Começaremos agora a oitava parte, de nossa
divisão proposta de dezoito delas, nos baseando na estruturação apresentada
pela BEG. Estamos no capítulo 16.
VIII. SÍMBOLOS DO JULGAMENTO VINDOURO (16.1-17.18).
De 16:1 a 17:18, veremos a vida solitária
do profeta, figura do povo; o pecado e a sua força enganadora que destrói;
Jeremias clamando a Deus que o socorra contra os seus inimigos e a santificação
do sábado.
Dividiremos esta parte VIII em duas: A.
Atos simbólicos – 16:1-18 (estaremos vendo os símbolos do julgamento vindouro,
onde Jeremias será proibido de participar de algumas atividades normais a fim
de simbolizar o julgamento vindouro); e, B. Orações e respostas – 16:19 a 17:18
(sua oração e a resposta de Deus fazem um contraste nítido entre o destino
daqueles que confiam em seres humanos e daqueles que confiam em Deus.
A. Atos simbólicos – 16:1-18.
Deus ordena nesses 18 versículos que
Jeremias não se case nem compareça a funerais e banquetes a fim de simbolizar a
iminência e a severidade do julgamento vindouro.
O capítulo começa, como de praxe, dizendo
que a palavra do Senhor veio a ele Jeremias e que portanto exige uma resposta
de quem ouve e uma grande responsabilidade de quem a pronuncia em nome do
Senhor.
A palavra de Deus para Jeremias é forte e
contundente: não terás nem mulher, nem filhos nesse lugar. A proibição é
relacionada exclusivamente ao papel de Jeremias como prenunciador do destino de
Judá. Seu celibato implica que não terá filhos (veja 1Co 7.26) naquele lugar. A
falta de filhos do profeta serve de sinal, especialmente para Judá e Jerusalém.
A falta de filhos indica que a geração
seguinte não tem futuro. No entanto a palavra é muito dura, pois do que
adiantaria gerá-los se o destino deles já estaria selado e seria tão cruel e
terrível?
O que esperar de quem quebrasse a ordem de
não casar, nem ter filhos? A morte por meio de enfermidades dolorosas, o não
pranteamento nem o sepultamento e ainda o uso do corpo como esterco e alimento
das aves dos céus e dos animais da terra.
Era costume prolongar o velório pelo
oferecimento de refeições àqueles que compareciam à cerimônia de sepultamento,
mas Jeremias fora proibido de participar, de entrar na casa que estivesse em
luto uma vez que o Senhor não estaria ali e deles teria tirado a sua paz,
benignidade e misericórdia.
O que somos nós sem a paz, a benignidade e
a misericórdia de nosso Deus? Deus nos dá gratuitamente de sua graça, mas se
formos rebeldes à sua palavra, estaremos em sérios apuros, como esses que estariam
ousando desobedecer a palavra de Deus pronunciada no verso 2.
O fato é que a palavra seria cumprida e
eles morreriam. As proibições ainda continuam nos versos 7 e 8, ambas bem
categóricas para não deixar qualquer margem de dúvidas. Não se dará pão aos que
estiverem de luto, nem se lhes daria a beber do copo de consolação, uma
declaração relacionada a um costume de luto, talvez referente especificamente à
morte de um dos pais. Também não seria permitido entrar na casa do banquete
para com eles se assentar e comer. A terceira proibição simboliza o fato de
Judá não se encontrar num período de sua historia em que tinha motivos para
celebrar.
No verso 9, Deus – aqui enfatizado como o
Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel - faria cessar a voz de gozo e o canto
do noivo e o da noiva, os quais são sons típicos de um período de paz e
esperança (veja Mt 24.38-39; cf. Jr 33.10-11; veja também 7.34).
A palavra a ser pregada era duríssima e
intragável, mas Jeremias era homem de Deus e profeta que temia mais a Deus do
que aos homens. Seria natural que quando pregasse houvesse indagações da grande
dureza da palavra e o questionamento de qual seria o pecado ou a iniquidade
deles.
No verso 11, Deus orienta o profeta sobre o
que responder. A resposta estava relacionada ao comportamento maligno de seus
pais que se desviaram do Senhor ondo após outros deuses e imitando as nações ao
seu redor com práticas abomináveis e contrárias às leis de Deus.
Mas o pecado não estava apenas nos pais,
mas nos filhos, pois estes se tornaram rebeldes e duros de coração a ponto de
não darem ouvidos à voz do Senhor e assim o rejeitarem, não semelhantemente aos seus pais, mas priores
do que eles.
Embora a geração presente compartilhasse da
culpa de seus antepassados (14.20), também era responsável pelos seus próprios
pecados (31.29-30; Ez 18.2-4).
