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quinta-feira, 26 de março de 2015

Lamentações 1:1-22 - JEREMIAS LAMENTA POR JERUSALÉM DESTRUÍDA E DESOLADA.

Agora que terminamos o livro de Jeremias, veremos a sua continuação em forma de lamentos, composta de cinco capítulos distribuídos, cada capítulo em 22 versículos, sendo que o terceiro capítulo conterá 3 x 22 versículos. No total seriam mesmo sete seções de 22 versículos cada, totalizando 154 versículos.
Perceberemos em Lamentações um amplo uso de acróstico, onde cada versículo se inicia com uma letra do alfabeto hebraico que no total contém 22 letras – veja outro exemplo no Sl 34.
Lamentações amolda-se muito estreitamente a esse padrão nos caps. 1; 2; 4.
O cap. 3 tem um padrão diferente, pois inclui vinte duas estrofes, cada uma delas com três versos que começam com a mesma letra  - 66 dividido por 3 é igual a 22.
O cap. 5 não é, de modo algum, um acróstico, embora também compreenda vinte e dois versos.
No Antigo Testamento, a forma de acróstico provavelmente representava a expressão completa de um sentimento ou tema.
Além disso, a obra artística do poeta era um ato de devoção ao Senhor. Na meditação devocional, o acróstico produz um delicado equilíbrio entre a extrema emoção e o controle disciplinado.
Os cinco capítulos de Lamentações compreendem cinco poemas distintos que também estão presentes em outros livros do Antigo Testamento, principalmente em Salmos.
Os lamentos (tanto da comunidade, quanto do indivíduo) apresentam certas características típicas:
·         Queixas sobre a adversidade.
·         Confissão de confiança.
·         Súplica por livramento.
·         Confiança na resposta de Deus — com frequência incluindo a certeza de que os inimigos e perseguidores iriam, por sua vez, defrontar-se com a sua ira (veja, p. ex., SI 74).
Lamentações exibe essas características comuns, mas inclui também algumas variações.
O livro compartilha com outros lamentos certo estilo poético, isto é, a chamada métrica qinah. Esse ritmo poético consiste de dois versos nos quais a primeira frase tem três acentuações fortes (em hebraico) e a segunda tem duas.
Estamos nos baseando no texto da BEG e adaptando-o, visando uma melhor compreensão, conforme vamos analisando cada capítulo.
A autoria do livro é desconhecida, embora aceite-se tradicionalmente que tenha sido escrito pelo próprio Jeremias ou tenha sido compilado de diversas fontes existentes à época. A data provável seria entre 586-516 a.C.
O propósito que se depreende do texto é expressar e orientar outros em suas expressões de lamento sobre as terríveis condições impostas sobre Jerusalém e sobre o povo de Deus pelos babilônios.
As suas verdades fundamentais: Judá e Jerusalém mereceram a decisão que resultou do julgamento divino a que foram submetidas. Não fosse o alívio proporcionado pelo lamento, a dor da destruição e do exílio seria maior do que as pessoas poderiam suportar. A única esperança de libertação do sofrimento causado pelo exílio era apelar a Deus para que fosse misericordioso.
Contextualização.
Ambiente: Judá e, em particular, Jerusalém.
Conteúdo: especialmente o lamento sobre a perda do rei de Judá (2.2,9).
Época: depois da conquista do reino de Judá pelos babilônios em 586 a.C. e antes da reconstrução do templo em c. 516 a.C.
Comparações: Jeremias predisse a queda de Jerusalém; enquanto o escritor de Lamentações expressou a dor suportada pelo cumprimento dessa profecia.
Propósito e características:
O propósito de Lamentações foi cumprido na própria execução do livro e, depois, na sua aceitação por outros como um meio de conformar-se com a destruição de Sião.
O livro apresenta, conforme a BEG, três perspectivas harmoniosas sobre a ira de Deus vertida em grande quantidade contra Judá por meio dos babilônios.
1.      Primeiro, o livro afirma que a destruição e o exílio foram consequências justas do pecado. Os profetas haviam repetidamente advertido Judá de que, se o povo continuasse a violar a aliança que Deus havia feito com eles, o julgamento aconteceria. Muito antes de Jeremias, Amós falou sobre um dia do Senhor contra o seu povo (Am 5.18), e esse dia havia chegado (Lm 1.12). Os profetas haviam recorrido aos princípios da aliança, expressos mais enfaticamente em Deuteronômio, os quais estabelecem uma forte ligação entre a fidelidade do povo ao Senhor e a sua permanência na Terra Prometida. Em parte, o propósito do livro era justificar a punição de Deus imposta a Judá e defender os profetas que haviam anunciado o julgamento com antecedência.
