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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Hebreus 1 1-14 - HEBREUS EXALTA CRISTO - A REVELAÇÃO FINAL DE DEUS.

A epístola de Hebreus foi escrita, provavelmente, antes de 70 d.C., com a finalidade de incentivar a fidelidade a Cristo e à sua nova aliança mostrando que ele é o novo, último e superior sumo sacerdote. Estamos vendo o capítulo 1/13.
Breve síntese do capítulo 1.
Não sabemos amados quem é o autor de Hebreus, mas que deve ter andado com Paulo parece, se não for o próprio Paulo. Seu raciocínio e forma de falar e argumentar lembra muito o amado apóstolo dos gentios. Uma coisa é certa: o Espírito Santo está nesse negócio e é Palavra de Deus.
Hebreus foi escrita com o propósito de incentivar a fidelidade a Cristo e à sua nova aliança mostrando que:
­   Ele é o novo, último e superior sacerdote e assim, em Hebreus, Cristo é superior aos anjos, Moisés, Arão e ministério sacerdotal do AT.
­   O AT admitiu o caráter temporário onde a nova aliança de modo algum lhe é contrária.
­   Cristo não pode ser deixado para trás pela troca por tipos obsoletos de fé sem que isso leve ao julgamento divino.
­   As pessoas da igreja devam perseverar até o fim em fidelidade a Cristo ou irão sofrer o castigo divino.[1]
Vejamos o presente capítulo com mais detalhes, conforme ajuda da BEG:
I. CRISTO É SUPERIOR AOS ANJOS (1.1-2.18).
A revelação feita por Cristo, o filho de Deus, é superior à revelação dada a Moisés pelos anjos. A epístola começa com um enfoque sobre as maneiras em que Cristo é maior que os anjos.
Esse material está dividido em quatro partes principais: a revelação maior no filho de Deus (1.1-4), o Antigo Testamento testifica da superioridade de Cristo (1.5-14), uma exortação a ser fiel ao Filho de Deus (2.1-4) e o Filho de Deus e seus irmãos (2.5-18). Elas gerarão a seguinte divisão proposta, conforme a BEG: A. A última e melhor Palavra de Deus em seu Filho (1.1-4) – veremos agora; B. Testemunho bíblico da grande honra do Filho (1.5-14) – veremos agora; C. Exortação para apegar-se ao Filho (2.1-4); D. O Filho e seus irmãos (2.5-18). 
A. A última e melhor Palavra de Deus em seu Filho (1.1-4).
A última e melhor Palavra de Deus em seu Filho é o que vemos no prólogo que declara que Cristo é superior aos anjos porque ele é a revelação final de Deus.
Deus sempre falou, fala e sempre falará, mas, conforme o vs. 1, havendo Deus, outrora, falado - um importante tema em Hebreus (2.2-3; 4.12; 6.5; 11.3; 12.25) - muitas vezes, ou seja, o autor referiu-se a dois períodos de tempo: "outrora" (vs. 1) e "nestes últimos dias" (vs. 2).
O primeiro refere-se aos tempos do Antigo Testamento; o último, ao período do Novo Testamento.
Assim como no restante do Novo Testamento, a vinda de Cristo marca o nosso atual período de tempo como os "últimos dias" de salvação que os profetas predisseram que se seguiriam ao exílio (9.26; veja também Dt 4.30; Is 2.2; Jr 23.20; 1Co 10.11). Sugerimos a leitura e a reflexão no excelente artigo teológico "O plano das eras", em Hb 7.
Essas muitas maneiras que Hebreus fala que Deus falou outrora incluem sua fala aos homens e aos profetas, por meio de sua própria voz em teofanias, visões, sonhos, enigmas (Nm 12.6-8; aludido em 3.5).
O caráter gradativo da revelação profética mostrava a sua imperfeição, assim como a repetição dos sacrifícios de animais mostrava que eles não poderiam eliminar a culpa (10.1).
Deus havia falado por meio dos profetas, principalmente, mas agora ele estaria a falar pelo seu próprio filho – vs. 2. Dizer que qualquer outra revelação era superior à revelação do Antigo Testamento constituía-se num afastamento radical do judaísmo tradicional do século 1.
No entanto, até mesmo Moisés, o grande porta-voz de Deus, era somente um profeta, um simples servo na casa de Deus.
Jesus foi "como Filho, em sua [de Deus] casa" (3.6). O Filho fala, do mesmo modo como falavam os profetas, mas com maior autoridade e finalidade. Ele é o herdeiro de todas as coisas.
A supremacia do Filho será manifestada no final da História, pois "tudo foi criado por meio dele e para ele" (Cl 1.16). Ele é o Primogênito (vs. 6), o herdeiro preeminente, cujos inimigos serão colocados por estrados dos seus pés (vs. 13, citando o SI 110.1).
Como filhos de Deus por meio de Jesus, também somos herdeiros (vs. 14; 6.12,1 7; Rm 8.14-1 7; GI 4.6-7).
Por meio desse Filho, ele agora estaria nos falando. Ele é o herdeiro de todas as coisas e por meio dele é que todo o universo - literalmente "eras" (usado também em 11.3), realçando os períodos sucessivos da História na ordem criada (veja também os vs. 10-12) - foi feito.
A supremacia do Filho também foi manifestada no início da História, pois "nele, foram criadas todas as coisas" (CI 1 16; veja também Jo 1.3).
Ele, o Filho, é o resplendor da glória – vs. 3. A glória de Deus é o seu resplendor; Jesus, portanto, é Deus, a manifestação da sua gloriosa divindade (para melhor compreensão, veja o excelente artigo teológico da BEG: "A glória de Deus", em Ez 1).
Ele, o Filho, é a expressão exata do seu Ser. Esse versículo expressa tanto a unidade da essência do Filho com o Pai como a distinção das pessoas divinas.
Como Aquele cujo ser corresponde exatamente ao Pai, o Filho revela exatamente o Pai. Cristo é a "imagem do Deus invisível" (Cl 1.15); por meio dele, nós vemos o Pai (Jo 14.9; 2Co 4.4-6).
É ele também o sustentador de todas as coisas criadas pela palavra do seu poder. O universo não é sustentado pelo seu próprio poder ou mesmo por leis naturais originalmente designadas por Deus, mas pelo próprio Deus, na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo.
Nos processos complexos da providência divina, o Filho mantém a ordem criada (Cl 1.17; 2Pe 3.4-7), preservando-a da destruição até o dia em que a sua voz irá renovar o universo e estabelecer o reino universal de Deus e seus herdeiros (12.26-28).
