Estamos
no penúltimo capítulo de Esdras, na segunda parte onde Esdras deu continuidade
aos trabalhos dos primeiros exilados que regressaram.
Parte
II – O REGRESSO DE ESDRAS E A RECONSTRUÇÃO DO POVO DE DEUS COMO NAÇÃO – 7:1 –
10:44.
B. A reconstrução
do Povo de Deus como nação – 9:1 a 10:44.
A
reconstrução do Povo de Deus como nação, ou seja, dos remanescentes do
pós-exílio ou da nova nação unificada de Israel. Primeiro Esdras se preocupou
com a questão física do templo e agora era a hora de tratar da purificação dos
judeus que haviam regressado.
Também
dividimos essa parte “B”, para melhor compreensão assunto em duas outras
partes. 1. A reação de Esdras aos casamentos mistos – 9:1-15. 2 A reação do
povo a Esdras – 10:1-44.
1. A reação de
Esdras aos casamentos mistos – 9:1-15.
Esdras
ficou sabendo que a maioria dos judeus que regressaram havia se casado com
mulheres de fora do povo de Israel e havia adotado suas práticas religiosas. A reação
de Esdras a essa corrupção da comunidade é enérgica.
Poderemos
perceber na narrativa uma sequência lógica do texto. Primeiro ele recebe a
notícia trágica – vs 1 e 2. Segundo, ele reage a isso e se entristece muito –
vs 3 e 4. Terceiro, ele toma a atitude de buscar ao Senhor e confessar a ele os
pecados de toda a nação – vs 5 ao 15.
No
vs 1, ele diz que acabadas, pois, estas coisas, quatro meses e meio depois da sua
chegada - cf. 8.31; 10.9 - os seus príncipes vieram a ele com uma grave notícia
relacionada aos seus relacionamentos amorosos.
Esdras
havia voltado a Jerusalém como governador e também para ensinar a lei, e,
talvez em resposta ao seu ensino, os líderes o colocaram a par de um pecado que
vinha sendo tolerado há algum tempo a qual era a mistura das raças, mas não se
tratava de algum problema étnico, mas sim religioso, como os versículos
subsequentes indicam (vs. 10-12, confirmados pelo Novo Testamento - I Co 7:39).
Dos
povos relacionados no vs 1, na época de Esdras, somente haviam os amonitas, os
moabitas e os egípcios. Os outros povos citados, cananeus, heteus, ferezeus e
jebuzeus habitavam a Terra Prometida no tempo da conquista. As proibições aos casamentos mistos são
encontrados nos textos bíblicos de Ex 34:10-16; Dt 7:1-4).
Como
já deve ter ficado claro, o problema não era étnico, mas religioso. Podemos nos
misturar a outras raças e culturas, mas o fator das outras religiões pode se constituir
em grande laço tanto ao homem quanto às mulheres, tanto aos mais simples,
quanto aos príncipes e magistrados – vs 2.
A
primeira reação de Esdras aos pecados do povo foi se entristecer e lamentar
pelos judeus. Ele rasga as suas vestes e
o seu manto o qual era uma maneira típica de expressar tristeza profunda – II Sm
13:19 – também foi ao extremo de sua indignação ao arrancar os cabelos da sua cabeça
e também de sua barba – essa expressão de tristeza somente aparece aqui nessa
passagem, em toda a Bíblia. Mais para frente, é curiosos observar que Neemias enfrentará
o mesmo problema, mas em vez de arrancar seus próprios cabelos, arrancará os
cabelos dos seus transgressores - Ne 13:.25.
Em
todo lugar há os remanescentes... aqui há um grupo que não havia se casado com
gente de outras nações se juntou a Esdras em sua dor. Esses judeus haviam
temido ao Senhor e guardado sua lei - Is 66:2. Com ele ficaram – vs 4 – até o sacrifício
da tarde, o qual era realizado por volta das três horas da tarde. Este era um
período não apenas de sacrifício, mas também de oração - Sl 141:2 “Suba a minha oração perante a tua face como
incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde.”.
De
uma tristeza profunda e reflexiva, vem um pedido intercessório de perdão – vs 5
ao 15 - para ele e toda a nação que estava apenas recomeçando e não poderia ser
assim.
Ajoelhado
(humildade) e de mãos estendidas (petição) – vs 5 -, Esdras se derrama como a
cera diante do sol da presença do Senhor.
Aquele
valente e ousado Esdras que teve vergonha de pedir a Artaxerxes proteção para a
viagens de volta – 8:22 - agora, experimenta um outro tipo de vergonha associada
à culpa resultante do pecado. As iniquidades se multiplicaram acima da nossa
cabeça e a nossa culpa cresceu até aos céus, dizia ele em confissão.