2.      Segundo, expressar a forte resistência emocional ao julgamento de Judá.
3.      Terceiro, o livro afirma que o Senhor ainda é um Deus de misericórdia e fidelidade (veja 3.22-36). Lamentações expressa uma fé sincera de que o exílio terá um fim. Também expressa a esperança de que haverá reparação para a culpa de Judá e que os seus inimigos serão julgados pelos crimes que cometeram contra o povo. Essa esperança reflete uma compreensão da soberania de Deus sobre todas as nações, uma soberania que assegurou o cumprimento de todas as suas promessas pactuais (veja 3.37-39).
Cristo em Lamentações.
Ora, Cristo está presente em todas as Escrituras pois elas falam dele. Lamentações não é diferente, ela aponta, de diversas maneiras importantes, para além da situação do exílio, para Cristo.
Em sua humilhação, Jesus sofreu um tipo de exílio em razão de sua expiação substitutiva pelo povo de Deus.
É curioso observar que nos dias anteriores ao seu próprio grito de abandono como parte do seu sofrimento redentor (Mt 27.46), Jesus pronunciou também o seu lamento pessoal sobre Jerusalém (Mt. 2 3.37 ; Lc 13.34-43).
A exaltação de Cristo deu início ao fim do sofrimento do povo de Deus. Ele assumiu o seu trono e continuará a reinar, subjugando, finalmente, todos os seus inimigos.
Lamentações também proporciona aos seguidores de Cristo um meio de expressar os seus próprios lamentos sobre as condições de vida do povo de Deus no presente.
Embora Cristo tenha inaugurado o reino de Deus e a exaltação do povo de Deus, a igreja continua a sofrer privação e exílio – I Pe 1:2.
Lamentações afirma que, num mundo de dor e injustiça, Deus ainda é bom e que um dia ele trará toda a bondade “para os que esperam por ele” (3.25).
Faremos agora a divisão proposta de Lamentações para nossos próximos cinco dias de reflexão:
I. Sião jaz devastada e sem nenhum consolo (1.1-22). II. A ira do Senhor contra Judá (2.1-22); III. Lamento e consolação (3.1-66); IV. O presente e o futuro de Sião (4.1-22); V. o apelo de Judá pelo auxílio de Deus (5.1-22).
I. SIÃO JAZ DEVASTADA E SEM NENHUM CONSOLO (1.1-22).
Lamentações inicia com um lamento descrevendo Jerusalém, a capital de Judá, a cidade da gloriosa presença de Deus, em tenebrosa ruína.
O primeiro versículo marca o tema desse lamento: Jerusalém, a cidade outrora favorecida, mas agora desolada, perdeu a sua grandeza em razão das depredações dos babilônios (cf. Is 1.21-26).
Ela era populosa e grande. A grandeza anterior de Jerusalém é enfatizada pelo duplo uso da palavra hebraica traduzida nesse versículo por duas palavras na nossa língua: “populosa" e "grande”. Era uma cidade rica e muito populosa. A cidade havia sido um microcosmo que prefigurava toda a nova criação futura (cf. Ap 21).
Agora se tornara viúva e estava em solidão. A viuvez e solidão - cf. Jr 15.17 - retratavam abandono ou ausência de bênção. Também, doravante estaria sujeita a trabalhos forçados. Trabalhos forçados ou escravidão eram a antítese do plano de Deus para Israel, libertado da escravidão do Egito (Lv 26.13).
Veja Jr 2.14 sobre a rejeição do conceito de Israel como escravo, assim como Dt 15.12-18, que atribui a liberdade essencial de Israel à legislação social que exigia, ao sétimo ano, a emancipação de todos os israelitas mantidos como escravos. O exílio era a pior das maldições da aliança. (A BEG tem um quadro interessante para estudo e reflexões, chamado “As principais alianças na Bíblia", em Gn 9, pág. 27).
Por isso que Jerusalém estava chorando à noite sem consolo algum. Essa frase aparece cinco vezes nesse primeiro poema, o que a transforma num tema dominante (1.9,16,17,21; 2.13).
A situação era tão aterradora que os exilados não conseguiam encontrar qualquer consolação. Nenhum de seus amantes agora poderiam consolá-la - vs. 2 - uma imagem irônica sobre os vizinhos idólatras de Judá com os quais o povo voluntariamente se uniu (cf. Jr 3.1). Como um marido justificadamente ciumento, Deus estava irado com a infidelidade de Judá. Na visão de Oseias, o exílio se constituía no divórcio de Deus de Israel (Os 2).
Amigos! Que amigos eram esses que agora, em seu sufoco, a abandonavam? Isso me faz lembrar meu parente em recuperação por causa de drogas e álcool. Ele sempre falava de seus amigos e os exaltava até que sua irmã lhe disse: onde estão eles agora que você se encontra arrasado e precisando de ajuda, recursos e apoio? Quem é que vem te socorrer nos acidentes, nas delegacias, nas sarjetas, nos hospitais e te apoia e te dá assistência? Onde de fato estão os seus amigos?