No texto – vs. 3 – depois de ele ter feito a purificação dos pecados, foi que se assentou. O autor mudou para o tempo passado pelo fato de Cristo já ter alcançado a purificação dos pecados mediante a sua morte expiatória.
Essa purificação é continuamente oferecida aos cristãos por meio da incessante intercessão sacerdotal de Cristo, o qual nos purifica para adorarmos na presença de Deus (7.25; 9.14).
Sim, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas. A entronização do Filho à "direita" de Deus nas alturas, prometida no Sl 110.1 (citado no vs. 13), revela a sua superioridade em duas maneiras:
(1)   À "direita" da Majestade, Cristo ministra no santuário verdadeiro e celestial, não numa cópia terrena (8.1-2,5).
(2)   Cristo "assentou-se" porque ele morreu uma única vez para todo o sempre (ao contrário das ofertas contínuas dos levitas, 10.11-12, no sacerdócio terreno).
Por isso que ele é superior aos anjos. Isso é comprovado pela série de citações do Antigo Testamento que se seguem (vs. 5-14). Assim também, ele herdou mais excelente nome. O Filho eterno se tornou um ser humano para nos resgatar do pecado e da morte (2.14-15).
Depois de passar por um período de humilhação na terra, ele foi ressuscitado como o Messias de Israel e recebeu o título real "Filho" de Deus na sala do trono celestial (1.5; 2.10-11; Rm 1.3-4).
B. Testemunho bíblico da grande honra do Filho (1.5-14).
Dos vs. 5 ao 14, veremos o testemunho bíblico da honra maior do Filho. A crença cristã na superioridade de Cristo acima de toda a revelação anterior foi antecipada pelo Antigo Testamento.
O autor apontou para diversas passagens que indicam que o grande Filho de Davi seria exaltado acima de todos os outros.
No vs. 5, está escrito que ele era seu Filho e que hoje o havia gerado. Isso refere-se a SI 2.7, no qual Davi, rei de Israel, é declarado o filho real de Deus na sua coroação.
Essa coroação estabeleceu um padrão que Jesus cumpriu como o último Filho de Davi.
A segunda pessoa da Trindade é (e tem sido desde a eternidade) o eterno Filho de Deus; não houve um tempo no qual ele se tornou o Filho do Pai nesse sentido (Mc 1.11; Jo 1.1; 3.16).
No entanto, Deus Pai declarou que Jesus era seu Filho real na ocasião do batismo de Jesus (Mt 3.17), na sua transfiguração (Mt 17.5) e na sua ressurreição (At 13.32-35; Rm 1.4).
Na sua ascensão, Jesus foi entronizado no céu (vs. 3-4; veja ainda o excelente artigo teológico da BEG: "A ascensão de Jesus", em Hb 8).
A entronização anunciada em SI 2.7 foi outorgada a Cristo na conclusão de sua obra redentora.
E ainda outra vez diz “Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho” – vs. 5. Uma referência também a 1 Cr 17.13 (2Sm 7.14), onde Deus prometeu manter o seu relacionamento paternal com o descendente de Davi.
Essa promessa não se referia diretamente a Jesus porque 2Sm 7.14 acrescenta a frase "se vier a transgredir", o que Jesus nunca fez e nunca poderia fazer (para isso ficar melhor compreensível, recomendamos a leitura e a reflexão do excelente artigo teológico da BEG: “A impecabilidade de Jesus", em Hb 4).
Em vez disso, o padrão estabelecido no Antigo Testamento para os filhos de Davi encontra o seu cumprimento definitivo em Jesus, o grande Filho de Davi. Aos filhos fiéis de Davi foi prometido o amor paternal de Deus. Como o absolutamente perfeito filho de Davi, Jesus será para sempre o objeto de amor do Pai.
Como o Filho condescendeu em assumir a nossa natureza humana, anjos o adoraram (Lc 2.13-14), como está escrito no vs. 6.
Ele é ainda o primogênito introduzido no mundo. Em SI 89.27, o termo primogênito significa "da mais alta posição" (ou seja, acima dos reis da terra, não o primeiro na ordem de nascimento). Em Êx 4.22 significa "eleito" ou "o mais desejado".
Quando ele diz o que está nas Escrituras que “Todos os anjos o adorem”, isso, provavelmente vem da tradução grega (Septuaginta) de Dt 32.43, embora também lembre SI 97.7. De qualquer maneira, a referência no Antigo Testamento é a anjos adorando a Jeová. Ao aplicar essas palavras a Jesus, o autor indicou que cria na plena divindade de Cristo.
Depois, no vs. 7, ele faz uma referência ao SI 104.4. "Ventos" (um termo grego que também pode ser traduzido como "espíritos", como no vs. 14) e “labareda" associam os anjos com a mutabilidade do mundo criado em contraste com a eternidade do Filho (vs. 10-12).
A ideia principal é que os anjos estão muito abaixo do último e real filho de Davi que está sentado no trono celestial. Em contraste com a entronização do Filho (vs. 8-9), os anjos são simplesmente "servos".
Quando ele diz a respeito do Filho "O teu trono, ó Deus, subsiste para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu Reino. Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros, ungindo-te com óleo de alegria" ele está se referindo ao SI 45.6-7, onde a celebração de um casamento real idealizava a casa de Davi e, desse modo, antecipava a realidade que viria com o último Filho, Jesus.
Aquele que se refere ao verdadeiro Filho com as palavras: "ó Deus" é ele mesmo "Deus, o teu Deus" (veja ainda o excelente artigo teológico "Jesus Cristo, Deus e homem", em Jo 1).
A respeito da obediência e justiça do Filho, veja 4.15; 5.8; 7.26. A perfeita obediência de Jesus tornou-o muito superior não somente aos anjos, mas a todos os outros filhos de Davi.
Nos vs. 10 a 12, ele cita o SI 102.25-27, outra passagem (veja o vs. 6) que fala de Jeová que é aplicada a Jesus por causa de sua plena divindade.
"No princípio, Senhor, firmaste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos.
Eles perecerão, mas tu permanecerás; envelhecerão como vestimentas.
Tu os enrolarás como um manto, como roupas eles serão trocados. Mas tu permaneces o mesmo, e os teus dias jamais terão fim".
Hebreus 1:10-12
Tudo o que foi criado, no seu devido tempo, envelhecerá, porém, Deus permanece o mesmo para sempre. Trata-se da imutabilidade e da existência eterna do Filho como Deus que são essenciais para o seu caráter divino.
