“E o Índio que Nunca
Ouviu o Evangelho? Este Coitado Vai para o Inferno?” [O TEXTO A SEGUIR FOI EXTRAÍDO DO CAPÍTULO 3 DO LIVRO RAZÃO PARA CRER DE SPROUL - Recomendamos a sua aquisição. Excelente livro para termos em nossas bibliotecas]
Como
professor de teologia, vejo-me sempre à frente de um bombardeio regular de
perguntas por parte de meus alunos. Embora nunca tivesse usado u computador
para contá-las, estou convencido de que uma delas encabeça a lista em termos de
frequência numérica. A pergunta repetida várias vezes é esta: “O que acontece
com o índio inocente que jamais ouviu falar de Cristo?”. Essa indagação uma
preocupação profunda com a pessoa que habita em partes remotas da terra,
distanciadas dos modernos meios de comunicação. Esse indivíduo vive e morre sem
ouvir uma única palavra da mensagem bíblica. Qual a posição do mesmo perante
Deus?
Qual a
razão da frequência dessa pergunta? Por que tantos estudantes se veem
perseguidos por ela? É possível que vários fatores estimulem o pedido de
informação. Em primeiro lugar, os habitantes do mundo ocidental tem suficiente conhecimento
do cristianismo para saber qual motivo central do amor de Deus. Acrescenta-se a
isso a noção comum de que no âmago da fé cristã encontra-se a afirmação da
importância singular da pessoa e obra de Cristo. Se Cristo é o único e
necessário para a salvação, como poderá alguém aproveitar-se dessa redenção se
não tiver conhecimento dela? Se Deus tem tanto amor, por que Ele não ilumina os
céus com uma mensagem celestial transmitida tão claramente que ninguém possa
deixar de vê-la? Por que as “boas novas” da salvação em Cristo ficam limitadas
àquelas culturas que tem acesso às mesmas?
A
pergunta não é incentivada apenas por questões de teologia especulativa,
mas também por um espírito de compaixão humana. Caso a compaixão resida em
nosso íntimo, devemos interessar-nos sempre por aqueles que vivem em
circunstâncias menos privilegiadas que as nossas. Não nos preocupamos aqui com
um sentido paternalista ou imperialista de privilégio cultural, mas com um
sentido final de privilégio redentor. Não existe e nós qualquer senso inato de
retidão que levasse Deus a colocar à nossa disposição os meios de salvar-nos de
um modo privilegiado. Seria até mesmo possível argumentar que nosso
“privilégio” está ligado à nossa maior necessidade de redenção em vista de
nossa maior corrupção. Todavia, desde que o pecado é universal, não se
restringindo à humanidade civilizada ou não-civilizada, ocidental ou
não-ocidental, dificilmente encontraremos aí uma resposta.
O que Acontece à Pessoa Inocente que Nunca Ouviu
Falar de Cristo?
Continuamos
ainda enfrentando a pergunta, quaisquer que sejam as motivações para a mesma. O
que acontece ao inocente que jamais ouviu falar de Cristo?
A maneira como for apresentada a pergunta irá
afetar sua resposta. Quando perguntamos: “O que acontece ao inocente que nunca ouviu?” estamos incluindo
na pergunta suposições significativas. Se ela for, porém, feita desse modo, a
resposta é fácil e evidente. O índio inocente que jamais ouviu falar de
Cristo está em excelente condição e não precisamos preocupar-nos com a sua
salvação. A pessoa inocente não
precisa ouvir sobre Cristo. Não tem necessidade de redenção. Deus jamais
castiga inocentes. O inocente não precisa de um Salvador; ele pode salvar-se
pela sua inocência.
Quando a pergunta é apresentada deste modo,
ele envolve, entretanto, a suposição de que haja pessoas inocentes no mundo. Se
for esse o caso( cuja suposição o cristianismo nega enfaticamente), não será
então necessário que nos ocupemos com as mesmas. A questão mais ampla continua,
porém, diante de nós: “O que acontece, porém, ao culpado que jamais ouviu?”.
A suposição
de inocência geralmente se integra na pergunta sem que se note. O sentido no
geral não é de perfeita inocência, mas de inocência relativa. Observamos que
algumas pessoas são mais perversas que outras. A perversidade parece ainda
maior quando ocorre num contexto de privilégio. Quando o indivíduo vive
perversamente, embora conhecendo os detalhes dos mandamentos de Deus e tendo
sido repetidamente instruído sobre eles, sua maldade parece hedionda quando
comparada à daqueles que vivem em relativa ignorância.
Por outro
lado, se o índio remoto é culpado, onde está sua culpa? Será castigado por não
crer num Cristo sobre quem nunca ouviu falar? Se Deus é justo, não pode ser
esse o caso. Se Deus castigasse alguém por não responder a uma mensagem que não
teve possibilidade de ouvir, essa seria uma grave injustiça, radicalmente
oposta a justiça à justiça revelada de Deus. Podemos ter a certeza de que
ninguém será punido por rejeitar Cristo, caso não tenha ouvido falar dEle.
Antes de
suspirarmos de alívio, vamos lembrar que o índio continua ainda no anzol.
Alguns pararam nesse ponto na sua consideração do assunto e permitiram que seu
alívio os levasse a sentir-se praticamente livres dele. A suposição silenciosa
nesta altura é que a única ofensa condenatória contra Deus é a rejeição a
Cristo. Desde que o índio não é culpado disto, podemos esquecer-nos dele. De
fato, deixá-lo de lado seria a coisa mais útil e redentora que poderíamos fazer
a seu favor. Se o procurarmos e lhe falarmos sobre Cristo, colocamos sua alma
em risco eterno. Pois agora sabe a respeito de Cristo e recusa-se a aceitá-lO,
não pode mais alegar ignorância como desculpa. Portanto, o melhor serviço que
lhe podemos prestar é o silêncio.
Mas, e se a suposição acima estiver incorreta?
Se houver outras ofensas graves contra Deus? Isso mudaria a situação e nos
faria despertar de nossos devaneios dogmáticos. E se a pessoa que jamais ouviu
falar de Cristo tenha aprendido sobre Deus e O rejeitou? A rejeição de Deus pai
é tão séria quanto a de Deus Filho? Parece que deve ser pelo menos tão grave caso não seja mais grave ainda.
O que Dizer da Pessoa que já Sabe a Respeito de
Deus?
Neste ponto
exato é que o Novo Testamento localiza a culpa universal do homem. Ele anuncia
a vinda de Cristo a um mundo que já rejeitara Deus Pai. O próprio Cristo
afirmou: “Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes… pois não vim
chamar justos, e, sim, pecadores ao arrependimento”(Mt 9.12,13).