Jerusalém estava cercada de amigos que apenas a desviavam do caminho e dela queriam somente se aproveitar. Isso não é, nem nunca foi amizade. O verdadeiro amigo é aquele que está disposto a se sacrificar pelo outro, como o fez o Senhor por nós, sendo nós os seus inimigos.
Judá foi levado ao exílio – vs. 3. Para relatos sobre a queda de Jerusalém, veja 2Rs 24.20-25.30, assim como Jr 39-45; 52. A pior cláusula entre as maldições da aliança contra o povo da aliança era o exílio. O exílio de Judá significava a sua retirada do local da bênção e salvação de Deus (confira também na BEG o excelente artigo teológico "A presença de Deus", em 1 Rs 8). Eles não haveriam de achar descanso dos inimigos que era uma das bênçãos prometidas da aliança (Dt 12.9; 2Sm 7.1; cf. Dt 28.65).
O pranto estava em todos os caminhos e em todos os lugares, até nos caminhos percorridos por aqueles que moravam longe nas suas peregrinações ao templo (cf. SI 84.5) que vinham para aquelas reuniões solenes. As principais reuniões anuais do povo para celebração (especialmente a Páscoa, o Pentecostes e a Colheita; Ex 23.14-17), quando Jerusalém ficava apinhada e os sacerdotes presidiam as celebrações jubilosas. Agora as virgens estavam tristes, um sinal de derrota que contrastava com Jr 31.13 onde elas se alegravam na dança.
Foi por causa de sua infidelidade que as aflições de Judá tinham vindo como os profetas haviam predito. No Sl 73 e em Jr 12.1 é possível ver outros lamentos. O lamento era acompanhado por uma breve confissão de pecado.
No verso 6, ela é chamada carinhosamente de filha de Sião, uma personificação de Jerusalém que aparece oito vezes só em Lamentações e muitas outras vezes em todo o material profético (veja 1.6; 2.1,4,8,10,13,18; 4.22; veja também Jr 6.2; Mq 1.13). No entanto, dela tinha se ido o seu esplendor onde os seus príncipes estavam arrasados e sem forças diante dos seus perseguidores.
O presente amargo contrastava com um tempo anterior e mais feliz, possivelmente na época de Davi e Salomão. Sendo que agora não tinha ela quem a socorresse. Um contraste adicional com o conquistador Davi que era seu líder maior.
O fato era que Jerusalém tinha pecado e essa era a causa do seu exílio. Seria por isso que se tinha tornado repugnante, ou seja, uma referência à menstruação (veja as notas sobre Lv 15.19-33), que causava imundice ritual e impedia a mulher de ter acesso ao templo.
O resultado do pecado de Judá era semelhante, senão mais traumático e doloroso, ou seja, era uma exclusão total e perpétua do templo, o lugar onde Deus havia manifestado a sua presença especial (sobre essa presença, vale a pena conhecer o artigo teológico "A presença de Deus", em 1Rs 8), assim como era uma terrível humilhação (Jr 13. 22,26).
A cidade inteira, e não simplesmente algumas pessoas, havia se tornado imunda aos olhos de Deus, e por muitos anos não seria purificada. A sua imundícia estava nas suas fraldas e ela nem se lembrava de seu fim, destarte, se via abatida e sem quem a console.
A Sião personificada agora fala por si mesma e introduz o elemento de apelo que é uma parte vital desse lamento. Ela pede ao Senhor que a socorra em sua aflição por causa do seu inimigo que nela se engrandeceu – vs. 9.
O inimigo estendeu contra ela a sua mão e ela o viu entrar em seu santuário. Uma referência à perda, por parte de Judá, do seu local de culto e acesso à presença de Deus (vs. 8).
A profanação do lugar sagrado pelos invasores contrasta com a pretendida função do templo de atrair as nações para adorar o Deus de Israel (1 Rs 8.41-43).
A destruição do templo está provavelmente também implícita, unia vez que Nabucodonosor o destruiu em 586 a.C. imediatamente depois de tê-lo profanado (2Rs 25.8-9).
As ruínas do templo, onde Deus se assentara entronizado, demonstravam quão absolutamente Deus havia abandonado o seu povo por causa do seu pecado.
A desolação da cidade provocou uma terrível escassez de alimento. Ela, personificada, continua a clamar ao Senhor para que veja, conforme o vs. 9. Ela reconhece que se tornou desprezível.
Embora o escritor reconheça que o castigo de Judá foi merecido (vs. 5,8), ele se sente esmagado pela sua magnitude. Chama os que passam para testemunhar a extrema severidade da punição de Deus e a compadecer-se da difícil situação de Judá.