Por meio dele, a herança dos cristãos "permanecerá" para sempre (veja 10.34; 12.27-28; 13.14). As promessas de Deus para nós são tão tremendas que não deveríamos nos abalar pelas coisas desta vida, totalmente passageiras e, muitas das vezes, apenas contingenciais, pontuais, como a satisfação de desejos e vontades passageiras do corpo e da alma.
A posição de autoridade celestial do Filho (vs. 3; 8.1) é contrastada com as funções dos anjos como "servos" para "dos que hão de herdar a salvação" (vs. 14; ou seja, o povo do Filho que compartilha pela graça os seus direitos como herdeiros; vs. 2,5; 2.10; 6.12).
Os anjos são servos de Cristo, mas também do povo de Cristo que recebe dele a salvação. Nesse sentido, o seu povo é favorecido acima dos anjos (cf. 2.16; 1Co 6.3).
Quando ele diz no vs. 13, em forma de pergunta, se referindo ao Filho, como uma fala que jamais foi falada aos anjos "Senta-te à minha direita, até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés" ele está fazendo uma referência ao SI 110.1, outro salmo real que confirma as promessas para a casa de Davi. Somente Jesus recebeu essas promessas totalmente porque só ele e o Filho fiel e verdadeiro.
Esse salmo é citado ou é feita alusão a ele várias vezes – mais de dez -  em Hebreus (5.6,10; 6.20; 7.3,11,17,21; 8.1; 10.10-13; 12.2).
Ele conclui que os anjos são todos ministradores enviados – vs. 14 - para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação. Não apenas são os anjos subordinados ao Filho divino, mas eles também irão servir os seres humanos no mundo vindouro. Esse fato torna evidente que Cristo é superior aos anjos.
Hb 1:1 Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas,
Hb 1:2 nestes últimos dias,
nos falou pelo Filho,
a quem constituiu herdeiro
de todas as coisas,
pelo qual também fez o universo.
Hb 1:3 Ele, que é
o resplendor da glória
e a expressão exata do seu Ser,
sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,
depois de ter feito a purificação dos pecados,
assentou-se à direita da Majestade,
nas alturas,
Hb 1:4 tendo-se tornado tão superior aos anjos
quanto herdou mais excelente nome do que eles.
Hb 1:5 Pois a qual dos anjos disse jamais:
Tu és meu Filho, eu hoje te gerei?
E outra vez:
Eu lhe serei Pai,
e ele me será Filho?
Hb 1:6 E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz:
E todos os anjos de Deus o adorem.
Hb 1:7 Ainda, quanto aos anjos, diz:
Aquele que a seus anjos faz ventos,
e a seus ministros, labareda de fogo;
Hb 1:8 mas acerca do Filho:
O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre;
e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino.
Hb 1:9 Amaste a justiça
e odiaste a iniqüidade;
por isso, Deus, o teu Deus,
te ungiu com o óleo de alegria
como a nenhum dos teus companheiros.
Hb 1:10 Ainda: No princípio, Senhor,
lançaste os fundamentos da terra,
e os céus são obra das tuas mãos;
Hb 1:11 eles perecerão;
tu, porém, permaneces;
sim, todos eles envelhecerão qual veste;
Hb 1:12 também, qual manto, os enrolarás,
e, como vestes, serão igualmente mudados;
tu, porém,
és o mesmo,
e os teus anos jamais terão fim.
Hb 1:13 Ora, a qual dos anjos jamais disse:
Assenta-te à minha direita,
até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés?
Hb 1:14 Não são todos eles espíritos ministradores,
enviados para serviço
a favor dos que hão de herdar a salvação?
Cristo é superior! Deus, o Pai celeste, apontou também para Cristo como João Batista que disse: eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e o Pai disse do filho: - este é meu Filho amado, a ele ouvi!
Nas palavras de meu irmão de carne e sangue e também em Cristo Jesus, João Carlos Barreto, “o livro aos Hebreus é um excelente livro, ele não me chamava muito a atenção, mas ultimamente passei a ter grande interesse por ele. É um livro muito profundo, o autor, muito sábio, sabia, como ninguém, fazer a relação, ou na linguagem de hoje fazer o 'link', entre o Velho Testamento e o Novo Testamento.
Ele utiliza o Velho, para explicar o novo. Jesus veio trazer algo novo. O Novo completa o Velho, o Novo é o cumprimento do Velho, o Novo é explicado através do Velho. É um livro para explicar o novo aos judeus, e por tabela a nós. De fato, é um livro para converter judeus e gentios, principalmente os judeus.
O autor, ninguém sabe quem foi; não é o Apóstolo Paulo, porque não traz o seu estilo; provavelmente foi Apolo, um homem que a Bíblia menciona, mostrando que ele era um homem muito erudito, muito culto, muito sábio.
Na eternidade saberemos quem o escreveu. Saberemos até o que Jesus escrevia na areia, quando lhe trouxeram a mulher acusada de adultério...”
A Deus toda glória! p/ pr. Pr. Daniel Deusdete. 


[1] Características ou verdades fundamentais em Hebreus conforme a BEG.

...
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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Filemon 1-25 - AMIGO DE VERDADE

Carta escrita por Paulo, cerca de 60 d.C., para interceder em favor de Onésimo, um escravo fugitivo.
Breve síntese da carta.
Tudo está nas mãos de Deus! Aqui Paulo é intercessor e que intercessor. Ele fala se dirigindo a Filemom cuja epistola ganhou o nome, mas não é somente a Filemom que se dirige em sua intercessão, mas também a irmã Áfia, provável esposa de Filemom e a Arquipo e à igreja que se reúne em sua casa (ou na casa de Filemom ou na casa de Arquipo).
Sua intenção é obter o favor deles para com a pessoa de Onésimo que outrora fora um fugitivo, mas agora servo e servo de Cristo útil no ministério que provavelmente tinha medo de retornar a seu senhor e sofrer danos.
Paulo usa a pena como hábil escritor e com isso consegue penetrar o coração daqueles a quem se dirigia e com argumentos profundos e penetrantes faz sua solicitação irrecusável.
I. SAUDAÇÕES INICIAIS (1-3).
Paulo se identifica como o autor e Filemom como o destinatário principal da carta.
Paulo identificou-se, junto com Timóteo, como o autor. Ele escreveu a Filemom como o principal destinatário da carta e enviou saudações a muitos outros.
Paulo sabia que estava preso pelo fato de se posicionar em favor de Cristo e do evangelho (cf. Fp 1.7), no entanto, não se dizia vítima do sistema ou que estava ali injustamente, pelo contrário, considerava-se ali por que Deus assim o queria! A amizade que havia entre Paulo e Filemom permitia que Paulo escrevesse abertamente sobre a delicada questão de Onésimo.
