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terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O MERCADO DE LIVROS NO BRASIL E SUAS CRISES


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Vejo duas e isso basta! Crises distintas, que juntas trouxeram caos e o desequilíbrio no negócio do livro no Brasil. A primeira está ligada à crise moral, política e econômica, que assola o país desde 2013. Pior, parece não ter fim. Crise que levou o país a recessão e a sua quase estagnação.

O Brasil encolheu e o negócio do livro sofreu junto. Projetos foram adiados e perdidos e muitos, infelizmente, morreram. Mais de 40 mil novos títulos deixaram de ser publicados no Brasil, somente nos últimos três anos. O mercado gráfico, que tem no editorial o seu segundo maior patrimônio, perdeu 22 mil postos de trabalho. Em 10 anos, o negócio do livro encolheu pouco mais de 20%.
A partir de 2017, iniciou-se uma lenta e gradual recuperação. O otimismo voltou e muitos julgaram que o pior já tinha passado. Os números - mesmo tímidos - apontavam isso. A segunda crise - previsível e já esperada por parte do mercado – veio com a recuperação judicial das duas maiores redes de livrarias do país: Saraiva e Cultura.
Os motivos da segunda crise, além da recessão e da estagnação da economia, atribuídas à primeira, foram pontuais: Abertura além da conta de superlojas, as chamadas megas, com custos estratosféricos; má gestão e pouco ou nenhuma transparência na relação comercial entre editoras e livrarias; preço médio do produto livro, em queda desde 2004, versus custos de produção indexados e crescentes no período; prática de preços e descontos abusivos e, mais do que tudo, da fragilidade do próprio modelo de negócio, hoje ultrapassado.
O livro no Brasil não está em crise. Somos mais de 23 milhões de leitores, com uma produção anual de mais de 350 milhões de exemplares. O mercado atravessa dificuldades, não poderia ser diferente dos demais, que também sofrem da mesma angustia “sistêmica” que assola todos os setores produtivos do país. O que “quebrou” estava doente. Não vamos aqui “pregar” o fim das duas redes. Longe disso. Elas sadias e funcionando em sinergia com o mercado são importantíssimas para o negócio do livro. Tenho certeza que o mercado irá ajudá-las na recuperação, fornecendo livros. Caberá aos “ajudados” respeitar e honrar, quando possível, o sacrifício do setor.
Ainda sobre as livrarias, cabe observar, que outras redes, menores e enxutas, estão crescendo e ampliando com inteligência e oportunismo os seus negócios. Outro dia, conversando com um amigo e proprietário de uma rede de livrarias de médio porte, ele me confessou: “vamos readequar as nossas lojas em tamanho e eficiência”. Achei isso incrível e oportuno.
Novas livrarias, menores e funcionais, estão surgindo Brasil afora. Crescemos na dor, já dizia o poeta da carne. Importante agora separarmos uma crise da outra, até para que possamos cuidar de ambas, com sapiência. Há quem diga - também gosto de pensar assim - que a crise dois, a das megas, veio na hora certa. Veio junto com o recomeço do negócio do livro no Brasil. Não podíamos continuar praticando e trabalhando nos erros de sempre.
Outro dia, em uma reunião do Grupo Editorial da Abigraf, do qual sou Diretor, escutei de um amigo gráfico: “Precisamos urgentemente voltar a gostar das nossas empresas”. Importante pensar assim. Temos muitas lições por fazer. Façamos! Hora de reescrever cabeçalhos, revisar rodapés, reescrever orelhas e versos de capa. Ora de pintar papel e voltar a colorir de letras o incrível mundo das palavras.
Desde menino optei pelo livro.
Meu saudoso avô materno, José Scortecci, editor e gráfico da Revista PAN, que na edição de número 227, de 25 de maio de 1940 publicou Triunfo, texto de estreia de Clarice Lispector, montou tipos móveis na minha cachola de chumbo.
Reescrevo agora - parte - do que ele me disse nas palavras de Clarice:
“O Relógio bate 9 horas. Uma pancada alta, sonora, seguida de uma balada suave, um eco. Depois, o silêncio. A clara mancha de sol se estende em pontos pela relva do jardim. Vem subindo pelo muro vermelho da casa, fazendo brilhar a trepadeira em mil luzes de orvalho. Encontra uma abertura, a janela. Penetra. E apodera-se de repente do aposento, burlando a vigilância da cortina leve”.
p/ João Scortecci

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