Ela está ciente de que sua aflição veio do Senhor e que aconteceu isso no dia do furor da sua ira. Uma alusão ao "dia do Senhor" – livro de Sofonias -, que descreve qualquer situação por meio da qual o Senhor intervém dramaticamente na História para destruir os seus inimigos e salvar o seu povo.
A destruição de Jerusalém, entretanto, revelou que Deus havia, pelo menos por um tempo, se tornado um inimigo de Judá.
O povo de Sião, finalmente, compreendeu que Deus havia usado os babilônios para afligi-los de modo tão terrível (SI 88.13-18).
O Senhor, anteriormente um guerreiro a favor de Israel (Dt 9.1-3), voltou o seu poder e fúria contra o seu próprio povo – vs 15. Não havia mais um consolador, pois este se tinha afastado dela – vs. 16.
Ela estava sem quem pudesse consolá-la. A repetição dessa frase, que não haveria quem a consolasse, a constitui como tema dominante desse lamento. Não havia nenhum alívio nem consolação visível para Jerusalém.
O Senhor ordenou acerca de Jacó - um dos nomes históricos para Israel, aludindo ao nome do patriarca – que fossem inimigos todos os que estavam em redor e Jerusalém se tornaria coisa imunda. Não o termo normal para "cerimonialmente impura", mas o termo para trapos ou imundícia menstrual (veja o vs. 8).
Até mesmo as nações que não respeitavam os padrões cerimoniais santos do Senhor, desprezavam Israel como repulsivo. Isso se constituía num nítido contraste com a esperança que Deus havia conferido ao seu povo mediante o seu oferecimento da bênção da aliança (veja Ex 19.5-6).
Apesar das dificuldades que esmagavam o escritor, ele reconhece, por um momento, a justiça do Senhor ao punir os pecados de Judá. Entretanto, o pensamento volta rapidamente outra vez para a sua condição insuportável.
Novamente – vs. 19 – se lembra de seus “amigos”, de seus “amantes”, objetos da falsa confiança de Judá, que fez com que Deus ficasse irado com eles (Is 7.1-9). Ela reconhece a sua rebeldia, a sua rebelião e o seu desprezo às coisas do reino de Deus em preferência às porcarias com as quais tinha se envolvido.
Estava novamente sem ter quem a consolasse e, persistentemente, apela ao Senhor por causa da vanglória dos inimigos, o que era profundamente ofensivo para Judá como povo da aliança de Deus e, portanto, para o próprio Deus.
O dia do Senhor se tornaria um dia de terror para os inimigos de Sião. O lamento segue o padrão profético de julgamento, primeiro por meio dos inimigos e, finalmente, sobre os próprios inimigos (cf. Jr 25.15-38).
Os inimigos de Sião mereciam tão cabalmente o julgamento quanto Jerusalém. Mesmo a justa punição dos seus inimigos não diminuiria a profunda tristeza de Sião.
Lm 1:1 Como está sentada solitária a cidade que era tão populosa!
tornou-se como viúva a que era grande entre as nações!
A que era princesa entre as províncias tornou-se avassalada!
Lm 1:2 Chora amargamente de noite,
e as lágrimas lhe correm pelas faces;
não tem quem a console entre todos os seus amantes;
todos os seus amigos se houveram aleivosamente com ela;
tornaram-se seus inimigos.
Lm 1:3 Judá foi para o cativeiro para sofrer aflição e dura servidão;
ela habita entre as nações, não acha descanso;
todos os seus perseguidores a alcançaram nas suas angústias.
Lm 1:4 Os caminhos de Sião pranteiam,
porque não há quem venha à assembléia solene;
todas as suas portas estão desoladas;
os seus sacerdotes suspiram;
as suas virgens estão tristes,
e ela mesma sofre amargamente.
Lm 1:5 Os seus adversários a dominam,
os seus inimigos prosperam;
porque o Senhor a afligiu por causa da multidão
das suas transgressões;
os seus filhinhos marcharam para o cativeiro
adiante do adversário.
Lm 1:6 E da filha de Sião já se foi todo o seu esplendor;
os seus príncipes ficaram sendo como cervos
que não acham pasto e caminham sem força
adiante do perseguidor.
Lm 1:7 Lembra-se Jerusalém, nos dias da sua aflição
e dos seus exílios, de todas as suas preciosas coisas,
que tivera desde os tempos antigos;
quando caía o seu povo na mão do adversário,
e não havia quem a socorresse,
os adversários a viram, e zombaram da sua ruína.
Lm 1:8 Jerusalém gravemente pecou, por isso se fez imunda;
todos os que a honravam a desprezam,
porque lhe viram a nudez;
ela também suspira e se volta para trás.
Lm 1:9 A sua imundícia estava nas suas fraldas;
não se lembrava do seu fim;
por isso foi espantosamente abatida;
não há quem a console;
vê, Senhor, a minha aflição;
pois o inimigo se tem engrandecido.