Áfia – vs. 2 – era provavelmente a esposa de Filemom. Ela poderia ter alguma influência no modo como Onésimo seria tratado no ou retomo.
Arguipo, a quem ele também se dirige, talvez fosse um pastor local em Colossos. E a igreja era aquela que provavelmente se reunia na casa de Arquipo, embora também seja possível entendermos que as reuniões acontecessem na casa de Filemom.
O fato de Paulo ter a intenção de que Arquipo e a igreja soubessem do conteúdo da carta, provavelmente indica que ele esperava que eles considerassem Filemom responsável por atender ao pedido que ele estava fazendo.
Ele os saúda com a graça e a paz e a forma no plural “vos” pode significar que foi endereçado a Filemom, Afia, Arquipo e à igreja.
II. AÇÃO DE GRAÇAS (4-7).
Paulo agradece a Filemom pelo amor aos cristãos demonstrado no passado.
Depois de sua saudação inicial, Paulo dá graças a Deus dos vs. 4 ao 7. Paulo reconhecia e estimava muito a maneira como Filemom, no passado, havia se comportado de modo amoroso com relação aos companheiros cristãos, especialmente porque isso lhe dava a esperança de que Filemom agiria da mesma maneira em relação a Onésimo.
Paulo relatou, pela sua oração, o grande motivo de sua alegria pela amizade de Filemom (ou seja, pelo laço comum da fé em Cristo). As cartas de Paulo geralmente contém seções de ação de graças (Fp 1,3.6; Cl 1.3-6).
A reputação de Filemom de amar os companheiros cristãos fez com que Paulo também acreditasse que Filemom mostraria o amor e a misericórdia em relação a Onésimo. Como Filemom havia sido uma bênção para o povo de Deus, seu amor e compaixão eram evidentes e se mostrariam favoráveis à sua causa.
III. PAULO INTERCEDE POR ONÉSIMO (8-21).
Paulo pede que Filemom perdoe o crime do seu escravo fugitivo, Onésimo, e o receba de volta como um irmão em Cristo.
Dos vs. 8 ao 21, veremos que Paulo foi direto ao pedir que Filemom mostrasse compaixão quando o seu escavo fugitivo retornasse. Paulo solicitou que Filemom recebesse Onésimo como um irmão em Cristo e que não o castigasse pelo seu crime.
Usando sua autoridade como apóstolo, Paulo poderia exigir que Filemom recebesse Onésimo como um irmão sem reprimi-lo nem discipliná-lo. Paulo, portanto, deixou claro a Filemom que uma atitude contrária ao seu conselho poderia ser pecaminosa.
Paulo queria que Filemom escolhesse fazer a coisa certa, em vez de ser compelido a isso. Isso foi para beneficiar Filemom, pois provavelmente era recompensado por Deus por causa da sua decisão amorosa. (Cf. I Co 9.17).
Paulo sentia afeção por Onésimo porque o havia dado à luz espiritual quando Onésimo o visitou na prisão. Paulo expressou esse tipo afeição também em outras ocasiões (I Co 4.15; Gl 4.19; 1Ts 2.7,11).
Paulo fez um jogo de palavras no vs. 11 ao se referir à sua utilidade/inutilidade. O nome Onésimo significa “útil”. Como um escravo rebelde, Onésimo não havia sido útil, mas como tinha se arrependido da sua rebeldia e se tomado obediente a Cristo, havia se tomado útil tanto para Paulo como para Filemom.
Paulo falou sobre Onésimo nos termos mais emocionais possíveis. A palavra grega para “coração" – vs. 12 - indica a base dos sentimentos. Paulo conclui que se Onésimo fosse maltratado, ele (Paulo) seria profundamente afetado. Era comum que, ao retornarem para seus donos, os escravos fugitivos eram surrados e/ou obrigados a trabalhar de modo tão intenso que a expectativa de vida deles era reduzida.
Paulo solicitou que Filemom não somente perdoasse Onésimo, mas também que o enviasse de volta para que pudesse ajudá-lo e servi-lo enquanto estava preso. A defesa de Paulo por Onésimo era brilhante e deixava Filemom sem saída. No entanto, não queria que isso fosse uma coação, mas um ato voluntário de Filemom após meditar em tudo o que Paulo dizia.
Paulo não desculpava o crime de Onésimo de ter fugido, mas vê a providência divina até mesmo no pecado de Onésimo (cf. Gn 45.4-9; At 4.27-28; Rm 8.28).
A relação entre Filemom e Onésimo seria diferente agora, porque Onésimo era considerado um companheiro cristão.
Nos vs. 17-19, Paulo chegou ao ponto principal do pedido para que Filemom recebesse Onésimo como um irmão cristão. Paulo sabia que poderia suplicar o amor e o perdão de Filemom porque Filemom tinha recebido o perdão de Deus.
O amor de Deus que habita nos cristãos transforma os seus relacionamentos.
Seguindo o exemplo de Cristo e demonstrando a profundidade do amor por Onésimo, Paulo se ofereceu como um substituto por Onésimo. Isso colocou Filemom numa posição ainda mais complicada: dar a mesma punição para o amado apóstolo Paulo caso de se recusasse a mostrar compaixão por Onésimo.
Essa maneira de agir seria prejudicial para igreja, o que deixava Filemom sem alternativa a não ser escolher fazer a coisa certa. Paulo evidentemente havia sido aquele que converteu Filemom; portanto, num sentido real, Filemom devia a Paulo a sua vida eterna.
Para o bem de Onésimo, Paulo chamou isso de dívida. A técnica poderosa e persuasiva encontrada nesses versículos indica o profundo amor de Paulo por Onésimo e sua determinação em fazer com que Filemom agisse igualmente de maneira amorosa em relação ao escravo.
IV. PEDIDOS FINAIS E CONCLUSÃO (22-25).
Paulo, na confiança de que poderia ser libertado da prisão, pede que Filemom prepare uma pousada para ele e termina com as saudações finais.
Paulo faz suas saudações finais demonstrando esperança quanto à restauração da igreja em Colossos.
No vs. 22 percebe-se que Paulo esperava ser liberto da prisão, o que parece ter realmente acontecido. Agora, se ele voltou para Colossos ou não, nós não sabemos.
Paulo envia a eles saudações por parte de Epafras, seu companheiro de prisão por Cristo Jesus, de Marcos, de Aristarco, de Demas e de Lucas, seus cooperadores.