A resposta
bíblica aos que nunca ouviram falar de Cristo acha-se em Romanos 1, a partir do
versículo 18. A seção começa com o pronunciamento terrível sobre a revelação da
ira divina:
“Deus,
entretanto, mostra do céu a sua ira contra todos os homens pecadores, maldosos,
que repelem a verdade”
Note que a ira de Deus não se manifesta contra
a inocência ou ignorância, mas contra a impiedade e perversidade. Que tipo de
perversidade? Tanto a palavra “pecador” como “maldoso” são termos genéricos
descrevendo classes gerais de atividade. Qual o ato específico que provoca a
ira divina? A resposta é clara, a repulsão da verdade.
Devemos perguntar: “Que verdade está sendo repelida?” O restante do texto
fornece a resposta:
“Pois a verdade sobre Deus é revelada entre
eles instintivamente; Deus pôs esse conhecimento em seus corações. Desde os
primeiros tempos os homens viram a terra, o céu e tudo quanto Deus faz, tendo
conhecido sua existência e seu grande e eterno poder. Assim, eles não terão
desculpa alguma (quando estiverem diante de Deus no Dia do Juízo). Sim, eles
bem sabiam de Deus, mas não admitiram, nem O adoraram, nem mesmo agradeceram a
Ele todo o seu cuidado diário. E, depois, começaram a fazer ideias tolas de
como Deus seria e o que Ele queria que eles fizessem. O resultado foi que suas
mentes insensatas ficaram confusas e em trevas”(Rm 1.19-21—A Bíblia Viva).
O apóstolo
nos dá aqui uma descrição do que os teólogos chamam de “revelação geral”. Isso
significa simplesmente que Deus revelou algo de maneira generalizada. O caráter
“geral” da revelação refere-se a duas coisas, conteúdo e audiência. O conteúdo
é geral por não fornecer uma descrição detalhada de Deus. A trindade não faz
parte desta revelação. Deus revela que Ele é, que Ele tem poder e divindade
eternos. A audiência é geral no sentido de que todos os homens recebem esta
revelação. Deus não se revela apenas a um pequeno grupo escolhido de estudiosos
ou sacerdotes, mas a toda humanidade.
O que mais
este texto ensina sobre revelação geral? Primeiro, aprendemos que ela é clara e
inequívoca. Este conhecimento é instintivo(claro) neles; Deus pôs o mesmo
neles; ele foi também visto. Assim sendo, conhecimento não é obscuro.
Segundo,
aprendemos que o conhecimento atingiu o alvo. Deus não fornece simplesmente uma
revelação objetiva de Si mesmo, que pode ou não ser recebida subjetivamente.
Lemos : “eles bem sabiam de Deus”. O problema do homem não é de não conhecer a
Deus, mas de recusar-se a reconhecer o que sabe ser verdade.
Terceiro,
aprendemos que esta revelação tem continuado desde a fundação do mundo. Não se
trata de um evento único, mas que prossegue de maneira constante.
Quarto,
aprendemos que a revelação se faz através da criação. A natureza invisível de
Deus é revelada “mediante as coisas feitas por ele”. Toda a criação é um teatro
glorioso que representa uma peça magnificente da sua criação.
Quinto,
aprendemos que a revelação basta para tornar o homem indesculpável. A passagem
diz: “não terão desculpa alguma”. Que desculpa você acha que o apóstolo tinha
em mente? Qual a desculpa que a revelação geral elimina? Esta é evidentemente a
da ignorância. Caso o apóstolo esteja correto sobre a revelação geral, ninguém
poderá dizer então a Deus: “sinto muito não te-lo adorado e servido. Eu não
sabia de sua existência. Se apenas soubesse teria sido com certeza seu servo
obediente. Eu não era um ateu militante, era agnóstico. Não julgava haver
evidência suficiente para confirmar sua existência”. Se Deus revelou-se de fato
claramente a todos os homens, ninguém poderá alegar ignorância como uma
desculpa para não render-lhe adoração.
A
ignorância pode funcionar como uma justificativa para certas coisas sob certas
circunstancias. A igreja católica romana, ao desenvolver sua teologia moral,
adotou uma distinção entre a ignorância superável e a insuperável. A superável
é aquela que pode e deve ser vencida. Ela não desculpa. A insuperável é a
ignorância que não tem possibilidade de ser vencida. Ela justifica.
Suponhamos
que uma pessoa de São Paulo fosse para o Rio de Janeiro de carro, e, ao entrar
nos limites da cidade, passasse quando o semáforo estivesse fechado para ela,
sendo multada por desobedecer as leis do trânsito. E o motorista então
protestasse, dizendo: “Eu não sabia que era contra a lei entrar com o sinal
vermelho no Rio. Sou de São Paulo”. Este apelo a ignorância desculparia o
homem? Claro que não. Se o paulistano quiser dirigir num outro estado, é sua
responsabilidade informar-se quanto as leis do trânsito. A leis estão a
disposição de todos não sendo guardadas num cofre fechado. A ignorância do
indivíduo em questão era do tipo superável, não constituindo justificativa.
Suponhamos,
num outro exemplo, que a prefeitura do Rio de Janeiro, estivesse em uma
situação financeira crítica. Seus administradores se reúnem então numa sessão
secreta e baixam um decreto municipal que declara ilegal passar na luz verde e
parar na vermelha. Eles decidem que a multa pela violação da lei será de 20
OTNs. O ponto está em que decidem não notificar a imprensa nem fazer qualquer
menção da nova lei secreta, planejando colocar um guarda em cada semáforo para
deter os motoristas que parem no vermelho e passem no verde. Os motoristas
detidos poderiam alegar ignorância como uma desculpa? Poderiam. Sua ignorância
seria do tipo insuperável e os justificaria.
Assim
sendo, a pessoa que jamais ouviu falar de Cristo pode alegar ignorância nesse
ponto, mas não tem condições de fazer o mesmo com relação a Deus Pai.
Os indivíduos, porém, que vivem em regiões
remotas do mundo não são religiosos? Sua atividade religiosa não os protege da
ira de Deus? Muitos antropólogos não afirmam que o ser humano é homo religiosus, que a religião é universal? Tais
pessoas talvez não sejam cultas nem sofisticadas em sua atividade religiosa.
Elas talvez adorem totens, vacas ou arvores, mas pelo menos estão tentando e
fazendo o melhor possível. Certamente não sabem fazer mais que isso. Se
nasceram e cresceram numa cultura que adora vacas, como pode se esperar que
façam outra coisa?