Em consequência disso, o Senhor promete que
os lançaria para fora desta terra. Ou seja, mandando o povo para o exílio (veja
Dt 28.36,64) onde iriam servir a outros deuses de dia e de noite, porque não
usará Deus de misericórdia para com eles. Apesar de se tratar de um castigo
apropriado para os seus crimes, o povo finalmente descobriria a futilidade da
idolatria.
O profeta contrasta o louvor a Deus pela
sua misericórdia no passado ao tirar Israel do cativeiro do Egito com o louvor
ainda maior que o Senhor receberia depois que libertasse o seu povo do exílio.
Esse regresso à Terra Prometida seria maior
do que a primeira volta nos dias de Moisés, apesar de Jeremias não apresentar
ainda os detalhes dessa afirmação. Mais adiante ele especifica que na restauração
ideal, o povo nunca mais voltaria a cair em pecado (31.31-34).
O Senhor anuncia o terrível castigo, mas
faz uma promessa quanto ao futuro mais distante de que viria dias em que não
mais se diria que vive o Senhor que nos tirou do Egito, mas vive o Senhor que
nos tirou da Babilônia. É uma referência a um futuro relativamente distante,
quando a restauração ocorreria. A perspectiva imediata, porém, era de exílio.
No verso 16, uma linguagem que retrata Judá
como uma presa do Senhor. Eles seriam pescados, seriam caçados, seria mesmo impossível
fugir (23.24; Is 2 19) uma vez que os olhos daquele que tudo vê estavam postos
sobre eles e bem assim todos os seus caminhos e, pior, todas as suas
iniquidades.
Desta forma, cada um seria retribuído conforme
o dobro da sua iniquidade. (17.18; Is 40.2.). O exílio, então, seria um castigo
apropriado para os pecados do povo.
B. Orações e respostas – 16:19 a 17:18.
Deste verso 19 até 17.18, estaremos vendo
as orações e as respostas. Essa passagem começa e termina com orações de
Jeremias (16.19-20; 17.12-18) que emolduram a resposta de Deus (16.21-17.11).
Jr 16:1 E veio a mim a palavra do
Senhor, dizendo:
Jr
16:2 Não tomarás a ti mulher,
nem
terás filhos nem filhas neste lugar.
Jr
16:3 Pois assim diz o Senhor acerca dos filhos e das filhas
que
nascerem neste lugar,
acerca
de suas mães, que os tiverem,
e
de seus pais que os gerarem nesta terra:
Jr
16:4 Morrerão de enfermidades dolorosas,
e
não serão pranteados nem sepultados;
serão
como esterco sobre a face da terra;
pela
espada e pela fome serão consumidos,
e
os seus cadáveres servirão de pasto para
as
aves do céu e para os animais da terra.
Jr
16:5 Pois assim diz o Senhor:
Não
entres na casa que está de luto,
nem
vás a lamentá-los,
nem
te compadeças deles;
porque
deste povo, diz o Senhor,
retirei
a minha paz, benignidade e misericórdia.
Jr
16:6 E morrerão nesta terra tanto grandes como pequenos;
não
serão sepultados, e não os prantearão,
nem
se farão por eles incisões,
nem
por eles se raparão os cabelos;
Jr
16:7 nem pão se dará aos que estiverem de luto,
para
os consolar sobre os mortos;
nem
se lhes dará a beber o copo da consolação
pelo
pai ou pela mãe.
Jr
16:8 Não entres na casa do banquete,
para
te assentares com eles a comer e a beber.
Jr
16:9 Pois assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel:
Eis
que perante os vossos olhos, e em vossos dias,
farei
cessar deste lugar a voz de gozo e a voz de alegria,
a
voz do noivo e a voz da noiva.
Jr
16:10 E quando anunciares a este povo todas estas palavras,
e
eles te disserem:
Por
que pronuncia o Senhor sobre nós
todo
este grande mal?
Qual
é a nossa iniquidade?
Qual
é o pecado que cometemos
contra
o Senhor nosso Deus?
11
Então lhes dirás:
Porquanto
vossos pais me deixaram, diz o Senhor,
e se foram após outros deuses,
e
os serviram e adoraram,
e
a mim me deixaram,
e não guardaram a minha lei;
Jr
16:12 e vós fizestes pior do que vossos pais;
pois
eis que andais, cada um de vós,
após
o pensamento obstinado do seu mau coração,
recusando
ouvir-me a mim;
Jr
16:13 portanto eu vos lançarei fora desta terra,
para
uma terra que não conhecestes,
nem
vós nem vossos pais; e ali servireis a deuses
estranhos
de dia e de noite;
pois
não vos concederei favor algum.