Finaliza a sua carta com a costumeira graça de nosso Senhor Jesus Cristo desejando que a mesmo fosse com o espírito deles. Amém.
Fm 1:1 Paulo,
prisioneiro de Cristo Jesus,
e o irmão Timóteo,
ao amado Filemom,
também nosso colaborador,
Fm 1:2 e à irmã Áfia,
e a Arquipo,
nosso companheiro de lutas,
e à igreja que está em tua casa,
Fm 1:3 graça e paz a vós outros,
da parte de Deus, nosso Pai,
e do Senhor Jesus Cristo.
Fm 1:4 Dou graças ao meu Deus,
 lembrando-me, sempre, de ti nas minhas orações,
Fm 1:5 estando ciente do teu amor
e da fé que tens
para com o Senhor Jesus
e todos os santos,
Fm 1:6 para que a comunhão da tua fé
se torne eficiente no pleno conhecimento de todo bem
que há em nós,
para com Cristo.
Fm 1:7 Pois, irmão, tive grande alegria e conforto no teu amor,
porquanto o coração dos santos tem sido
reanimado por teu intermédio.
Fm 1:8 Pois bem, ainda que eu sinta plena liberdade em Cristo
para te ordenar o que convém,
Fm 1:9 prefiro, todavia, solicitar em nome do amor,
sendo o que sou,
Paulo, o velho
e, agora,
até prisioneiro de Cristo Jesus;
Fm 1:10 sim, solicito-te em favor de meu filho
Onésimo, que gerei entre algemas.
Fm 1:11 Ele, antes, te foi inútil;
atualmente, porém, é útil, a ti e a mim.
Fm 1:12 Eu to envio de volta em pessoa,
quero dizer, o meu próprio coração.
Fm 1:13 Eu queria conservá-lo comigo mesmo para, em teu lugar,
me servir nas algemas que carrego
por causa do evangelho;
Fm 1:14 nada, porém, quis fazer sem o teu consentimento,
para que a tua bondade
não venha a ser como que por obrigação,
mas de livre vontade.
Fm 1:15 Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti temporariamente,
a fim de que o recebas para sempre,
Fm 1:16 não como escravo;
antes, muito acima de escravo,
como irmão caríssimo,
especialmente de mim
e, com maior razão, de ti,
quer na carne,
quer no Senhor.
Fm 1:17 Se, portanto, me consideras companheiro,
recebe-o, como se fosse a mim mesmo.
Fm 1:18 E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa,
lança tudo em minha conta.
Fm 1:19 Eu, Paulo, de próprio punho, o escrevo:
Eu pagarei - para não te alegar
que também tu me deves até a ti mesmo.
Fm 1:20 Sim, irmão, que eu receba de ti, no Senhor, este benefício.
Reanima-me o coração em Cristo.
Fm 1:21 Certo, como estou, da tua obediência,
eu te escrevo, sabendo que farás mais do que estou pedindo.
Fm 1:22 E, ao mesmo tempo,
prepara-me também pousada,
pois espero que,
por vossas orações,
vos serei restituído.
Fm 1:23 Saúdam-te Epafras,
prisioneiro comigo,
em Cristo Jesus,
Fm 1:24 Marcos, Aristarco, Demas e Lucas,
meus cooperadores.
Fm 1:25 A graça do Senhor Jesus Cristo
seja com o vosso espírito.
Paulo em sua argumentação muitas vezes lembra do tema prisioneiro de Cristo junto com outros irmãos também prisioneiros de Cristo. Um dia desses eu ia para meu trabalho chateado, mas lembrei-me de Paulo e me veio ao espírito: Pr. Daniel Deusdete, o empregado de Cristo... naquele momento acabaram-se as queixas e as razões e passei a glorificar ao Senhor.
A Deus toda glória! p/ pr. Pr. Daniel Deusdete. 
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

R. C. SPROUL - RAZÃO PARA CRER - E O ÍNDIO E AQUELE QUE NUNCA OUVIU A MENSAGEM DO EVANGELHO?

“E o Índio que Nunca Ouviu o Evangelho? Este Coitado Vai para o Inferno?”
[O TEXTO A SEGUIR FOI EXTRAÍDO DO CAPÍTULO 3 DO LIVRO RAZÃO PARA CRER DE SPROUL - Recomendamos a sua aquisição. Excelente livro para termos em nossas bibliotecas]
Como professor de teologia, vejo-me sempre à frente de um bombardeio regular de perguntas por parte de meus alunos. Embora nunca tivesse usado u computador para contá-las, estou convencido de que uma delas encabeça a lista em termos de frequência numérica. A pergunta repetida várias vezes é esta: “O que acontece com o índio inocente que jamais ouviu falar de Cristo?”. Essa indagação uma preocupação profunda com a pessoa que habita em partes remotas da terra, distanciadas dos modernos meios de comunicação. Esse indivíduo vive e morre sem ouvir uma única palavra da mensagem bíblica. Qual a posição do mesmo perante Deus?
Qual a razão da frequência dessa pergunta? Por que tantos estudantes se veem perseguidos por ela? É possível que vários fatores estimulem o pedido de informação. Em primeiro lugar, os habitantes do mundo ocidental tem suficiente conhecimento do cristianismo para saber qual motivo central do amor de Deus. Acrescenta-se a isso a noção comum de que no âmago da fé cristã encontra-se a afirmação da importância singular da pessoa e obra de Cristo. Se Cristo é o único e necessário para a salvação, como poderá alguém aproveitar-se dessa redenção se não tiver conhecimento dela? Se Deus tem tanto amor, por que Ele não ilumina os céus com uma mensagem celestial transmitida tão claramente que ninguém possa deixar de vê-la? Por que as “boas novas” da salvação em Cristo ficam limitadas àquelas culturas que tem acesso às mesmas?
A pergunta  não é incentivada apenas por questões de teologia especulativa, mas também por um espírito de compaixão humana. Caso a compaixão resida em nosso íntimo, devemos interessar-nos sempre por aqueles que vivem em circunstâncias menos privilegiadas que as nossas. Não nos preocupamos aqui com um sentido paternalista ou imperialista de privilégio cultural, mas com um sentido final de privilégio redentor. Não existe e nós qualquer senso inato de retidão que levasse Deus a colocar à nossa disposição os meios de salvar-nos de um modo privilegiado. Seria até mesmo possível argumentar que nosso “privilégio” está ligado à nossa maior necessidade de redenção em vista de nossa maior corrupção. Todavia, desde que o pecado é universal, não se restringindo à humanidade civilizada ou não-civilizada, ocidental ou não-ocidental, dificilmente encontraremos aí uma resposta.