Há
uma progressão em sua fala quando primeiro fala de "iniquidade" (a
transgressão da lei) e depois da "culpa" (a condição e os sentimentos
resultantes) que também pode ser comparada, primeiro com o fato de ser "sobre
a nossa cabeça" e depois de ir "até aos céus".
Percebe-se
no texto que Esdras estava profundamente consciente da culpa do povo diante de
Deus. Observe também a mudança repentina de "eu" para "nós"
– “Meu Deus”, “Estou...”, “... porque as nossas”, “...e a nossa culpa...”,
dentro do mesmo parágrafo.
Apesar
de Esdras não ser pessoalmente culpado do pecado específico em questão, ele se
identificou com o povo em seu pecado, como o fez Neemias com referência à usura
– Ne 5:1-13 -, como fez Daniel 9:4-19, e, como faria o servo sofredor – o Messias
- que estava por vir - Is 53:12; II Co 5:21.
A
condição dos judeus que haviam regressado como beneficiários do favor de Deus
estava em risco. A justiça exigia o extermínio total do povo de Deus, - mas a
graça preservou um remanescente. Por meio desse remanescente, o Messias viria e
a redenção seria realizada (Is 1.9;10.20-22).
Assim
como havia sido destruído no passado devido à infidelidade do povo à aliança, o
templo podia ser destruído novamente em decorrência de uma infidelidade pactual
semelhante. No entanto, ali estava o templo que iria receber o Messias e
depois, sim, seria destruído, como profetizado e anunciado pelo próprio Senhor
em sua primeira vinda.
Nunca
foram fieis à aliança ao Senhor, apesar da possibilidade da obediência, por
isso até ao dia de hoje permanecem sem nada do que os levou a ser a nação que
trouxe o Messias ao mundo.
Lamentavelmente,
serão enganados por um falso messias aos quais lhe darão crédito para sua
própria ruina e destruição final. Talvez o próprio templo seja reerguido, mas
somente para as profecias se cumprirem e trazerem pela segunda vez o Messias que
veio e que disse que voltaria.
A
graça de Deus – vs 8 – se manifestou a eles, aos remanescentes e Esdras alude a
isso reivindicando estabilidade (como se fosse mesmo uma estaca, daquelas que
se usavam para fixar as tendas – Is 54:2 – ou para pendurar objetos – Is 22:23)
para assim alumiar os seus olhos – a esperança.
Apesar
de ter sido restaurado à sua terra, o povo de Deus não era politicamente
independente – eles eram servos, vs 9 -, como havia sido durante a monarquia. Mesmo
sendo servos, não desamparou Deus a eles, antes foi misericordioso e favorável
a eles perante os reis da Pérsia. A palavra traduzida como
"desamparou" é o mesmo termo traduzido como "deixamos" no v.
10 e em outros versículos (p. ex., 2Cr 29.6).
A
promessa de Deus de não desamparar a nação era, como todas as bênçãos
tipológicas da aliança mosaica, de ordem condicional – vs 10.5. Se Israel
abandonasse a Deus e a aliança, mostrando-se negligente à lei, perderia o
direito às bênçãos e experimentaria as maldições (Dt 28:20; 29:24-25; 31:16-17).
Por
fim, Deus desertou a nação para executar a sua justiça sobre Israel e para
prefigurar o que acontecerá no dia do julgamento com todos os que se
encontrarem diante de Deus com base em sua própria observância da lei.
Esdras
estava apavorado – vs 10 – pois a nação havia se afastado de modo tão evidente
dos mandamentos de Deus que as maldições da aliança poderiam sobrevir ao povo a
qualquer momento.
Os
versos 11 e 12 são um resumo da teologia da separação encontrada em vários
outros textos – Lv 18:25; Dt 4:5; 7:3; 18:9; 27:23; II Re 21:16 – que enfatiza,
como já dissemos não aspectos étnicos, mas religiosos. Casamentos mistos
poderiam resultar no abandono da adoração ao Deus vivo. Quem primeiro falou do
assunto foi Moisés – Dt 7:1-3 -, mas outros profetas também reiteraram essa
ideia em suas pregações – Mt 2:11,12; 9:13,14.
Ed
9:1 Acabadas, pois, estas coisas, chegaram-se a mim os príncipes, dizendo:
O povo de Israel, os sacerdotes
e os levitas,
não se têm
separado dos povos destas terras,
seguindo
as abominações dos cananeus, dos heteus,
dos
perizeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos
moabitas,
dos egípcios, e dos amorreus.
Ed 9:2 Porque tomaram das suas
filhas para si e para seus filhos,
e assim se
misturou a linhagem santa com os povos dessas
terras;
e até os príncipes e magistrados foram os
primeiros
nesta transgressão.
Ed 9:3 E, ouvindo eu tal coisa,
rasguei as minhas vestes
e o meu manto, e
arranquei os cabelos da minha cabeça
e
da minha barba, e sentei-me atônito.
