigo
de a "parábola do pai que espera".
Conquanto o arrependimento do filho seja
importante nessa parábola, a disposição do pai para perdoar, combinada com
ações inesperadas e graciosas (vs. 20; vs. 22-23), fornece uma ilustração
impressionante do amor paternal de Deus para com os seres humanos
desobedientes.
Também pode ser chamada de "parábola
do irmão insensível", pois um dos propósitos, talvez o propósito
principal, é censurar os fariseus por não terem acolhido em comunhão os
pecadores arrependidos (incluindo os gentios e outros transgressores da lei).
O primogênito tinha direito a dois terços
das propriedades do pai (Dt 21.17). Ocasionalmente, o pai entregava o
patrimônio ao filho, mas retinha o usufruto da renda; ou seja, o pai não podia
se desfazer do patrimônio, mas o filho podia vendê-lo.
Contudo, caso o filho vendesse o
patrimônio, o comprador não podia tomar posse antes da morte do pai. No
entanto, era muito incomum o pai entregar o patrimônio a um de seus filhos,
conforme relatado nessa parábola.
O filho, teimoso, exige a sua parte e sai
pelo mundo a aventurar-se, achando que seus recursos eram ilimitados, no
entanto, ele vai perdendo o controle e quando se dá por si, já não tinha mais o
suficiente nem para comer e beber.
Foi obrigado a aceitar qualquer coisa, para
simplesmente ter onde morar e o que comer. Ele então é colocado para cuidar de
porcos. Eram animais considerados imundos pela lei (Lv 11.7); logo, nenhum
judeu aceitaria um trabalho como esse de boa vontade, e os rabinos consideravam
as pessoas que criavam porcos como amaldiçoadas.
Até a comida dele teve de ser a mesma dos
porcos, ou seja, a alfarroba. O fruto da alfarrobeira, uma vagem de polpa doce.
O motivo pelo qual o filho saiu de casa não
havia sido nada louvável, porém ele fez uma confissão louvável ao reconhecer o
seu pecado e buscar perdão.
Aparentemente, o pai aguardava com
ansiedade o retorno do filho. Nessa época, era considerado indigno um homem
proeminente como o pai sair correndo desse jeito. No entanto, a alegria pelo
retorno do filho fora bem maior. O ato do pai demonstra perdão total e
restauração do relacionamento.
Ele então lhe fornece a melhor roupa, um
sinal de honraria; um anel, significando autoridade (Gn 41.42; Et 3.10; 8.2); sandálias,
uma vez que os escravos andavam descalços, as sandálias indicavam que o filho
tinha a posição de homem livre; um novilho cevado, que era reservado para
ocasiões especiais. Tudo o que o filho havia perdido, ele devolve ao filho
arrependido, restaurando-o completamente em sua casa.
O Pai estava de fato alegre – vs. 24. O pai
e os servos demonstraram a mesma atitude daqueles que acharam a ovelha perdida
(vs. 6) e a moeda perdida (vs. 9): júbilo e celebração. Essa atitude representa
a celebração que acontece nos céus quando um pecador se arrepende (vs. 7, 10)
e, portanto, foi a atitude apropriada para celebrar o retorno do filho. A proporção
nessa história foi de 2:1.
A atitude do filho mais velho ilustra o
espírito depreciativo dos fariseus que se aborreciam com a presença dos
"pecadores" (vs. 1-3), e faz um contraste cabal com a atitude piedosa
de regozijo e celebração (vs. 24).
Da mesma maneira como agiu com o filho mais
novo (vs. 20), o pai tomou a iniciativa para restaurar o relacionamento com o
filho mais velho.
A parábola como um todo aponta para a
soberania de Deus, que busca ativamente pecadores desprezíveis que não estavam
procurando por ele (19.10).
No verso 29, se percebe que havia interesse
no relacionamento do filho mais velho. Essa declaração – vs. 29 - indica que o
filho mais velho encarava o relacionamento com o seu pai na base da recompensa
por comportamento meritório.
Tal como a pai demonstrou amor para com o
seu filho indigno, a salvação não é uma recompensa por boas obras, mas sim
verdadeiramente um dom gracioso de Deus (Ef 2.8-9). Ele chega ao ponto de
cobrar do pai ao menos um cabrito. Um cabrito era bem mais barato do que um
novilho.
No entanto, o pai esclarece que tudo o que era
dele também era do filho. A atitude do filho mais velho o tornou cego para o
relacionamento rico e abençoado que tinha com o seu pai.
No verso 32, o pai não disse "esse
filho meu", pois não queria que o irmão ofendido se esquecesse de que
ambos eram filhos e membros da mesma família.
Lc 15:1 Aproximavam-se de Jesus
todos os
publicanos e pecadores
para
o ouvir.
Lc 15:2 E
murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo:
Este
recebe pecadores e come com eles.
Lc 15:3
Então, lhes propôs Jesus esta parábola:
Lc
15:4 Qual, dentre vós, é o homem que,
possuindo
cem ovelhas e perdendo uma delas,
não
deixa no deserto as noventa e nove
e
vai em busca da que se perdeu,
até
encontrá-la?