O que Acontece à Pessoa Inocente que Nunca Ouviu Falar de Cristo?
Continuamos ainda enfrentando a pergunta, quaisquer que sejam as motivações para a mesma. O que acontece ao inocente que jamais ouviu falar de Cristo?
A maneira como for apresentada a pergunta irá afetar sua resposta. Quando perguntamos: “O que acontece ao inocente que nunca ouviu?” estamos incluindo na pergunta suposições significativas. Se ela for, porém, feita desse modo, a resposta é fácil e evidente. O índio inocente que jamais ouviu falar de  Cristo está em excelente condição e não precisamos preocupar-nos com a sua salvação. A pessoa inocente não precisa ouvir sobre Cristo. Não tem necessidade de redenção. Deus jamais castiga inocentes. O inocente não precisa de um Salvador; ele pode salvar-se pela sua inocência.
Quando a pergunta é apresentada deste modo, ele envolve, entretanto, a suposição de que haja pessoas inocentes no mundo. Se for esse o caso( cuja suposição o cristianismo nega enfaticamente), não será então necessário que nos ocupemos com as mesmas. A questão mais ampla continua, porém, diante de nós: “O que acontece, porém, ao culpado que jamais ouviu?”.
A suposição de inocência geralmente se integra na pergunta sem que se note. O sentido no geral não é de perfeita inocência, mas de inocência relativa. Observamos que algumas pessoas são mais perversas que outras. A perversidade parece ainda maior quando ocorre num contexto de privilégio. Quando o indivíduo vive perversamente, embora conhecendo os detalhes dos mandamentos de Deus e tendo sido repetidamente instruído sobre eles, sua maldade parece hedionda quando comparada à daqueles que vivem em relativa ignorância.
Por outro lado, se o índio remoto é culpado, onde está sua culpa? Será castigado por não crer num Cristo sobre quem nunca ouviu falar? Se Deus é justo, não pode ser esse o caso. Se Deus castigasse alguém por não responder a uma mensagem que não teve possibilidade de ouvir, essa seria uma grave injustiça, radicalmente oposta a justiça à justiça revelada de Deus. Podemos ter a certeza de que ninguém será punido por rejeitar Cristo, caso não tenha ouvido falar dEle.
Antes de suspirarmos de alívio, vamos lembrar que o índio continua ainda no anzol. Alguns pararam nesse ponto na sua consideração do assunto e permitiram que seu alívio os levasse a sentir-se praticamente livres dele. A suposição silenciosa nesta altura é que a única ofensa condenatória contra Deus é a rejeição a Cristo. Desde que o índio não é culpado disto, podemos esquecer-nos dele. De fato, deixá-lo de lado seria a coisa mais útil e redentora que poderíamos fazer a seu favor. Se o procurarmos e lhe falarmos sobre Cristo, colocamos sua alma em risco eterno. Pois agora sabe a respeito de Cristo e recusa-se a aceitá-lO, não pode mais alegar ignorância como desculpa. Portanto, o melhor serviço que lhe podemos prestar é o silêncio.
Mas, e se a suposição acima estiver incorreta? Se houver outras ofensas graves contra Deus? Isso mudaria a situação e nos faria despertar de nossos devaneios dogmáticos. E se a pessoa que jamais ouviu falar de Cristo tenha aprendido sobre Deus e O rejeitou? A rejeição de Deus pai é tão séria quanto a de Deus Filho? Parece que deve ser pelo menos tão grave caso não seja mais grave ainda.
O que Dizer da Pessoa que já Sabe a Respeito de Deus?
Neste ponto exato é que o Novo Testamento localiza a culpa universal do homem. Ele anuncia a vinda de Cristo a um mundo que já rejeitara Deus Pai. O próprio Cristo afirmou: “Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes… pois não vim chamar justos, e, sim, pecadores ao arrependimento”(Mt 9.12,13).
A resposta bíblica aos que nunca ouviram falar de Cristo acha-se em Romanos 1, a partir do versículo 18. A seção começa com o pronunciamento terrível sobre a revelação da ira divina:
“Deus, entretanto, mostra do céu a sua ira contra todos os homens pecadores, maldosos, que repelem a verdade”
Note que a ira de Deus não se manifesta contra a inocência ou ignorância, mas contra a impiedade e perversidade. Que tipo de perversidade? Tanto a palavra “pecador” como “maldoso” são termos genéricos descrevendo classes gerais de atividade. Qual o ato específico que provoca a ira divina? A resposta é clara, a repulsão da verdade. Devemos perguntar: “Que verdade está sendo repelida?” O restante do texto fornece a resposta:
“Pois a verdade sobre Deus é revelada entre eles instintivamente; Deus pôs esse conhecimento em seus corações. Desde os primeiros tempos os homens viram a terra, o céu e tudo quanto Deus faz, tendo conhecido sua existência e seu grande e eterno poder. Assim, eles não terão desculpa alguma (quando estiverem diante de Deus no Dia do Juízo). Sim, eles bem sabiam de Deus, mas não admitiram, nem O adoraram, nem mesmo agradeceram a Ele todo o seu cuidado diário. E, depois, começaram a fazer ideias tolas de como Deus seria e o que Ele queria que eles fizessem. O resultado foi que suas mentes insensatas ficaram confusas e em trevas”(Rm 1.19-21—A Bíblia Viva).
O apóstolo nos dá aqui uma descrição do que os teólogos chamam de “revelação geral”. Isso significa simplesmente que Deus revelou algo de maneira generalizada. O caráter “geral” da revelação refere-se a duas coisas, conteúdo e audiência. O conteúdo é geral por não fornecer uma descrição detalhada de Deus. A trindade não faz parte desta revelação. Deus revela que Ele é, que Ele tem poder e divindade eternos. A audiência é geral no sentido de que todos os homens recebem esta revelação. Deus não se revela apenas a um pequeno grupo escolhido de estudiosos ou sacerdotes, mas a toda humanidade.
O que mais este texto ensina sobre revelação geral? Primeiro, aprendemos que ela é clara e inequívoca. Este conhecimento é instintivo(claro) neles; Deus pôs o mesmo neles; ele foi também visto. Assim sendo,  conhecimento não é obscuro.
Segundo, aprendemos que o conhecimento atingiu o alvo. Deus não fornece simplesmente uma revelação objetiva de Si mesmo, que pode ou não ser recebida subjetivamente. Lemos : “eles bem sabiam de Deus”. O problema do homem não é de não conhecer a Deus, mas de recusar-se a reconhecer o que sabe ser verdade.