Ed 9:4 Então se ajuntaram a mim
todos os que tremiam das palavras
do Deus de Israel
por causa da transgressão
dos
do cativeiro; porém eu permaneci sentado
atônito
até ao sacrifício da tarde.
Ed 9:5 E perto do sacrifício da
tarde me levantei da minha aflição,
havendo já
rasgado as minhas vestes e o meu manto, e me pus
de
joelhos, e estendi as minhas mãos
para
o SENHOR meu Deus;
Ed 9:6 E disse:
Meu Deus! Estou
confuso e envergonhado, para levantar a ti
a minha face, meu
Deus; porque as nossas iniquidades
se multiplicaram
sobre a nossa cabeça, e a nossa culpa tem
crescido
até aos céus.
Ed 9:7 Desde os dias de nossos
pais até ao dia de hoje
estamos em grande
culpa, e por causa das nossas iniquidades
somos entregues,
nós e nossos reis e os nossos sacerdotes,
na
mão dos reis das terras, à espada, ao cativeiro,
e
ao roubo, e à confusão do rosto, como hoje se vê.
Ed 9:8 E agora, por um pequeno
momento, se manifestou a graça da
parte do SENHOR,
nosso Deus, para nos deixar alguns que
escapem, e para
dar-nos uma estaca no seu santo lugar;
para
nos iluminar os olhos, ó Deus nosso,
e para nos dar um
pouco de vida na nossa servidão.
Ed 9:9 Porque somos servos;
porém na nossa servidão não nos
desamparou o
nosso Deus; antes estendeu sobre nós a sua
benignidade
perante os reis da Pérsia,
para
que nos desse vida,
para levantarmos
a casa do nosso Deus, e para restaurarmos
as
suas assolações; e para que nos desse uma parede
de
proteção em Judá e em Jerusalém.
Ed 9:10 Agora, pois, ó nosso
Deus, que diremos depois disto?
Pois deixamos os
teus mandamentos,
Ed 9:11 Os quais mandaste pelo
ministério de teus servos, os profetas,
dizendo: A terra
em que entrais para a possuir, terra imunda
é
pelas imundícias dos povos das terras, pelas suas abominações com que,
na sua corrupção
a
encheram, de uma extremidade à outra.
Ed 9:12 Agora, pois, vossas
filhas não dareis a seus filhos,
e suas filhas não
tomareis para vossos filhos,
e
nunca procurareis a sua paz e o seu bem;
para
que sejais fortes, e comais o bem da terra,
e
a deixeis por herança a vossos filhos para sempre.
Ed 9:13 E depois de tudo o que
nos tem sucedido por causa das nossas
más obras, e da
nossa grande culpa, porquanto tu,
ó
nosso Deus, impediste que fôssemos destruídos,
por
causa da nossa iniquidade,
e
ainda nos deste um remanescente como este.
Ed 9:14 Tornaremos, pois, agora
a violar os teus mandamentos
e a aparentar-nos
com os povos destas abominações?
Não te indignarias
tu assim contra nós até de todo nos
consumir,
até que não ficasse remanescente
nem
quem escapasse?
Ed 9:15 Ah! SENHOR Deus de
Israel, justo és, pois ficamos
qual um
remanescente que escapou, como hoje se vê;
eis
que estamos diante de ti, na nossa culpa,
porque
ninguém há que possa estar
na
tua presença, por causa disto.
O
exílio, como já falamos, foi uma execução da justiça divina e a restauração do
povo de Deus, com os remanescentes, se deu com base na sua graça e na promessa
da aliança abraâmica – Dt 4:25 a 31.
O
temor de Esdras, e estava ele certo em seu modo de pensar, era que a
transgressão presente da aliança pudesse resultar em um julgamento definitivo
do povo de Deus. De fato, o julgamento novamente aconteceu destruindo toda a nação
– Lc 20:9-19; Hb 8:13 -, mesmo assim, ainda houve um outro remanescente
escolhido pela graça soberana de Deus – Rm 11:1-5.
Esdras,
no verso 15, parece cansado e desanimado, sabendo que a justiça viria sobre
eles apesar de tudo, por isso que não se nota nele nenhuma esperança. Ele não
pede perdão nem restauração, pois já crê piamente que a justiça prevalecerá e o
juízo de Deus será inevitável. No entanto, como bem salienta a BEG, “onde
abundou o pecado, superabundou a graça” – Rm 5:20.
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Paulo Freire – Uma avaliação relâmpago
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É sempre surpreendente, para mim, ver que a maioria das referências feitas
ao professor Paulo Freire (1921-1997) são benevolentes e eivadas de
admiração. ...
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-
A doutrina Calvinista é a mais bela expressão do ensino bíblico
transmitida a nós pelo seu maior representante - João Calvino. É claro, a
de se ori...
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