Lm 1:10 Estendeu o adversário a sua mão
a todas as coisas preciosas dela;
pois ela viu entrar no seu santuário as nações,
acerca das quais ordenaste que não entrassem
na tua congregação.
Lm 1:11 Todo o seu povo anda gemendo, buscando o pão;
deram as suas coisas mais preciosas a troco de mantimento
para refazerem as suas forças.
Vê, Senhor, e contempla, pois me tornei desprezível.
Lm 1:12 Não vos comove isto a todos vós que passais pelo caminho?
Atendei e vede se há dor igual a minha dor,
que veio sobre mim, com que o Senhor me afligiu,
no dia do furor da sua ira.
Lm 1:13 Desde o alto enviou fogo que entra nos meus ossos,
o qual se assenhoreou deles;
estendeu uma rede aos meus pés,
fez-me voltar para trás,
tornou-me desolada e desfalecida o dia todo.
Lm 1:14 O jugo das minhas transgressões foi atado;
pela sua mão elas foram entretecidas
e postas sobre o meu pescoço;
ele abateu a minha força;
entregou-me o Senhor nas mãos daqueles
a quem eu não posso resistir.
Lm 1:15 O Senhor desprezou todos os meus valentes no meio de mim;
convocou contra mim uma assembléia para esmagar
os meus mancebos;
o Senhor pisou como num lagar a virgem filha de Judá.
Lm 1:16 Por estas coisas vou chorando; os meus olhos,
os meus olhos se desfazem em águas;
porque está longe de mim um consolador
que pudesse renovar o meu ânimo;
os meus filhos estão desolados, porque prevaleceu o inimigo.
Lm 1:17 Estende Sião as suas mãos, não há quem a console;
ordenou o Senhor acerca de Jacó que fossem inimigos
os que estão em redor dele;
Jerusalém se tornou entre eles uma coisa imunda.
Lm 1:18 Justo é o Senhor, pois me rebelei
contra os seus mandamentos; ouvi, rogo-vos, todos os povos,
e vede a minha dor;
para o cativeiro foram-se as minhas virgens
e os meus mancebos.
Lm 1:19 Chamei os meus amantes, mas eles me enganaram;
os meus sacerdotes e os meus anciãos expiraram na cidade,
enquanto buscavam para si mantimento,
para refazerem as suas forças.
Lm 1:20 Olha, Senhor, porque estou angustiada;
turbadas estão as minhas entranhas;
o meu coração está transtornado dentro de mim;
porque gravemente me rebelei.
Na rua me desfilha a espada, em casa é como a morte.
Lm 1:21 Ouviram como estou gemendo;
mas não há quem me console;
todos os meus inimigos souberam do meu mal;
alegram-se de que tu o determinaste;
mas, em trazendo tu o dia que anunciaste,
eles se tornarão semelhantes a mim.
Lm 1:22 Venha toda a sua maldade para a tua presença,
e faze-lhes como me fizeste a mim por causa
de todas as minhas transgressões;
pois muitos são os meus gemidos,
e desfalecido está o meu coração.
O autor se expressa de uma maneira muito profunda ao falar de Deus e da forma como via o exílio, a justiça de Deus, sua ira, seu juízo, a aliança e o povo de Deus.
Para mim, o grande autor desse livro não fora outro senão o próprio Jeremias, o profeta chorão que conhecia o seu Deus soberano, sábio e bom e o seu povo rebelde, contradizente e amante do supérfluo, mas escolhido por Deus para por meio dele, trazer ao mundo o Messias resgatador e libertador.
A Deus toda glória! p/ Daniel Deusdete
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quarta-feira, 25 de março de 2015

Jeremias 52:1-34 - O CATIVEIRO DE JUDÁ NA BABILÔNIA.



Terminaremos agora o livro de Jeremias. Estaremos vendo a décima oitava parte – a última - de nossa divisão proposta de dezoito delas, nos baseando na estruturação apresentada pela BEG. Estamos no capítulo 52.
XVIII. EXÍLIO E LIBERTAÇÃO DA PRISÃO (52.1-34)
Embora o povo de Deus tivesse sido exilado, evidências de bênçãos futuras podiam ser observadas nos acontecimentos que ocorriam na Babilônia.
O último capítulo de Jeremias descreve a queda de Jerusalém e relembra como muitas das suas profecias já haviam se cumprido. Apesar de sua mensagem de julgamento divino pelo pecado, essa passagem é muito semelhante a II Re 24:18-25:22; 27:30.
É provável que os dois livros tenham usado a mesma fonte, apesar de Jeremias ser mais completo em certas partes e dar mais atenção a alguns detalhes.