Neste ponto
exato a ideia da revelação geral mostra-se devastadora. Se Paulo está certo, a
prática da religião não desculpa o pagão, mas de fato aumenta a sua culpa. Como
isso acontece? Paulo continua seu tratamento da revelação geral, dizendo:
“Dizendo-se
sábios sem Deus, tornaram-se em vez disso completamente tolos. E então, em vez
de adorarem ao Deus glorioso, vivente, tomaram madeira e pedra e fizeram ídolos
para si, esculpindo-os para que parecessem simples aves, animais, serpentes e
homens mortais. E assim Deus deixou que continuassem…Em vez de crerem naquilo
que eles próprios sabiam ser a verdade sobre Deus, escolheram de vontade
própria crer em mentiras. E assim fizeram suas orações as coisas que Deus fez,
mas não obedecendo ao Deus bendito que criou essas mesmas coisas.”(Rm 1.22-25)
O apóstolo
examina aqui a religião pagã. É feita uma “troca” entre a verdade de Deus e a
mentira. A glória divina é substituída pela “glória” da criatura. A adoração
por parte da criatura é religião, mas não passa de idolatria. Dedicar-se à
adoração de ídolos é devotar-se ao insulto da glória e dignidade de Deus. Se
Deus revela claramente a Sua glória e esta for substituída pela adoração de
criaturas, a religião resultante não agrada mas descontenta Deus.
O fato de
as pessoas serem religiosas não significa em si mesmo que Deus se agrade delas.
A idolatria representa o insulto máximo a Deus. Reduzir Deus ao nível da criatura
é despojá-lo de sua Divindade. Isto lhe é particularmente odioso em face do
fato de todos os homens terem recebido suficiente revelação sobre Ele para
saber que não é uma criatura. A religião pagã não é vista então como procedente
de uma tentativa sincera de buscar a Deus, mas, de uma rejeição fundamental da
auto-revelação divina.
Como os pagãos serão julgados?
O Novo
Testamento torna claro que as pessoas serão julgadas segundo os conhecimentos
que possuem. Nem todos os elementos da Lei do Velho Testamento são conhecidos
por aqueles que habitam em partes remotas do mundo, mas lemos que “as leis de
Deus estão escritas dentro deles”(Rm 2.15). Eles são julgados pela lei que não
conhecem e encontrados em falta. Ninguém observa a ética que possui, mesmo que
seja de sua própria invenção.
Aconselhei
certa vez um aluno que estava em meu escritório “por obrigação”. Ele me
procurava por insistência da mãe, cristã zelosa que desejava convencer de todo
modo o filho a tornar-se cristão. Este porém achava-se profundamente desviado e
resistia a persuasão dela. A rebelião dele era radical, optando por um estilo
de vida conflitante com os valores familiares. Ao conversar comigo argumentou
que todos tinham o direito de escolher sua própria ética. Ele acreditava em “fazer
o que queria”, queixando-se de que a mãe não tinha o direito de “empurrar” a
religião pela sua garganta abaixo.
Perguntei-lhe
porque rejeitava a estratégia da mãe, pois se esta seguisse as mesmas regras
dele, podia muito bem obrigá-lo a engolir sua religião. O que a mãe “queria”
era forçar seus conceitos religiosos garganta abaixo das pessoas. Expliquei-lhe
que a mãe não estava sendo consistente com a ética cristã por mostrar-se
insensível ao filho, embora fosse consistente com a ética do mesmo. A medida que
conversamos, ele veio a compreender que na verdade acreditava que as pessoas
podiam agir como quisessem contanto que não interviessem no que “ele” queria. O
que desejava era uma ética para si, mas outra bem diferente para os demais.
Quando nos queixamos do comportamento alheio revelamos claramente quais são os
nossos conceitos reais de moral.
O pagão
africano tem a sua ética, mas até mesmo esta ética é violada e ele fica
portanto exposto ao juízo de Deus. O homem primitivo é frequentemente
idealizado como isento da corrupção da civilização. Tais descrições idealistas
não se ajustam porém aos fatos.
Se alguém
que habite numa região montanhosa jamais ouviu falar de Cristo, ele não será
então castigado por isso. Será entretanto castigado por rejeitar o Pai a quem
conhece e pela desobediência à lei escrita em seu coração. Devemos lembrar de
novo que as pessoas não são rejeitadas por aquilo que não conhecem, mas pelo
que ouviram falar.
Se todos os
homens ouviram falar do Pai, mas naturalmente o rejeitam, segue-se então que
todos precisam conhecer a redenção oferecida em Cristo.
Não ter
conhecimento de Cristo é correr um risco, devido a rejeição anterior da
revelação do Pai. Mas, ouvir de Cristo e rejeitá-lo será correr o risco duplo,
pois agora não só o Pai foi rejeitado, mas também o Filho. Assim sendo, toda
vez que o evangelho é proclamado ele contem uma espada de dois gumes. Para os
que creem, é o sabor da glória. Para os que o rejeitam, a morte.
Como o Índio Isolado Pode Ouvir?
Se a pessoa
que jamais ouviu falar de Cristo se encontra em sério risco, como esta
dificuldade pode ser aliviada ou resolvida? A resposta se encontra numa simples
declaração feita pelo apóstolo Paulo:
“ Como,
porém, eles pediram a Ele que os salve, sem crerem nele? E como podem crer
nele, se nunca ouviram falar dele? E como podem ouvir acerca dele, sem que
alguém lhes fale? E como é que alguém irá para lhes falar, sem que outrem o
envie? É sobre isso que as Escrituras falam, quando afirmam: como são bonitos
os pés daqueles que pregam o evangelho da paz com Deus e trazem noticias
alegres de coisas boas”(Rm 10. 14,15 Bíblia Viva)
O apóstolo
afirma aqui a necessidade da missão da igreja. A missão (do latim enviar)
começa com o amor de Deus. Foi por ter amado tanto o mundo que Ele “enviou” seu
Filho ao mundo. A missão de Cristo foi a favor de todos os que haviam rejeitado
o Pai. O Pai rejeitado enviou o Filho e o Filho enviou a Sua igreja. Essa é a
base para a missão mundial da igreja. Cristo ordena que todos os que não
ouviram venham a ouvir. Eles podem ouvir sem um pregador e não pode haver
pregador sem que alguém o “envie”. A ordem de Cristo é que o evangelho seja
pregado em toda terra e nação, a cada tribo e língua, a cada ente vivo. Se este
mandado fosse levado a efeito pela igreja, a questão do que acontece com os que
jamais ouviram seria discutível.
O cristão
deve fazer uma outra pergunta depois de tratar da questão dos que nunca
ouviram. Ele deve perguntar: “O que acontecerá comigo se eu nunca fizer nada para
promover a missão mundial da igreja?”. Se levar a sério essa pergunta, sua
resposta deve ser igualmente séria. Seu interesse pelo índio o nativo remoto
deve começar com compaixão, devendo culminar também numa resposta compassiva.
A questão
do destino do individuo que jamais ouve falar de Cristo deve ser respondida não
só com palavras, mas também com ação. Esta atividade missionária não deve ser
promovida, por um sentimento de paternalismo ou imperialismo, mas através da
obediência da ordem de “enviar” dada por Cristo. Todos os homens precisam de
Cristo e o dever da igreja é satisfazer essa necessidade.
Pontos Chaves a Serem Lembrados
O que
acontecerá aos pagãos que não tiverem a oportunidade de ouvir?