Jr
16:14 Portanto, eis que dias vêm, diz o Senhor,
em
que não se dirá mais:
Vive
o Senhor: que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito;
Jr
16:15 mas sim:
Vive
o Senhor, que fez subir os filhos de Israel
da
terra do norte, e de todas as terras
para
onde os tinha lançado;
porque
eu os farei voltar à sua terra, que dei a seus pais.
Jr
16:16 Eis que mandarei vir muitos pescadores, diz o Senhor,
os
quais os pescarão; e depois mandarei vir
muitos
caçadores, os quais os caçarão
de
todo monte, e de todo outeiro,
e
até das fendas das rochas.
Jr
16:17 Pois os meus olhos estão sobre todos os seus caminhos;
não
se acham eles escondidos da minha face,
nem
está a sua iniquidade encoberta aos meus olhos.
Jr
16:18 E eu retribuirei em dobro a sua iniquidade
e
o seu pecado, porque contaminaram a minha terra
com
os vultos inertes dos seus ídolos detestáveis,
e
das suas abominações encheram a minha herança.
Jr
16:19 Ó Senhor, força minha e fortaleza minha,
e
refúgio meu no dia da angústia, a ti virão as nações
desde
as extremidades da terra, e dirão:
Nossos
pais herdaram só mentiras, e vaidade,
em
que não havia proveito.
Jr
16:20 Pode um homem fazer para si deuses?
Esses
tais não são deuses!
Jr
16:21 Portanto, eis que lhes farei conhecer,
sim
desta vez lhes farei conhecer
o
meu poder e a minha força;
e
saberão que o meu nome é Jeová.
A primeira oração.
Ela vai até o verso 20 onde o profeta
reconhece a sua própria fidelidade a Deus e a conversão futura das nações
gentias. Primeiro, ele exalta Deus como a sua força, a sua fortaleza e o seu
refúgio.
O profeta fala de si mesmo em contraste com
o restante do povo. Depois, ele proclama a sua crença de que a ele se dirigirão
todas as nações. Jeremias declara a esperança de que depois do exílio um grande
número de gentios se voltaria para o Senhor (15.12).
O que herdaram nossos pais é somente
mentiras e vaidades em que não há proveito algum. Poderia um homem fazer um Deus
para si? A pergunta retórica insinua que isso seria ridículo. Sua conclusão
óbvia: eles não são deuses! – vs. 20.
A resposta de Deus à declaração piedosa de Jeremias.
Dos versos 21 ao 17.11, veremos a primeira
resposta de Deus onde o Senhor responderá à declaração piedosa feita pelo
profeta na seção anterior.
Deus afirma que os fará conhecer e ai sim,
eles saberão. Em hebraico, essas expressões são formas diferentes da mesma
palavra. Judá não poderia saber a menos que o Senhor ensinasse (31.18; Lc 24:45).
Já a declaração “saberão que o meu nome é
SENHOR” sugere conhecimento não apenas factual, mas também experimental, aquilo
que os judaízas teriam depois de testemunharem a operação de Deus no exílio e
na restauração.
Terminaremos agora a sétima parte, de nossa
divisão proposta de dezoito delas, nos baseando na estruturação apresentada
pela BEG. Estamos no capítulo 14.
VII. O JULGAMENTO POR MEIO DA SECA (14.1-15.21) - continuação.
Como já dissemos, de 14.1 a 15.21, estamos
vendo o julgamento de Judá por meio da seca. Esses capítulos declaram que os judaítas
se encontravam de tal modo empedernidos em seu pecado que Deus se recusou a
responder, por amor ao seu próprio povo, até mesmo a súplica de Jeremias para
que o povo fosse livrado da seca.
Deus responde à pergunta de Jeremias em
14.19 — Acaso Deus havia rejeitado Judá completamente? — dizendo que o
julgamento vindouro era inevitável devido aos pecados de Judá, mas também
garante a Jeremias o livramento pessoal das mãos de seus inimigos.
Para melhoria de nossa reflexão, foi
dividida esta parte VII em duas seções: A. Uma descrição da seca (14.1-6) – já vista; e, B. Astrês orações de Jeremias acompanhadas das
respostas de Deus (14.7-15.21) – veremos
e concluiremos agora.
B. Astrês orações de Jeremias
acompanhadas das respostas de Deus (14.7-15.21) - continuação.
Como já dissemos, do vs. 7 até 15.21 estaremos
vendo as orações e as respostas de Deus a Jeremias. Essa seção se alterna entre
as orações de Jeremias e as respostas de Deus.
·O
profeta ora em favor do povo na esperança de encontrar perdão (14.7-9), mas
Deus responde com palavras de condenação (14.10-12) – já vista.
·Jeremias
ora novamente (14.13) e Deus responde com uma condenação dos falsos profetas
(14.14-18) – já vista.
·O
profeta ora pela terceira vez (14.19-22) e Deus lhe diz que a sua oração não
adiantará de nada (15.1-9) – veremos agora.