Como o livro de II Reis, Jeremias termina em tom de esperança chamando a atenção para a misericórdia demonstrada a Joaquim, o rei de Judá, enquanto este se encontrava exilado na Babilônia – 52:31-34; II Re 25:27-30.
A queda de Jerusalém e o cativeiro de Judá.
Dos versos 1 ao 30, veremos a queda de Jerusalém e o cativeiro de Judá, conforme se encontram também nos textos paralelos de II Re 24:18 a 25:22; II Cr 36:10 a 21; Jr 39:1 a 10.
Em um mapa intitulado “Exílio de Judá”, p. 524, da BEG, temos um breve resumo do exílio, com alguns detalhes interessantes, conforme a seguir:
Exílio de Judá
A cidade de Jerusalém começou a ser cercada em janeiro de 587 a.C., e o cerco durou dezoito meses (II Cr 36:13-21; Jr 21: 1-10; 34:1-5; 39:1-10; 52:4-11; Ez 24:2). A cidade foi conquistada e o templo destruído (o livro de Lamentações expressa poeticamente a consternação e o desconcerto produzidos por esses dolorosos acontecimentos – veremos em seguida).
Os judeus perderam a sua independência e foram levados como prisioneiros para a Babilônia. Ali ficaram até 538 a.C., quando Ciro, o rei persa, conquistou a Babilônia e mandou os judeus de volta para a sua terra.
Os exilados de Judá foram levados à grande cidade de Babilônia que Nabucodonosor havia construído. A cidade interna era protegida por largo fosso e paredes duplas revestidas de ladrilhos (de 3,7m e 6,5m de largura), com espaço entre elas para uma estrada militar no nível do parapeito.
Das oito grandes portas, a mais conhecida é a Porta de Istar, construída em honra ao deus babilónico Marduque. O pórtico era decorado com fileiras de touros (símbolo do deus Bel) alternadas com fileiras de dragões (símbolo do deus Marduque), feitas de tijolo esmaltado.
A rua das procissões (pela qual eram transportadas as estátuas dos deuses no festival do ano novo) levava da porta até o centro da cidade e aos grandes templos. As paredes eram de ladrilho azul esmaltado, com relevos de leões (símbolo da deusa Istar) em vermelho, amarelo e branco.
A Babilônia tinha cerca de cinquenta e três templos, um grande templo-torre (zigurate) e uma cidadela com o complexo de palácios. Daniel foi levado para ali para que se unisse à corte do rei.
A rebelião de Zedequias contra o rei da Babilônia provocou o ataque dos babilônios. O resultado foi a destruição de Jerusalém – inclusive do templo – e a deportação de Zedequias e da maioria do povo de Judá.
O ano era de 586 a.C. e apesar de ser um vassalo nomeado por Nabucodonosor, Zedequias se juntou ao Egito e outras nações numa conspiração contra os babilônios – Jr 27:3-8; Ez 17:11-21.
A decisão infeliz do rei de Judá de se rebelar contra a Babilônia pode ter recebido o incentivo de Faraó Ofra – Apries – que subiu ao poder em 589 a.C.
Foram quase dois anos exatos do cerco dos babilônios contra Jerusalém, aproximadamente uns 539 dias contados de 10 do 10 do ano 9 até 9 de 4 do ano 11. A fome apertou e não havia pão para comerem. Foi nesse momento que a cidade foi arrombada e alguns deles fugiram, inclusive o rei.
No entanto, foram alcançados, presos e fizeram subir o rei de Judá ao rei da Babilônia, a Ribla e ali foi pronunciada a sentença contra Zedequias. Seus filhos foram mortos à espada às suas vistas e Zedequias teve os seus olhos vazados e seus pés presos em cadeias e assim levados cativos para a Babilônia.
Se Zedequias tivesse ouvido os profetas Jeremias e Ezequiel – Jr 38:14-28; Ez 12:13 -, nada disso teria acontecido a ele. Jeremias tinha tentado convencer o rei a se render, pois o julgamento do Senhor era inevitável.
Quem sabe uma rendição pacífica teria poupado tanto a Jerusalém quanto ao templo? A sua rebeldia trouxe consequências terríveis tanto a ele quanto a sua família e ao povo sofrido de Judá. Ao final morre na Babilônia – Jr 52:11.
Oito anos após isso, no décimo dia do quinto mês do ano décimo nono – vs. 12 (em II Re 25:8, o dia era o sétimo e não o décimo – provavelmente algum erro em nossas traduções), Nebuzaradã, chefe da guarda e servidor do rei da Babilônia, veio a Jerusalém e queimou a Casa do Senhor, a casa do rei, todas as casas da cidade, além de todos os edifícios importantes. Saquearam o templo e levaram consigo tudo o que tinha valor e era de ouro ou de prata e bronze. Ainda derrubaram os muros em redor de Jerusalém.