1.Todos os homens conhecem Deus
Pai (Rm 1.8 e seguintes). O problema do pagão que jamais ouviu o
evangelho é um problema de nossa condição universal como decaídos da
graça.Devemos enfatizar que Deus revelou-se a todos os homens. Todos sabem que
existe um Deus. Assim sendo, ninguém pode alegar ignorância como justificativa
para negar a Deus.
2. Todos deturpam e rejeitam o
verdadeiro conhecimento de Deus. Desde que todos os homens conhecem
a Deus e todos deturpam ou rejeitam esse conhecimento, ninguém é portanto
inocente.
3. Não existem inocentes no mundo.
Os que morrerem sem terem ouvido o evangelho serão julgados segundo o
conhecimento que possuem. Serão julgados por rejeitarem Deus Pai, Deus jamais
condena inocentes.
4. Deus julga segundo o
conhecimento de cada um. A idolatria como “religião” não agrada a
Deus, mas acrescenta insulto a injúria feita a glória de Deus.(Veja Is 42.8). A
idolatria não representa a busca de Deus pelo homem, mas sim a sua fuga de
Deus.
5. O evangelho é o dom divino da
redenção para os perdidos. Deus enviou Cristo para dar as
pessoas uma oportunidade de serem salvas da culpa que já possuem. Caso os
homens rejeitem Cristo, eles irão enfrentar duplo juízo de rejeitarem tanto o
Pai como o Filho(veja Cl 1. 13-17).
6. O pagão precisa de Cristo para
reconciliá-lo com Deus Pai. O próprio Cristo considerou o pagão como
estando “perdido”.
7. Cristo ordena a igreja para
certificar-se de que todos ouçam o evangelho (Veja Mc 16.15).
8. A rejeição de Cristo resulta em
duplo julgamento (veja 2Tm 4.1)
9. A simples “religião” não salva
as pessoas, mas pode aumentar sua culpa.
Fonte:
Razão Para Crer, de R.C. Sproul publicado pela editora Mundo Cristão.
R. C. Sproul: Teólogo e filósofo calvinista, autor prolífico, radialista e fundador do Ligonier Ministries. Possui Doutorado em Filosofia pela Free University Amsterdan e Doutorado em Teologia pelo Whitefield Theological Seminary.
Estamos vendo que Paulo escreveu essa epístola, provavelmente, entre 62-64
d.C., para incentivar Tito a completar a organização das igrejas em Creta,
confrontar as ações de falsos mestres nessa região e instruir os crentes a
terem uma conduta cristã apropriada. Estamos no capítulo 3/3.
Breve
síntese do capítulo 3.
Paulo continua a série de conselhos e exortações a fim de que Tito e as
suas ovelhas sejam frutíferas no caminho do Senhor e não entrem no caminho das
discussões teológicas/espirituais que nada acrescentam a fé.
Na verdade, na verdade, todos sabemos o que temos de fazer e ninguém há
que necessite de nos falar. Sabemos o que deve ser feito e quando deve ser
feito, mas por causa do pecado, algo roubou nossa vontade e precisamos então
sermos lembrados constantemente daquilo que já sabemos.
A pregação assim também tem o papel de nos exortar como se Deus
estivesse nos exortando por meio do pregador. Ela não somente faz nascer a fé
quando a ouvimos, mas cria em nós também a fé de fazer a obra que precisa ser
feita e não fazemos apesar de sabermos que precisamos fazer.
Vejamos o presente capítulo com mais
detalhes, conforme ajuda da BEG:
II. INSTRUÇÕES A TITO (1.5-3.11) - continuação.
Vimos que Paulo deu a Tito a
responsabilidade de cuidar das igrejas em Creta. Tito deveria organizar as
igrejas constituindo ministros qualificados e também fazer oposição aos falsos
mestres.
Assim, estamos seguindo nossa divisão
proposta, conforme a BEG: A. Organização das igrejas em Creta (1.5-9) – já vimos; B. Lidando com falsos
mestres (1.10-16) – já vimos; C.
Instruções para grupos específicos (2.1-15) – já vimos; D. Instruções para todos os cristãos (3.1-8) – veremos agora; e, E. Lidando com falsos
mestres (3.9-11) – veremos agora.
D. Instruções para todos os cristãos (3.1-8).
Tendo dado instruções para cada grupo
específico, Paulo deu a Tito um conselho geral (em meio a uma outra meditação
sobre a graça de Deus) de encorajar toda a igreja a fazer "toda boa
obra" (v. 1).
Tito tinha a responsabilidade de lembrar a
igreja de Creta quanto à necessidade de uma conduta cristã tanto com relação
aos crentes como aos não crentes.
Paulo o exorta a lembrar a todos que
deveriam se sujeitar aos que governam, às autoridades. Para saber mais sobre
submissão cristã às autoridades governantes, veja Rm 13.1-7 (veja também 1Pe
2.13-17; cf. 1Tm 2.1-2). Assim, deveriam estar prontos para toda boa obra. O
tema dessa seção é fazer o bem (vs. 8; 2.7).
Os cristãos devem mostrar respeito e
humildade para todos os tipos de pessoas, não somente aos governantes e àqueles
que têm autoridade (vs. 1).
Assim como em 2.11-14, Paulo forneceu uma
reflexão teológica como a base para a vida cristã apropriada.
·Sujeitar-se
aos governantes e às autoridades.
·Ser
obedientes.
·Estar
sempre prontos a fazer tudo o que é bom,
·Não
caluniar a ninguém.
·Ser
pacíficos e amáveis.
·Mostrar
sempre verdadeira mansidão para com todos os homens.
Esse versículo 3 apresenta uma descrição
vívida da depravação humana à parte de Cristo.
·Éramos
insensatos e desobedientes.
·Vivíamos
enganados e escravizados por toda espécie de paixões e prazeres.
·Vivíamos
na maldade e na inveja.
·Éramos
detestáveis.
·Odiávamos
uns aos outros.
Tudo isso, no entanto, mudou quando se
manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador. De acordo com o vs. 3, a
principal preocupação de Paulo aqui era mais com a experiência da graça de Deus
pelo pecador do que com a primeira vinda de Cristo (2Tm 1.10).
Ao mesmo tempo, a linguagem de Paulo chama
a atenção para o fato de que a experiência do pecador com a graça de Deus
envolve participação com a nova vida e nova criação que Cristo inaugurou na sua
primeira vinda (veja 2Co 5.17; veja também o excelente artigo teológico da BEG:
"O Plano das eras", em Hb 7).
Apesar de vivermos assim, houve um tempo
também em que se manifestaram a bondade e o amor pelos homens, da parte de
Deus, nosso Salvador, mas não por obras de justiça praticadas por nós, mas
segundo a sua misericórdia.
A salvação é pela graça e não por obras (vs.
6; Ef 2.8-9; 2Tm 1.9). Ele nos salvou. Veja 2Tm 1.9. Ele nos lavou - limpeza
espiritual, da qual o batismo é sinal e selo (1Co 6.11; Ef 5.26). Ele nos regenerou
e nos renovou. Ambas as palavras caracterizam "limpeza".