Terceiro, aprendemos que esta revelação tem continuado desde a fundação do mundo. Não se trata de um evento único, mas que prossegue de maneira constante.
Quarto, aprendemos que a revelação se faz através da criação. A natureza invisível de Deus é revelada “mediante as coisas feitas por ele”. Toda a criação é um teatro glorioso que representa uma peça magnificente da sua criação.
Quinto, aprendemos que a revelação basta para tornar o homem indesculpável. A passagem diz: “não terão desculpa alguma”. Que desculpa você acha que o apóstolo tinha em mente? Qual a desculpa que a revelação geral elimina? Esta é evidentemente a da ignorância. Caso o apóstolo esteja correto sobre a revelação geral, ninguém poderá dizer então a Deus: “sinto muito não te-lo adorado e servido. Eu não sabia de sua existência. Se apenas soubesse teria sido com certeza seu servo obediente. Eu não era um ateu militante, era agnóstico. Não julgava haver evidência suficiente para confirmar sua existência”. Se Deus revelou-se de fato claramente a todos os homens, ninguém poderá alegar ignorância como uma desculpa para não render-lhe adoração.
A ignorância pode funcionar como uma justificativa para certas coisas sob certas circunstancias. A igreja católica romana, ao desenvolver sua teologia moral, adotou uma distinção entre a ignorância superável e a insuperável. A superável é aquela que pode e deve ser vencida. Ela não desculpa. A insuperável é a ignorância que não tem possibilidade de ser vencida. Ela justifica.
Suponhamos que uma pessoa de São Paulo fosse para o Rio de Janeiro de carro, e, ao entrar nos limites da cidade, passasse quando o semáforo estivesse fechado para ela, sendo multada por desobedecer as leis do trânsito. E o motorista então protestasse, dizendo: “Eu não sabia que era contra a lei entrar com o sinal vermelho no Rio. Sou de São Paulo”. Este apelo a ignorância desculparia o homem? Claro que não. Se o paulistano quiser dirigir num outro estado, é sua responsabilidade informar-se quanto as leis do trânsito. A leis estão a disposição de todos não sendo guardadas num cofre fechado. A ignorância do indivíduo em questão era do tipo superável, não constituindo justificativa.
Suponhamos, num outro exemplo, que a prefeitura do Rio de Janeiro, estivesse em uma situação financeira crítica. Seus administradores se reúnem então numa sessão secreta e baixam um decreto municipal que declara ilegal passar na luz verde e parar na vermelha. Eles decidem que a multa pela violação da lei será de 20 OTNs. O ponto está em que decidem não notificar a imprensa nem fazer qualquer menção da nova lei secreta, planejando colocar um guarda em cada semáforo para deter os motoristas que parem no vermelho e passem no verde. Os motoristas detidos poderiam alegar ignorância como uma desculpa? Poderiam. Sua ignorância seria do tipo insuperável e os justificaria.
Assim sendo, a pessoa que jamais ouviu falar de Cristo pode alegar ignorância nesse ponto, mas não tem condições de fazer o mesmo com relação a Deus Pai.
Os indivíduos, porém, que vivem em regiões remotas do mundo não são religiosos? Sua atividade religiosa não os protege da ira de Deus? Muitos antropólogos não afirmam que o ser humano é homo religiosus, que  a religião é universal? Tais pessoas talvez não sejam cultas nem sofisticadas em sua atividade religiosa. Elas talvez adorem totens, vacas ou arvores, mas pelo menos estão tentando e fazendo o melhor possível. Certamente não sabem fazer mais que isso. Se nasceram e cresceram numa cultura que adora vacas, como pode se esperar que façam outra coisa?
Neste ponto exato a ideia da revelação geral mostra-se devastadora. Se Paulo está certo, a prática da religião não desculpa o pagão, mas de fato aumenta a sua culpa. Como isso acontece? Paulo continua seu tratamento da revelação geral, dizendo:
“Dizendo-se sábios sem Deus, tornaram-se em vez disso completamente tolos. E então, em vez de adorarem ao Deus glorioso, vivente, tomaram madeira e pedra e fizeram ídolos para si, esculpindo-os para que parecessem simples aves, animais, serpentes e homens mortais. E assim Deus deixou que continuassem…Em vez de crerem naquilo que eles próprios sabiam ser a verdade sobre Deus, escolheram de vontade própria crer em mentiras. E assim fizeram suas orações as coisas que Deus fez, mas não obedecendo ao Deus bendito que criou essas mesmas coisas.”(Rm 1.22-25)
O apóstolo examina aqui a religião pagã. É feita uma “troca” entre a verdade de Deus e a mentira. A glória divina é substituída pela “glória” da criatura. A adoração por parte da criatura é religião, mas não passa de idolatria. Dedicar-se à adoração de ídolos é devotar-se ao insulto da glória e dignidade de Deus. Se Deus revela claramente a Sua glória e esta for substituída pela adoração de criaturas, a religião resultante não agrada mas descontenta Deus.
O fato de as pessoas serem religiosas não significa em si mesmo que Deus se agrade delas. A idolatria representa o insulto máximo a Deus. Reduzir Deus ao nível da criatura é despojá-lo de sua Divindade. Isto lhe é particularmente odioso em face do fato de todos os homens terem recebido suficiente revelação sobre Ele para saber que não é uma criatura. A religião pagã não é vista então como procedente de uma tentativa sincera de buscar a Deus, mas, de uma rejeição fundamental da auto-revelação divina.
Como os pagãos serão julgados?
O Novo Testamento torna claro que as pessoas serão julgadas segundo os conhecimentos que possuem. Nem todos os elementos da Lei do Velho Testamento são conhecidos por aqueles que habitam em partes remotas do mundo, mas lemos que “as leis de Deus estão escritas dentro deles”(Rm 2.15). Eles são julgados pela lei que não conhecem e encontrados em falta. Ninguém observa a ética que possui, mesmo que seja de sua própria invenção.
Aconselhei certa vez um aluno que estava em meu escritório “por obrigação”. Ele me procurava por insistência da mãe, cristã zelosa que desejava convencer de todo modo o filho a tornar-se cristão. Este porém achava-se profundamente desviado e resistia a persuasão dela. A rebelião dele era radical, optando por um estilo de vida conflitante com os valores familiares. Ao conversar comigo argumentou que todos tinham o direito de escolher sua própria ética. Ele acreditava em  “fazer o que queria”, queixando-se de que a mãe não tinha o direito de “empurrar” a religião pela sua garganta abaixo.