Nebuzaradã ainda levou cativos mais gente do povo que tinha ficado na cidade, principalmente líderes do alto escalão e militares e somente deixou ali dos mais pobres da terra como vinheiros e lavradores. Como governador deles, deixou o rei da Babilônia a Gedalias, filho de Aicão, filho de Safã.
Quando os que foram levados cativos chegaram a Ribla, o rei da Babilônia foi implacável com eles e os mataram todos os militares e os que tinham poder e influência nos escalões de liderança de Judá.
Dos vs. 28 ao 30, temos as duas mais uma deportações mais importantes de judaítas para a Babilônia que totalizaram 4.600 (3023+832+745) pessoas sendo levadas em cativeiro:
1.      A primeira em 597 a.C. – “no sétimo ano” – 3023 judeus.
2.      A segunda em 586 a.C. – “no décimo oitavo ano” – contrastar com “no ano décimo nono”, no vs. 12, que usa um sistema diferente de contagem. Foram levadas 832 pessoas.
3.      A terceira – “no ano vigésimo terceiro” - uma deportação menor também é mencionada, sendo resultante de uma ofensa da qual não se tem registro. Foram levadas 745 pessoas.
Jr 52:1 Era Zedequias da idade de vinte e um anos quando começou a reinar,
e reinou onze anos em Jerusalém.
O nome de sua mãe era Hamutal, filha de Jeremias, de Libna.
Jr 52:2 E fez o que era mau aos olhos do Senhor,
conforme tudo o que fizera Jeoiaquim.
Jr 52:3 Pois por causa da ira do Senhor,
chegou-se a tal ponto em Jerusalém
e Judá que ele os lançou da sua presença.
E Zedequias rebelou-se contra o rei de Babilônia.
Jr 52:4 No ano nono do seu reinado, no mês décimo,
no décimo dia do mês, veio Nabucodonosor, rei de Babilônia,
contra Jerusalém, ele e todo o seu exército,
e se acamparam contra ela,
e contra ela levantaram tranqueiras ao redor.
Jr 52:5 Assim esteve cercada a cidade,
até o ano undécimo do rei Zedequias.
Jr 52:6 No quarto mês, aos nove do mês,
a fome prevalecia na cidade, de tal modo que não havia pão
para o povo da terra.
Jr 52:7 Então foi aberta uma brecha na cidade;
e todos os homens de guerra fugiram,
e saíram da cidade de noite, pelo caminho da porta
entre os dois muros,
a qual está junto ao jardim do rei,
enquanto os caldeus estavam ao redor
da cidade; e foram pelo caminho da Arabá.
Jr 52:8 Mas o exército dos caldeus perseguiu o rei,
e alcançou a Zedequias nas campinas de Jericó;
e todo o seu exército se espalhou, abandonando-o.
Jr 52:9 Prenderam o rei, e o fizeram subir ao rei de Babilônia
a Ribla na terra de Hamate,
o qual lhe pronunciou a sentença.
Jr 52:10 E o rei de Babilônia matou os filhos de Zedequias
à sua vista; e também matou a todos os príncipes de Judá
em Ribla.
Jr 52:11 E cegou os olhos a Zedequias;
e o atou com cadeias; e o rei de Babilônia
o levou para Babilônia,
e o conservou na prisão até o dia da sua morte.
Jr 52:12 No quinto mês, no décimo dia do mês,
que era o décimo nono ano do rei Nabucodonosor, rei de Babilônia,
veio a Jerusalém Nebuzaradão, capitão da guarda,
que assistia na presença do rei de Babilônia.
Jr 52:13 E queimou a casa do Senhor, e a casa do rei;
como também a todas as casas de Jerusalém, todas as casas
importantes, ele as incendiou.
Jr 52:14 E todo o exército dos caldeus,
que estava com o capitão da guarda,
derribou todos os muros que rodeavam Jerusalém.
Jr 52:15 E os mais pobres do povo, e o resto do povo
que tinha ficado na cidade,
e os desertores que se haviam passado
para o rei de Babilônia,
e o resto dos artífices, Nebuzaradão, capitão da guarda,
levou-os cativos.
Jr 52:16 Mas dos mais pobres da terra Nebuzaradão,
capitão da guarda, deixou ficar alguns,
para serem vinhateiros e lavradores.
Jr 52:17 Os caldeus despedaçaram as colunas de bronze
que estavam na casa do Senhor,
e as bases, e o mar de bronze,
que estavam na casa do Senhor,
e levaram todo o bronze para Babilônia.
Jr 52:18 Também tomaram
as caldeiras, as pás, as espevitadeiras, as bacias,
as colheres, e todos os utensílios de bronze,
com que se ministrava.
Jr 52:19 De igual modo o capitão da guarda levou os copos,
os braseiros, as bacias, as caldeiras, os castiçais, as colheres,
e as tigelas.