"Regeneração" é a nova vida que se inicia quando a pessoa começa a
ter fé em Cristo (Jo 3.3,5; 1Pe 1.3,23).
A renovação está intimamente relacionada
com a regeneração; ela significa a transformação total da vida de uma pessoa
que tem início quando ela é regenerada (Rm 12.2; 2Co 5.17) do Espírito Santo.
O Espírito aplica às pessoas a graça de
Deus que é possível em Cristo (Jo 3.5-6). Observe o trinitarianismo dos vs.
4-6.
Assim ele o fez a fim de que, justificados
pela sua graça, nos tornemos herdeiros, tendo a esperança da vida eterna.
Justificados quer dizer, declarados justos,
ou seja, como tendo alcançado o padrão exigido pela justiça de Deus, mas por
graça. Deixados a nós mesmos (vs. 3-4), jamais conseguiríamos nos apresentar
justos diante de Deus.
O ponto principal dos vs. 3-7 é que a
justiça vem somente por meio da graça de Deus (Rm 3.21-25). E uma vez
justificados, nos tornamos herdeiros. O propósito de Deus em dar a sua graça
aos pecadores não é somente salvá-los do julgamento eterno, mas também fazer
deles parte de sua família mediante a adoção e, desse modo, herdeiros de suas
promessas (Rm 8.17; GI 3.29; 4.7).
Paulo insistiu com Tito – vs. 8 - que
enfatizasse esses ensinos porque eles beneficiariam a todos. A frase “fiel é esta
palavra” aponta de volta para os vs. 4-7. Por isso que ele quer que ele afirme
categoricamente tais coisas para assim crerem em Deus e se empenharem na
prática de boas obras as quais são proveitosas aos homens. Aqueles que seguirem
as instruções dos vs. 1-2 receberão muitos benefícios.
E. Lidando com falsos mestres (3.9-11).
Para contrastar com as instruções que havia
acabado de dar, Paulo voltou pela última vez ao problema dos falsos mestres. Uma
característica principal nos falsos mestres era a tendência que eles tinham
para contendas (1Tm 1.4; 6.4) sobre a lei.
A lei de Moisés (1.10; cf. 1Tm 1.7) era
boa, justa e perfeita, mas ficar com discussões tolas de genealogias e
contendas a respeito da lei não trariam resultado positivo que fosse ou pudesse
ser comparado com fazer o que é bom e, portanto, "útil" (vs. 8).
A disciplina da igreja em caso da criação
de facções deveria incluir uma série de advertências (cf. Mt 18.15-17). Essas
advertências também são apropriadas em vários outros casos. Os falsos mestres somente
haviam causado divisões nas igrejas (1Tm 6.4-5).
Conclusão.
Dos vs. 12 ao 15, Paulo terminou a carta
com instruções pessoais a Tito, saudações finais e uma bênção.
Ártemas – vs. 12 - não foi mencionado em
nenhum outro lugar do Novo Testamento. Aparentemente, ele era um dos
companheiros de trabalho de Paulo.
Tiquico era um companheiro de trabalho de
Paulo (At 20.4; Ef 6.21; Cl 4.7; 2Tm 4.12).
Paulo iria enviar tanto Ártemas quando
Tíquico e Tito deveria se esforçar para ir ao encontro de Paulo em Nicópolis. O
ministério de Tito em Creta estava chegando ao fim.
Nicópolis era uma cidade na costa oeste da
província romana de Epiro (oeste da Grécia) e Paulo tinha resolvido a passar o
inverno ali. Paulo estava em Nicópolis, ou a caminho dessa cidade.
Era também para Tito providenciar tudo para
a viagem de Zenas, o jurista e de Apolo, para que assim nada lhes faltasse.
Provavelmente eles eram os portadores dessa carta.
Zenas não é mencionado em nenhum outro
lugar no Novo Testamento. Aparentemente, ele era um dos companheiros de
trabalho de Paulo.
Apolo, nativo de Alexandria, era famoso
pela sua eloquência (At 18.24-26). Ele é mais conhecido pelo seu ministério em
Corinto (At 18.27-19.1; 1Co 1.12; 3.4-22; 16.12).
O vs. 14 mostra Paulo cuidadoso em exortar
e aconselhar para que todos se esforçassem na prática das boas obras. Presumivelmente,
era a intenção de Paulo que essa carta fosse lida para toda a igreja (veja 1Tm
6.21; 2Tm 4.22).
Tt 3:1 Lembra-lhes
que se sujeitem aos que governam, às autoridades;
sejam obedientes,
estejam prontos para toda boa obra,
Tt 3:2 não difamem a ninguém;
nem sejam altercadores,
mas cordatos,
dando provas de toda
cortesia,
para com todos os homens.
Tt 3:3 Pois nós também, outrora,
éramos néscios,
desobedientes,
desgarrados,
escravos de toda sorte de paixões e prazeres,
vivendo em malícia e inveja,
odiosos
e odiando-nos uns aos outros.
Tt 3:4 Quando, porém, se manifestou
a benignidade de Deus, nosso Salvador,
e o seu amor para com todos,
Tt 3:5 não por obras de
justiça praticadas por nós,
mas segundo sua
misericórdia,
ele nos salvou mediante o lavar
regenerador
e renovador do Espírito
Santo,
Tt 3:6 que ele derramou
sobre nós ricamente,
por meio de Jesus Cristo,
nosso Salvador,
Tt 3:7 a fim de que,
justificados por graça,
nos tornemos seus
herdeiros,
segundo a esperança da vida
eterna.
Tt 3:8 Fiel é esta palavra,
e quero que, no tocante a estas coisas,
faças afirmação,
confiadamente,
para que os que têm crido
em Deus
sejam solícitos na prática de boas obras.
Estas coisas são excelentes
e proveitosas aos homens.
Tt 3:9 Evita
discussões insensatas,
genealogias,
contendas
e debates sobre a lei;
porque não têm utilidade
e são fúteis.
Tt 3:10 Evita o homem faccioso,
depois de admoestá-lo
primeira e segunda vez,
Tt 3:11 pois sabes que tal
pessoa está pervertida,
e vive pecando,
e por si mesma está
condenada.
Tt 3:12 Quando te enviar Ártemas ou Tíquico,
apressa-te a vir até Nicópolis ao meu encontro.
Estou resolvido a passar o
inverno ali.
Tt 3:13 Encaminha com diligência
Zenas, o intérprete da lei,
e Apolo, a fim de que não lhes falte coisa alguma.
Tt 3:14 Agora, quanto aos nossos,
que aprendam também a distinguir-se
nas boas obras a favor dos
necessitados,
para não se tornarem
infrutíferos.
Tt 3:15 Todos os que se acham comigo te saúdam;
saúda quantos nos amam na fé.