Lc
15:5 Achando-a,
põe-na
sobre os ombros, cheio de júbilo.
Lc 15:6 E,
indo para casa,
reúne
os amigos e vizinhos, dizendo-lhes:
Alegrai-vos
comigo,
porque já
achei a minha ovelha perdida.
Lc 15:7
Digo-vos que, assim,
haverá
maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende
do
que por noventa e nove justos
que
não necessitam de arrependimento.
Lc 15:8 Ou
qual é a mulher que,
tendo
dez dracmas, se perder uma,
não
acende a candeia,
varre
a casa
e
a procura diligentemente até encontrá-la?
Lc 15:9 E,
tendo-a achado,
reúne
as amigas e vizinhas, dizendo:
Alegrai-vos
comigo,
porque achei
a dracma
que
eu tinha perdido.
Lc 15:10 Eu
vos afirmo que,
de
igual modo,
há
júbilo diante dos anjos de Deus
por
um pecador que se arrepende.
Lc 15:11
Continuou:
Certo
homem tinha dois filhos;
Lc
15:12 o mais moço deles disse ao pai:
Pai,
dá-me a parte dos bens que me cabe.
E
ele lhes repartiu os haveres.
Lc
15:13 Passados não muitos dias,
o
filho mais moço,
ajuntando
tudo o que era seu,
partiu
para uma terra distante
e
lá dissipou todos os seus bens,
vivendo
dissolutamente.
Lc
15:14 Depois de ter consumido tudo,
sobreveio
àquele país uma grande fome,
e
ele começou a passar necessidade.
Lc 15:15
Então,
ele
foi
e
se agregou a um dos cidadãos daquela terra,
e
este o mandou para os seus campos
a
guardar porcos.
Lc 15:16 Ali,
desejava
ele fartar-se das alfarrobas
que
os porcos comiam;
mas
ninguém lhe dava nada.
Lc 15:17
Então, caindo em si, disse:
Quantos
trabalhadores de meu pai
têm
pão com fartura,
e
eu aqui morro de fome!
Lc 15:18
Levantar-me-ei,
e irei ter
com o meu pai, e lhe direi:
Pai,
pequei contra o céu e diante de ti;
Lc 15:19 já
não sou digno de ser chamado teu filho;
trata-me como
um dos teus trabalhadores.
Lc 15:20 E,
levantando-se,
foi
para seu pai.
Vinha ele
ainda longe,
quando
seu pai o avistou,
e,
compadecido dele,
correndo,
o
abraçou,
e
beijou.
Lc 15:21 E o
filho lhe disse:
Pai,
pequei contra o céu e diante de ti;
já não sou digno
de ser chamado teu filho.
Lc
15:22 O pai, porém, disse aos seus servos:
Trazei
depressa a melhor roupa,
vesti-o,
ponde-lhe
um anel no dedo
e
sandálias nos pés;
Lc
15:23 trazei também e matai o novilho cevado.
Comamos
e
regozijemo-nos,
Lc 15:24
porque este meu filho estava morto
e
reviveu,
estava
perdido
e
foi achado.
E
começaram a regozijar-se.
Lc 15:25 Ora,
o
filho mais velho estivera no campo;
e,
quando voltava,
ao
aproximar-se da casa,
ouviu
a música e as danças.
Lc
15:26 Chamou um dos criados
e
perguntou-lhe que era aquilo.
Lc 15:27 E
ele informou:
Veio
teu irmão,
e
teu pai mandou matar o novilho cevado,
porque
o recuperou com saúde.
Lc
15:28 Ele se indignou e não queria entrar;
saindo,
porém, o pai,
procurava
conciliá-lo.
Lc 15:29 Mas
ele respondeu a seu pai:
Há
tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua,
e
nunca me deste um cabrito sequer
para
alegrar-me com os meus amigos;
Lc 15:30
vindo, porém, esse teu filho,
que
desperdiçou os teus bens
com
meretrizes,
tu mandaste
matar para ele
o
novilho cevado.
Lc
15:31 Então, lhe respondeu o pai:
Meu
filho, tu sempre estás comigo;
tudo
o que é meu é teu.
Lc 15:32
Entretanto,
era
preciso que nos regozijássemos
e
nos alegrássemos,
porque
esse teu irmão estava morto
e
reviveu,
estava
perdido
e
foi achado.
Linda esta
parábola do filho pródigo e do filho que ficou com inveja de seu irmão por
sentir que estava sendo injustiçado.
A temática do
capítulo 15 de Lucas é a busca do perdido. Eu não estou sendo chamado para
buscar o perdido, nem para converter o coração dos incrédulos, mas para lhes
anunciar a palavra de Deus, crendo, piamente, que Deus é poderoso para resgatar
o perdido e converter qualquer coração.
As proporções
das parábolas em busca do perdido foram em ordem decrescente: Primeira (uma ovelha
que se perde): 100x1 – Segunda (uma mulher que perde uma dracma): 10x1 –
Terceira (um pai que perde seu filho): 2:1.
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