Perguntei-lhe porque rejeitava a estratégia da mãe, pois se esta seguisse as mesmas regras dele, podia muito bem obrigá-lo a engolir sua religião. O que a mãe “queria” era forçar seus conceitos religiosos garganta abaixo das pessoas. Expliquei-lhe que a mãe não estava sendo consistente com a ética cristã por mostrar-se insensível ao filho, embora fosse consistente com a ética do mesmo. A medida que conversamos, ele veio a compreender que na verdade acreditava que as pessoas podiam agir como quisessem contanto que não interviessem no que “ele” queria. O que desejava era uma ética para si, mas outra bem diferente para os demais. Quando nos queixamos do comportamento alheio revelamos claramente quais são os nossos conceitos reais de moral.
O pagão africano tem a sua ética, mas até mesmo esta ética é violada e ele fica portanto exposto ao juízo de Deus. O homem primitivo é frequentemente idealizado como isento da corrupção da civilização. Tais descrições idealistas não se ajustam porém aos fatos.
Se alguém que habite numa região montanhosa jamais ouviu falar de Cristo, ele não será então castigado por isso. Será entretanto castigado por rejeitar o Pai a quem conhece e pela desobediência à lei escrita em seu coração. Devemos lembrar de novo que as pessoas não são rejeitadas por aquilo que não conhecem, mas pelo que ouviram falar.
Se todos os homens ouviram falar do Pai, mas naturalmente o rejeitam, segue-se então que todos precisam conhecer a redenção oferecida em Cristo.
Não ter conhecimento de  Cristo é correr um risco, devido a rejeição anterior da revelação do Pai. Mas, ouvir de Cristo e rejeitá-lo será correr o risco duplo, pois agora não só o Pai foi rejeitado, mas também o Filho. Assim sendo, toda vez que o evangelho é proclamado ele contem uma espada de dois gumes. Para os que creem, é o sabor da glória. Para os que o rejeitam, a morte.
Como o Índio Isolado Pode Ouvir?
Se a pessoa que jamais ouviu falar de Cristo se encontra em sério risco, como esta dificuldade pode ser aliviada ou resolvida? A resposta se encontra numa simples declaração feita pelo apóstolo Paulo:
“ Como, porém, eles pediram a Ele que os salve, sem crerem nele? E como podem crer nele, se nunca ouviram falar dele? E como podem ouvir acerca dele, sem que alguém lhes fale? E como é que alguém irá para lhes falar, sem que outrem o envie? É sobre isso que as Escrituras falam, quando afirmam: como são bonitos os pés daqueles que pregam o evangelho da paz com Deus e trazem noticias alegres de coisas boas”(Rm 10. 14,15 Bíblia Viva)
O apóstolo afirma aqui a necessidade da missão da igreja. A missão (do latim enviar) começa com o amor de Deus. Foi por ter amado tanto o mundo que Ele “enviou” seu Filho ao mundo. A missão de Cristo foi a favor de todos os que haviam rejeitado o Pai. O Pai rejeitado enviou o Filho e o Filho enviou a Sua igreja. Essa é a base para a missão mundial da igreja. Cristo ordena que todos os que não ouviram venham a ouvir. Eles podem ouvir sem um pregador e não pode haver pregador sem que alguém o “envie”. A ordem de Cristo é que o evangelho seja pregado em toda terra e nação, a cada tribo e língua, a cada ente vivo. Se este mandado fosse levado a efeito pela igreja, a questão do que acontece com os que jamais ouviram seria discutível.
O cristão deve fazer uma outra pergunta depois de tratar da questão dos que nunca ouviram. Ele deve perguntar: “O que acontecerá comigo se eu nunca fizer nada para promover a missão mundial da igreja?”. Se levar a sério essa pergunta, sua resposta deve ser igualmente séria. Seu interesse pelo índio o nativo remoto deve começar com compaixão, devendo culminar também numa resposta compassiva.
A questão do destino do individuo que jamais ouve falar de Cristo deve ser respondida não só com palavras, mas também com ação. Esta atividade missionária não deve ser promovida, por um sentimento de paternalismo ou imperialismo, mas através da obediência da ordem de “enviar” dada por Cristo. Todos os homens precisam de Cristo e o dever da igreja é satisfazer essa necessidade.
Pontos Chaves a Serem Lembrados
O que acontecerá aos pagãos que não tiverem a oportunidade de ouvir?
1.Todos os homens conhecem Deus Pai (Rm 1.8 e seguintes). O problema do pagão que jamais ouviu o evangelho é um problema de nossa condição universal como decaídos da graça.Devemos enfatizar que Deus revelou-se a todos os homens. Todos sabem que existe um Deus. Assim sendo, ninguém pode alegar ignorância como justificativa para negar a Deus.
2. Todos deturpam e rejeitam o verdadeiro conhecimento de Deus. Desde que todos os homens conhecem a Deus e todos deturpam ou rejeitam esse conhecimento, ninguém é portanto inocente.
3. Não existem inocentes no mundo. Os que morrerem sem terem ouvido o evangelho serão julgados segundo o conhecimento que possuem. Serão julgados por rejeitarem Deus Pai, Deus jamais condena inocentes.
4. Deus julga segundo o conhecimento de cada um. A idolatria como “religião” não agrada a Deus, mas acrescenta insulto a injúria feita a glória de Deus.(Veja Is 42.8). A idolatria não representa a busca de Deus pelo homem, mas sim a sua fuga de Deus.
5. O evangelho é o dom divino da redenção para os perdidos. Deus enviou Cristo para dar as pessoas uma oportunidade de serem salvas da culpa que já possuem. Caso os homens rejeitem Cristo, eles irão enfrentar duplo juízo de rejeitarem tanto o Pai como o Filho(veja Cl 1. 13-17).
6. O pagão precisa de Cristo para reconciliá-lo com Deus Pai. O próprio Cristo considerou o pagão como estando “perdido”.
7. Cristo ordena a igreja para certificar-se de que todos ouçam o evangelho (Veja Mc 16.15).
8. A rejeição de Cristo resulta em duplo julgamento (veja 2Tm 4.1)
9. A simples “religião” não salva as pessoas, mas pode aumentar sua culpa.
Fonte: Razão Para Crer, de R.C. Sproul publicado pela editora Mundo Cristão.
R. C. Sproul: Teólogo e filósofo calvinista, autor prolífico, radialista e fundador do Ligonier Ministries. Possui Doutorado em Filosofia pela Free University Amsterdan e Doutorado em Teologia pelo Whitefield Theological Seminary.
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