A graça seja com todos vós.
Embora não sejamos justificados pelas obras - quem tem o Espírito Santo
entende claramente isso -, as nossas obras servem para demonstrar a nossa fé.
As obras não justificam, mas elas demonstram. Eu não alcanço favor de Deus com
obras, mas Deus que alcançou nossos corações nos faz sermos frutíferos e cheios
de obras para a sua glória.
É disso que Paulo fala a Tito no verso 8
para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras,
pois estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens.
Santificação: Quando vou deixar
de pecar?
O termo santificação e palavras associadas (santificado, santo,
santidade, consagrado, consagração, santos) são usados de maneiras diversas nas
Escrituras. Num certo sentido, ser santificado significa ser separado do mundo
- não para salvação, mas para os privilégios e responsabilidades especiais de
uma relação de aliança com Deus (1Co 7.14; Hb 10.29). Em outro sentido, a
santificação é o estado de estar permanentemente separado para Deus visando à
salvação. Essa santidade flui da cruz onde, por meio de Cristo, Deus nos
comprou e nos tomou para si (At 2 0.2 8; 2 6.1 8; Hb 1 0.1 O). Em outro sentido
ainda, a santificação é a consagração dos cristãos pela qual sua vida é
transformada ao longo do tempo de modo a se conformar à semelhança de Cristo.
Essa santificação progressiva ou moral, como é chamada, flui da obra do
Espírito Santo. Deus chama todos os seus filhos a buscarem a santificação e
lhes provê o poder do Espírito para que obedeçam a esse chamado (Rm 8.1 3;
12.1-2; 1Co 6.11,19-20; 2Co 3.18; Ef 4.22-24; 1Ts 4.4; 5.23; 2Ts 2.13; Hb
13.20-21). Essa santificação é voltada para o padrão da lei moral de Deus e
esclarecida e exemplificada pelo próprio Cristo (veja o artigo teológico
"Os três usos da lei", em SI 119).
Os teólogos reformados costumam considerar esse terceiro sentido.
Quando usam o termo santificação, estão se referindo à transformação contínua
dos cristãos que resulta numa vida justa. A regeneração é o nascimento; a
glorificação é o objetivo final; a santificação é o crescimento da regeneração
para o objetivo da glorificação. Na regeneração, Deus instila no coração do
cristão um desejo por Deus, pela santidade e pela santificação e glorificação
do nome de Deus neste mundo. Também instila no seu ser interior um desejo de
orar, adorar, amar, servir, honrar e agradar a Deus, de demonstrar amor e fazer
o bem a outros (veja o artigo teológico "Regeneração e novo
nascimento", em Jo 3). Na santificação, o Espírito Santo "efetua em
[nós' tanto o querer como o realizar, segundo a boa vontade ide Deus" (Fp
2.13), e impele todos os cristãos a desenvolverem a sua salvação (Fp 2.12)
atendendo a esses novos desejos. Os cristãos são predestinados "para serem
conformes à imagem de (Cristo)" (Rm 8.29), e essa conformidade ocorre, até
certo ponto, ainda nesta vida terrena. Paulo descreve esse processo como ser
"transformados, de glória em glória, na sua própria imagem" (2Co 3.1
8). Portanto, a santificação é o início da glorificação que se completará
quando Cristo trouxer os novos céus e nova terra (1 Co 1 5.4 9-5 3; Fp
3.20-21).
Na teologia reformada tradicional, a regeneração é um ato instantâneo
de Deus que desperta aqueles que estão espiritualmente mortos. É uma obra
realizada exclusivamente por Deus que efetua o novo nascimento. A santificação,
por outro lado, é contínua e requer a nossa cooperação. E um processo pelo qual
pessoas regeneradas, vivificadas para Deus e livres do domínio do pecado (Rm
6.11,14-18), devem se esforçar em obediência contínua mediante a dependência
consciente do Espírito de Cristo. Paulo descreve a santificação tanto como um
esforço humano quanto como uma obra divina. Por exemplo, o apóstolo reconhece o
seu próprio esforço quando diz "prossigo para conquistar aquilo para o que
também fui conquistado por Cristo Jesus" (Fp 3.12). Perto do fim de sua
vida, ele declara, "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a
fé" (2Tm 4.7). No entanto, Paulo também adverte os gálatas: "Sois
assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos
aperfeiçoando na carne?" (GI 3.3) e rejeita qualquer ideia de que somente
o esforço humano é suficiente para a santificação, declarando, "logo, já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (G1 2.20). Cientes de nossa
impossibilidade de fazer o que é preciso sem a capacitação de Cristo e sabendo
que ele está pronto para nos fortalecer para esse fim (Fp 4.13), devemos
depender conscientemente do seu Espírito de modo a recebermos poder para todos
os nossos esforços (C1 1.11; 1Tm 1.12; 2Tm 1.7; 2.1).
Apesar da orientação do Espírito, os verdadeiros cristãos experimentam
conflitos interiores. O Espírito sustenta os seus desejos regenerados, mas a
sua natureza humana decaída ainda não foi destruída e os desvia constantemente
da prática da vontade de Deus (GI 5.1 6-1 7; Tg 1.1 4-1 5). Esse conflito continuará
enquanto os cristãos estiverem nesta vida. No entanto, ao vigiarmos e orarmos
contra a tentação e cultivarmos virtudes que nos auxiliem na nossa batalha,
poderemos, com a ajuda do Espírito, experimentar muitos livramentos e vitórias
específicas nos nossos confrontos com o pecado.
Essas vitórias sobre o pecado não tornam o cristão merecedor da
salvação. Nosso mérito diante de Deus vem de nossa justificação somente pela fé
pela imputação da justiça de Cristo (Rm 4.1-4). Apesar de não podermos jamais
nos esquecer que o nosso único mérito diante de Deus é a justiça que recebemos
de Cristo, devemos atentar para as palavras do autor de Hebreus: "Segui a
paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb
12.14). Veja CFLV 8; CB 24.[1]
[1]Extraído
da BEG referente ao capítulo 3 de Tito.
...
Obs.: O texto acima foi elaborado com base na Bíblia de Estudo de Genebra - disponível em nossa loja nas cores preta, vinho ou azul. Valor promocional R$ 145,00 (fev/2019 - preço sujeito a variações, conforme o mercado). Adquira conosco e ganhe um ebook da série Projeto 1189. Código: BRINDE_BEG. Envie-nos um email com o comprovante de sua compra na Semeadores: contato@ossemeadores.com.br.
Estamos vendo que Paulo escreveu essa epístola, provavelmente, entre 62-64
d.C., para incentivar Tito a completar a organização das igrejas em Creta,
confrontar as ações de falsos mestres nessa região e instruir os crentes a
terem uma conduta cristã apropriada. Estamos no capítulo 2/3.
Breve
síntese do capítulo 2.
