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sábado, 23 de maio de 2015

"No essencial, unidade; Nas opiniões, liberdade; Em todas as coisas o amor".

"NO ESSENCIAL, UNIDADE; NAS OPINIÕES, LIBERDADE; EM TODAS AS COISAS, O AMOR"

Introdução

A divisa acima, tema desse artigo, é um dos principais lemas do movimento designado em seu tempo como “A Reforma Presente”. Ele teve início no século XIX e só no século seguinte ficou conhecido como “Movimento de Restauração” ou “Movimento Stone-Campbell”. Seus principais líderes foram Barton Stone, Thomas Campbell e, especialmente, Alexander Campbell. “A Reforma” de Stone e Campbell buscava a unidade da igreja e uma "volta à Bíblia”. Nessa busca pela unidade cristã, os “reformadores”, assim eram chamados os pioneiros do nosso movimento, aceitaram como princípio o famoso “Provérbio de Maldenius”:

“Na unidade dos fundamentos, na liberdade dos não-fundamentos, em todas as coisas caridade”.1


O irmão J. H. Garrison escreveu que Rupertus Maldenius sussurrou esse provérbio às gerações futuras por volta de 1627 ou 1628, durante a Guerra dos Trinta Anos, e cinqüenta anos mais tarde Richard Baxter fez uma referência a ele.2 Esse conflito armado teve início em 1618 por causa de diferenças religiosas entre católicos e protestantes e é uma conseqüência da Reforma Protestante. Essa “guerra religiosa” promoveu grandes matanças, verdadeiros banhos de sangue, e a paz só veio com o “Tratado de Westphalia” em 1648.3

O “Provérbio de Maldenius” sintetiza o que os pioneiros pensavam sobre a busca pela unidade cristã. E, além disso, reflete o que o Novo Testamento ensina sobre o assunto, pois suas páginas mostram que os Apóstolos e as igrejas bíblicas não concordavam em tudo. Pelo contrário, naquilo que era essencial eles tinham unidade, mas nas opiniões usufruíam da liberdade que há no Espírito. Portanto, os princípios contidos nele são bíblicos. No Brasil esse provérbio ficou conhecido na seguinte versão: “No essencial, unidade; Nas opiniões, liberdade; Em todas as coisas, o amor”.4 Confira abaixo como explicamos esse lema.

No Essencial, Unidade.

Certa vez perguntaram a Alexander Campbell quem é um cristão e ele respondeu dizendo “que um cristão é todo aquele que crê em seu coração que Jesus de Nazaré é o Messias, o Filho de Deus vivo, que se arrepende de seus pecados e lhe obedece em todas as coisas de acordo com a medida do seu conhecimento e com toda sua vontade.” Para ele o reconhecimento de Cristo como Messias era a base para se unir à igreja. Assim, o essencial para nós é a confissão de fé afirmando o senhorio de Jesus Cristo.


Como Alexander Campbell, também ensinamos que não se deve exigir nada mais para aceitar alguém na comunhão, pois a irmandade não pode ser condicionada a credos humanos. Portanto, podemos resumir dizendo que nas crenças essenciais nós temos unidade com todos os discípulos de Cristo:

“Há um só corpo e um só Espírito - assim como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós” (Efésios 4:4-6).

No entanto, reconhecemos que há diferenças doutrinárias entre os cristãos e que elas são, muitas vezes, a causa de inúmeras divisões na Igreja de Deus em Cristo Jesus. Por outro lado, entendemos que a busca pela unidade da Igreja de Cristo no século XXI, que é a vontade de Deus para nós em todos os tempos, passa, sem dúvida, pela concordância nas doutrinas essenciais e pela tolerância nas doutrinas secundárias.

Uma doutrina essencial é “aquela que tem um impacto significativo sobre o nosso pensamento sobre outras doutrinas ou em como vivemos a vida cristã”.5 Sabemos se uma doutrina é essencial pelo fato dela “estar presente em várias culturas, por sua aplicação universal, por ter um fator reconhecidamente por base, sua ligação indissolúvel com uma experiência essencial e sua posição final dentro da revelação progressiva”.6


Baseados nisso podemos considerar como exemplos de doutrinas essenciais da fé cristã os seguintes ensinos: a autoridade da Bíblia; a Trindade; a divindade de Cristo; a necessidade de uma expiação pelos pecados dos homens e a satisfação deles por meio da morte de Cristo; a justificação pela fé e não por obras; a ressurreição de Cristo; o sacerdócio universal dos crentes; a prática do batismo; o ser humano como macho e fêmea; a imortalidade da alma; o castigo eterno dos ímpios.

Nas Opiniões, Liberdade.