O que era de ouro, levou como ouro,
e o que era de prata, como prata.
Jr 52:20 Quanto às duas colunas, ao mar,
e aos doze bois de bronze que estavam debaixo das bases,
que fizera o rei Salomão para a casa do Senhor,
o peso do bronze de todos estes vasos
era incalculável.
Jr 52:21 Dessas colunas, a altura de cada um era de dezoito côvados;
doze côvados era a medida da sua circunferência;
e era a sua espessura de quatro dedos; e era oca.
Jr 52:22 E havia sobre ela um capitel de bronze;
e a altura dum capitel era de cinco côvados,
com uma rede e romãs sobre o capitel ao redor,
tudo de bronze;
e a segunda coluna tinha as mesmas coisas com as romãs.
Jr 52:23 E havia noventa e seis romãs aos lados;
as romãs todas, sobre a rede ao redor eram cem.
Jr 52:24 Levou também o capitão da guarda a Seraías,
o principal sacerdote, e a Sofonias, o segundo sacerdote,
e os três guardas da porta;
Jr 52:25 e da cidade levou um oficial que tinha a seu cargo
os homens de guerra; e a sete homens dos que assistiam
ao rei e que se achavam na cidade;
como também o escrivão-mor do exército,
que registrava o povo da terra;
e mais sessenta homens do povo da terra
que se achavam no meio da cidade.
Jr 52:26 Tomando-os pois Nebuzaradão, capitão da guarda,
levou-os ao rei de Babilônia, a Ribla.
Jr 52:27 E o rei de Babilônia os feriu e os matou em Ribla,
na terra de Hamate.
Assim Judá foi levado cativo para fora da sua terra.
Jr 52:28 Este é o povo que Nabucodonosor levou cativo:
no sétimo ano três mil e vinte e três judeus;
Jr 52:29 no ano décimo oitavo de Nabucodonosor,
ele levou cativas de Jerusalém
oitocentas e trinta e duas pessoas;
Jr 52:30 no ano vinte e três de Nabucodonosor,
Nebuzaradão, capitão da guarda, levou cativas,
dentre os judeus,
setecentas e quarenta e cinco pessoas;
todas as pessoas foram quatro mil e seiscentas.
Jr 52:31 No ano trigésimo sétimo do cativeiro de Joaquim,
rei de Judá, no mês duodécimo, aos vinte e cinco do mês,
Evil-Merodaque, rei de Babilônia, no primeiro ano do seu reinado,
levantou a cabeça de Joaquim, rei de Judá,
e o tirou do cárcere;
Jr 52:32 e falou com ele benignamente, e pôs o trono dele acima
dos tronos dos reis que estavam com ele em Babilônia;
Jr 52:33 e lhe fez mudar a roupa da sua prisão;
e Joaquim comia pão na presença do rei continuamente,
todos os dias da sua vida.
Jr 52:34 E, quanto à sua ração,
foi-lhe dada pelo rei de Babilônia a sua porção quotidiana,
até o dia da sua morte,
durante todos os dias da sua vida.
O escritor de Reis, bem como de Jeremias, termina sua obra num tom esperançoso chamando a atenção para a misericórdia demonstrada para com Joaquim, rei de Judá, enquanto este se encontrava exilado na Babilônia.
Evil-Merodaque era filho e sucessor de Nabucodonosor e foi extremamente generoso para com Joaquim e seus filhos a ponto de lhes falar benignamente, libertar do cárcere e lhes dar lugar de mais alta honra do que a de reis que estavam com ele na Babilônia.
Reparem que o texto de Dt 4:25-31; 30:1-10 e a oração de dedicação do templo feita por Salomão em I Re 8:46-53 tratam das condições do exílio.
Esses textos insistem no arrependimento – Dt 30:2; I Re 8:47. A oração de Salomão para que os exilados encontrassem compaixão nas mãos de seus captores é respondida no tratamento bondoso que Joaquim recebe.
O trecho bíblico de Dt 30:3-5 promete restauração ao povo de Deus, um processo iniciado em 538 a.C., quando os judeus receberam permissão para voltar para casa – Ed 1:1-4; Is 44:24-28; 45:1-6.
Não há como não perceber que o tratamento preferencial desfrutado por Joaquim oferece um raio de esperança na continuidade das promessas davídicas – II Sm 7:8-16.
A ênfase do escritor nesses últimos capítulos de tom severo é sobre o julgamento de Judá – 21:10-15; 23:26-27; 24:3-4, 20; 25:21 – porém, nesses versículos finais, ele também indica que a destruição de Judá e de Jerusalém não porá um fim à linhagem davídica. Há motivos para encarar o futuro com a mais absoluta confiança em Deus.
A Deus toda glória! p/ Daniel Deusdete
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