São mais e mais conselhos e exortações de tratamento do nosso próximo
levando-se em conta a são doutrina. São conselhos para quem está a frente de
uma obra de Deus. Ele fala como devemos tratar cada um, de acordo com sua
categoria, respeitando a todos.
Assim, ele mostra a Tito como ele deve ter em mente seus ensinos de
forma a formar em cada um o que considera ideal com relação aos homens idosos,
às mulheres idosas, aos moços, aos servos.
Reparem na sua linguagem: “que os homens idosos sejam...”. Ele não fala
do que eles são, mas do que ele espera que sejam. Não estou certo? E agora,
qual o desafio de Tito e Qual O Desafio Do Pastor Moderno Com Relação Aos
Idosos, Moços E Servos?
Vejamos o presente capítulo com mais
detalhes, conforme ajuda da BEG:
II. INSTRUÇÕES A TITO (1.5-3.11) - continuação.
Vimos que Paulo deu a Tito a
responsabilidade de cuidar das igrejas em Creta. Tito deveria organizar as
igrejas constituindo ministros qualificados e também fazer oposição aos falsos
mestres.
Assim, estamos seguindo nossa divisão
proposta, conforme a BEG: A. Organização das igrejas em Creta (1.5-9) – já vimos; B. Lidando com falsos
mestres (1.10-16) – já vimos; C.
Instruções para grupos específicos (2.1-15) – veremos agora; D. Instruções para todos os cristãos (3.1-8); e, E.
Lidando com falsos mestres (3.9-11).
C. Instruções para grupos específicos (2.1-15).
Dos vs. 1 ao 15, veremos as instruções para
grupos específicos. Paulo enfatizou os tipos de coisas que Tito, em contrate
com os falsos mestres, deveria ensinar.
Paulo começou e terminou com uma exortação
a Tito (vs. 1,15). Ele deu instruções específicas sobre como os homens mais
velhos, as mulheres mais velhas, as mulheres mais novas, os homens mais novos
(vs. 2-8) e os escravos (vs. 9-10) deveriam viver. Depois, ele explicou a base
para a moral de todo cristão (vs. 11-14). Elas formarão a seguinte proposta de
divisão, conforme a BEG: 1. A primeira recomendação a Tito (2.1) – veremos agora; 2. Velhos e jovens,
homens e mulheres (2.2-8) – veremos agora;
3. Escravos (2.9-10) – veremos agora;
4. A base da vida cristã (2.11-14) – veremos
agora; e, 5. A recomendação final a Tito (2.15) – veremos agora.
1. A primeira recomendação a Tito (2.1).
A primeira recomendação a Tito, aqui, foi
que Paulo deu a Tito a responsabilidade de ensinar a "sã doutrina"
que foi designada para cada grupo específico de pessoas nas igrejas de Creta.
2. Velhos e jovens, homens e mulheres (2.2-8).
Dos vs. 2 ao 8, ele deverá ter em mente os
velhos e jovens, homens e mulheres. Tito deveria considerar a idade e o sexo
das pessoas que ele liderava, porque cada grupo tinha suas necessidades
especiais (cf. 1Tm 5.1-2).
Ele deveria ensinar a eles:
·Sóbrios.Essa qualidade domina o
conselho de Paulo essa seção (vs. 4-6,12; veja 1.8).
·Dignos
de respeito.
·Sensatos.
·Sadios
na fé, no amor e na perseverança.
Semelhantemente, também deveria ser as
mulheres mais velhas:
·Reverentes
na sua maneira de viver.
·Não
serem caluniadoras.
·Não
serem escravizadas a muito vinho.
·Serem
capazes de ensinar o que é bom ou serem mestras do bem. Isso provavelmente se
refere à conduta delas em casa, como o próximo versículo sugere.
O vs. 4 fala que agindo bem as mulheres
mais velhas, poderiam ensinar as mais jovens ou instruírem. Uma forma verbal do
adjetivo traduzido como "temperança" ao longo dessa seção. Paulo o
repetiu no próximo versículo.
Ele provavelmente tinha em mente problemas
que algumas das jovens viúvas estavam encontrando em Éfeso (1Tm 5.11-13).
Observe que apesar de Paulo ter dado a Tito
ensinamento direcionado a homens velhos, mulheres velhas e homens jovens, ele
instruiu Tito a preparar as mulheres idosas a instruírem mulheres jovens.
Ensinar às mulheres jovens indiretamente em
vez de diretamente eliminaria um tipo de tentação para Tito e faria bom uso dos
dons de ensino das mulheres mais velhas.
Em contraste com o comportamento de algumas
das viúvas jovens em Éfeso (1Tm 5.13), esse versículo não sugere que cuidar da
casa seja a única vocação permitida a uma mulher cristã.
Em vez disso, o versículo instrui mulheres
jovens e casadas (provavelmente com filhos pequenos) a cuidar das tarefas da
sua própria casa, em vez de se intrometerem nas casas alheias (cf. 1 Tm 5.14).
Elas também deveriam ser sujeitas ao marido
para que a palavra de Deus não fosse difamada. A preocupação primordial de
Paulo ao longo dessa seção era a de que o comportamento do cristão deveria
refletir positivamente o evangelho (vs. 8,10).
Paulo deu conselhos semelhantes para
Timóteo (1Tm 4.12). O seu desejo seria de que Tido estivesse ocupado com o
fazer boas obras. Um dos temas principais de Paulo ao longo dessa carta (vs.
14; 3. ,8,14).
·Em
tudo, Tito deveria ser um exemplo.
·Deveria
estar ocupado, como dissemos, fazendo boas obras.
·Deveria
mostrar em seu ensino, integridade e seriedade.
·Deveria
usar linguagem sadia, contra a qual nada se poderia dizer. Se alguém se
levantasse contra, ficariam envergonhados por não terem nada de mal para dizer
a respeito deles.
3. Escravos (2.9-10).
Paulo também falou aos servos – vs. 9 e 10.
A dinâmica do relacionamento entre senhores e servos em Creta requeria atenção
especial.
Sem aprovar a escravidão (cf. 1Co 7.21; 1
Pe 2.18), Paulo queria que Tito encorajasse os servos em seus sofrimentos.
Paulo deu mais instruções sobre os servos em outras cartas (Ef 6.5-8; Cl
3.22-25; 1Tm 6.1-2).
Com relação aos escravos ele disse:
·Ensine-os
a se submeterem em tudo a seus senhores.
·A
procurarem agradá-los.
·A
não serem respondões.
·A
não roubá-los.
·A
se mostrarem que são inteiramente dignos de confiança.
·O
ensino de Deus, nosso Salvador, deveria ser atraente a fim de ornarem, em todas
as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador.
4. A base da vida cristã (2.11-14).
Esses versículos fornecem a base teológica
para as instruções práticas dadas nos vs. 2-10.
A graça de Deus se manifestou salvadora a
todos os homens.