Quando Alexander Campbell publicou o “Sistema Cristão” foi muito criticado e acusado de criar novas doutrinas para a Igreja. A crítica serviu para distinguir entre a revelação essencial que forma a Igreja e a validade relativa das doutrinas secundárias. Ele disse:

“Nós falamos por nós mesmos e ainda que estejamos dispostos a dar a nossa declaração de fé e do nosso conhecimento do sistema cristão, nos posicionamos firmemente contra a imposição dogmática de nossos pontos de vista, ou de quaisquer outros falíveis e mortais, como condição ou fundamento de união e cooperação”.

A tolerância e o apreço às opiniões dos demais nos enriquecem. Porém, as opiniões - fruto das diferentes interpretações que certos textos bíblicos permitem - devem ser mantidas como tal e nunca como artigos de fé. Elas até podem ser aceitas como expressões de valor da fé, mas não como uma condição para a comunhão. Se aprendermos a distinguir o essencial do secundário permaneceremos unidos. A nossa união não está fundamentada na uniformidade doutrinária, mas no amor de Cristo e isso se evidencia na grande diversidade do nosso movimento (e das igrejas do Novo Testamento). Portanto, nas crenças secundárias, não essenciais, nós somos tolerantes com todos os irmãos em Cristo:

“Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas... Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está de pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar... De maneira que cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus... Bem-aventurado aquele que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come é condenado... e tudo que não provém de fé é pecado” (Romanos 14:1,4,12,22b,23).

Uma doutrina secundária, diferentemente da essencial, é “aquela que não é tão impactante sobre o nosso pensamento a respeito de outras doutrinas ou em como vivemos a vida cristã”.7 São exemplos de doutrinas secundárias: a forma de governo da Igreja; quando se dá o batismo com o Espírito Santo; diferenças quanto aos dons carismáticos; a periodicidade da Ceia do Senhor; o papel da mulher na Igreja; o estilo de adoração e louvor; diferenças relacionadas ao conceito de santidade; a designação dada a Igreja; o significado do batismo cristão; diferenças quanto ao Milênio e a Grande Tribulação; a extensão da expiação. Reconhecemos que os cristãos podem “divergir sobre o grau de importância que deve ser atribuída a qualquer uma das doutrinas acima, levando em conta as circunstâncias históricas e necessidades da igreja num dado momento. No entanto, podemos divergir nessas doutrinas, sem contudo deixar de ter uma comunhão verdadeira e genuína, concordando nas demais”.8

Em Todas as Coisas, o Amor.

O amor é a ponte entre o essencial e o secundário, entre o absoluto e o relativo, entre o básico e o derivado, entre o divino e o humano. É o amor de Jesus em nós que permite que haja unidade na Igreja, pois basta estar presente em um pequeno grupo nas casas (ou célula) para observar que não há duas pessoas que estejam de acordo em tudo. Pense em uma congregação inteira? E se ela tiver centenas ou milhares de membros? Imagine, então, a Igreja de Cristo sobre toda a face da terra? Há uniformidade? Como poderemos estar unidos sem o amor de Cristo? Reflita sobre isso.
Existe, ainda, a possibilidade de alguém desenvolver uma “vida religiosa disciplinada” (falsa espiritualidade) sem ter o amor e justiça de Deus. Essa pessoa até pode falar em línguas, profetizar, saber todos os mistérios, ter grande conhecimento (inclusive bíblico, doutrinário ou teológico) e fazer grandes coisas. Porém, sem o amor de Jesus ele seria um discípulo verdadeiro? O Novo Testamento diz que tal pessoa é vã, efêmera e passageira como o som que sai do badalar dos sinos. Aos olhos de Deus ele não é nada:

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor, nada serei” (1Coríntios 13:1-2).

Portanto, em todas as coisas nós devemos sempre demonstrar o amor de Jesus. “O amor é o cartão de identidade do cristão!”

Notas:
  1. HALEY, T. P. Unity in Diversity (Relatório Convenção Centennial, 1910 – ed. W. R. Warren), disponível na Internet, pág. 01.
  2. GARRISON, J. H. (Editor Christian-Evangelist), Christian Union: A Historical Study, disponível na Internet, pág. 37.
  3. CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, pág. 990.
  4. Também encontramos as seguintes variações: “No essencial, unidade; No secundário, tolerância; Em tudo, amor” ou "No essencial, unidade; Nos não-essenciais, tolerância; Em tudo, amor” .
  5. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática, pág. 09
  6.  ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática, pág. 33 a 37.
  7. GRUDEM, ob. cit., pág. 09. 8. Ob. cit., pág. 09 e 10.
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