A compaixão de Deus pelos pecadores, que
eles não merecem. O propósito de Deus em estender a sua graça aos pecadores é a
salvação deles (3.4-7; 2Tm 1.9).
A manifestação dessa graça se deu em Jesus
Cristo (3.4,6; 2Tm 1.10) a todos os homens. Todos os tipos de pessoas estão em
vista aqui, independentemente de sexo, idade, raça ou classe social (vs. 2-10;
1Tm 2.1-6).
E essa graça nos ensina a vivermos sensata,
justa e piedosamente. Esse versículo fornece um "antídoto", por assim
dizer, para a caracterização dos cretenses como "mentirosos, feras
terríveis, ventres preguiçosos" (1.12).
·Em
vez de serem "mentirosos", eles deveriam ser "piedosos" (Nm
23.19).
·Em
vez de serem "feras terríveis", deveriam ser "justos".
·E
ao contrário de terem "ventres preguiçosos", deveriam ser
"sensatos".
Como falamos, essa graça nos ensina a
vivermos sensata, justa e piedosamente enquanto aguardamos a bendita esperança
e a manifestação da glória, ou seja, a segunda vinda (1Tm 6.14; 2Tm 4.1,8) de
nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo - essa é uma das mais claras
afirmações no Novo Testamento da divindade de Cristo – vs. 13.
Foi ele, Jesus Cristo, que se deu a si
mesmo por nós. Cristo livremente se deu como um substituto para os pecadores.
Depois disso, Paulo declarou dois propósitos
para a morte de Cristo.
(1)A
fim de remir-nos de toda a iniquidade. Aqui Paulo enfatizou o individual:
Cristo pagou o preço necessário a fim de libertar as pessoas de seus pecados
(Mt 20.28; Mc 10.45; 1Tm 2.6; 1Pe 1.18-19).
(2)A
fim de purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu. Aqui Paulo
focalizou a igreja: Cristo purifica indivíduos de seus pecados (Hb 9.14; 1 Jo
1.7,9) para que, juntos, possam constituir o seu povo especial (Ez 37.23; Ef
5.25-27) o qual deveria ser zeloso de boas obras.
5. A recomendação final a Tito (2.15).
Paulo completou as instruções para os
grupos específicos dentro da igreja exortando Tito, pela segunda vez, acerca de
suas responsabilidades. Ele deveria ensinar, exortar e repreender com toda
autoridade. Tito tinha significativa autoridade porque ele era o representante
de Paulo.
Tt 2:1 Tu, porém,
fala o que convém à sã doutrina.
Tt 2:2 Quanto aos homens idosos,
que sejam temperantes,
respeitáveis,
sensatos,
sadios
na fé,
no amor
e na constância.
Tt 2:3 Quanto às mulheres idosas, semelhantemente,
que sejam sérias em seu proceder,
não caluniadoras,
não escravizadas a muito vinho;
sejam mestras do bem,
Tt 2:4 a fim de instruírem as jovens
recém-casadas
a amarem ao marido e a seus
filhos,
Tt 2:5 a serem sensatas,
honestas,
boas donas de casa,
bondosas,
sujeitas ao marido,
para que a palavra de Deus
não seja difamada.
Tt 2:6 Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os para que,
em todas as coisas, sejam criteriosos.
Tt 2:7 Torna-te, pessoalmente,
padrão de boas obras.
No ensino, mostra
integridade,
reverência,
Tt 2:8 linguagem sadia
e irrepreensível,
para que o adversário seja
envergonhado,
não tendo indignidade
nenhuma
que dizer a nosso respeito.
Tt 2:9 Quanto aos servos, que sejam,
em tudo, obedientes ao seu senhor,
dando-lhe motivo de
satisfação;
não sejam respondões,
Tt 2:10 não furtem;
pelo contrário,
deem prova de toda a fidelidade,
a fim de ornarem, em todas
as coisas,
a doutrina de Deus, nosso Salvador.
Tt 2:11 Porquanto a graça de Deus se manifestou
salvadora a todos os homens,
Tt 2:12 educando-nos para que,
renegadas a impiedade e as
paixões mundanas,
vivamos, no presente
século,
sensata,
justa
e piedosamente,
Tt 2:13 aguardando a bendita esperança
e a manifestação da glória
do nosso grande Deus
e Salvador Cristo Jesus,
Tt 2:14 o qual a si mesmo
se deu por nós,
a fim de remir-nos de toda
iniqüidade
e purificar, para si mesmo,
um povo exclusivamente seu,
zeloso de boas obras.
Tt 2:15 Dize estas coisas;
exorta
e repreende também
com toda a autoridade.
Ninguém te despreze.
A graça de Deus se manifestou salvadora e isso para todos os homens! É
ela também que nos educa em dois sentidos. Primeiro, para renegarmos a
impiedade e as paixões humanas. Segundo, para vivermos sensata, justa e
piedosamente neste século. Mas como? A resposta está no próprio versículo:
aguardando! O que devemos aguardar? A bendita esperança e a manifestação da
glória do nosso Grande Deus e Salvador Cristo Jesus.
Obs.: O texto acima foi elaborado com base na Bíblia de Estudo de Genebra - disponível em nossa loja nas cores preta, vinho ou azul. Valor promocional R$ 145,00 (fev/2019 - preço sujeito a variações, conforme o mercado). Adquira conosco e ganhe um ebook da série Projeto 1189. Código: BRINDE_BEG. Envie-nos um email com o comprovante de sua compra na Semeadores: contato@ossemeadores.com.br.
Em cada capítulo da Bíblia, você encontrará uma narrativa escrita podendo conter gráficos, tabelas, imagens e textos e um link de vídeo dessa postagem no YouTube. Confira!
Colabore: faça sua oferta voluntária! Entre em contato conosco para isso: +55-61-995589682
Nosso Projeto 1189 no YouTube começou em 21/04/2016 e foi concluído em 23/07/2019.
Não esqueça de citar a fonte quando for fazer citações, referências em seus posts, pregações e livros. Acompanhe-nos no YouTube e em nossas redes e mídias sociais. Ajude-nos com suas orações!
As mensagens do JAMAIS DESISTA do caminho do Senhor são diárias, inéditas, baseadas na Bíblia e buscando sua conformação máxima à teologia reformada e representam o pensamento do autor na sua contínua busca das coisas pertencentes ao reino de Deus e a sua justiça.
Em cada capítulo da Bíblia, você encontrará uma narrativa escrita - com gráficos, tabelas, imagens e textos - e um link de vídeo dessa postagem no YouTube. Confira!
Paulo Freire – Uma avaliação relâmpago
-
É sempre surpreendente, para mim, ver que a maioria das referências feitas
ao professor Paulo Freire (1921-1997) são benevolentes e eivadas de
admiração. ...
TRANSTORNANDO O CALVINISMO
-
A doutrina Calvinista é a mais bela expressão do ensino bíblico
transmitida a nós pelo seu maior representante - João Calvino. É claro, a
de se ori...