·Jeremias
ora novamente (15.10) e Deus responde com palavras sobre Jeremias e Judá
(15.11-14) – veremos agora.
·O
profeta ora pela última vez (15.15-18) e Deus lhe responde com encorajamento e
uma advertência (15.19-21) – veremos
agora.
Rejeitada em absoluto a terceira intercessão de Jeremias - continuação.
Até ao verso 9, Deus estará respondendo à
oração de Jeremias dizendo-lhe que é inútil continuar intercedendo.
Deus cita dois grandes intercessores que
poderiam se juntar a Jeremias e mesmo assim, ele não os ouviria. Deus recorda
os grandes intercessores de Israel (Ex 32.11-14; 1 Sm 12 23; 1 Rs 17.1. A
oração pelo povo volta a ser proibida e a súplica que Jeremias acabou de fazer
(14.19-22) é rejeitada de modo específico (7.16; 11.14).
Deus estava decidido a entrar em juízo com
Judá e nada poderia demovê-lo disso. No capítulo anterior vimos que Deus falou
a Jeremias que não o ouviria por amor ao seu povo, isso para o seu próprio bem.
Embora triste e sofrível, o castigo seria necessário.
Nos versos 2 e 3, ele separa dois conjuntos
de quatro grupos de flagelos sobre o povo. Primeiro: morte- espada – fome –
cativeiro.
No verso 3, os elementos são diferentes
daqueles mencionados no vs. 2. Segundo: espada – cães – aves do céu – feras da
terra. A espada seria para matar, os cães para os arrastarem e as aves e as
feras para os devorarem. Os três últimos estavam relacionados ao medo das
pessoas de que o seu corpo permanecesse insepulto (7.33; 14.16; cf. 1Rs 21.23).
Por ironia, esse filho de Ezequias, um rei
que realizou várias reformas (2Rs 20.21), foi um dos monarcas mais perversos de
Judá. Apesar de reformas posteriores realizadas pelo seu neto, Josias, o
castigo e o exílio de Judá foram associados especificamente às transgressões de
Manassés (2Rs 23.26).
Na verdade, nem seria para Manassés ter
nascido, mas por causa da oração de Ezequias que rogou ao Senhor mais tempo de
vida é que lhe veio, depois, esse filho maligno – II Re 20.
E agora, quem iria se compadecer,
entristecer e perguntar pela paz de Jerusalém? Seria por causa de Manassés o
terrível espetáculo inevitável em que Jeremias não conseguia mudar a história
por meio da intercessão. Na verdade, Manassés foi a escolha e o desejo do povo.
O verso 6 pode trazer mais luz às argumentações.
O povo havia rejeitado a Deus, voltado para
trás e Deus já não mais estenderia as sus mãos para a salvação, mas contra eles
para os destruir. Deus se diz cansado de abrandar as coisas.
Manassés era culpado sim, mas Manassés era
a escolha do povo rebelde e contradizente.
Deus iria impor o castigo (cf. Is 41.16) a
eles, pois não voltaram de seus caminhos de maldade.
Observe – vs 8 - a transformação irônica da
promessa numa terrível ameaça (Gn 22.17; cf. Is 10.22). As mulheres ficando
viúvas e os seus filhos desaparecendo.
Aquela que tinha sete filhos – vs 9 – se enfraqueceu,
expirando a sua alma. Estando ela em plena luz do dia, com o sol à pino, ela se
confunde e se envergonha. Essa descrição de grande bênção (SI 127.5) é
novamente invertida. Até mesmo o remanescente depois da destruição acabaria
sucumbindo. No entanto, em Is 6.13 uma ideia semelhante é, por fim, atenuada
pela promessa da "santa semente".
Dos versos de 10 ao 21, essa passagem
costuma ser considerada a terceira "confissão" de Jeremias. Jeremias
ora novamente, expressando o seu desespero diante da força dos seus opositores
e Deus consola o seu profeta
Do 11 ao 14, Deus responde a Jeremias, prometendo
livrá-lo dos seus adversários.
Pode alguém quebrar o ferro e o bronze? Que
esperança Jeremias poderia ter de mudar o coração obstinado de Judá? Mais uma
vez, fica implícita a sugestão de uma analogia entre a crueldade dos inimigos
pessoais de Jeremias e do inimigo de Judá, a Babilônia (cf. 6.1).
Deus estava com o profeta e jamais o
abandonaria, mas ele iria levá-lo com os seus inimigos. Uma predição que se
cumpre em Jr 43.4-7. É como tenho meditado e pensado sobre minha vida nos
últimos dias. Já não somos mais de nós mesmos – o apóstolo Paulo nos ensina
isso em Romanos e em muitas passagens em outras epístolas e nos evangelhos.
A vida que temos, no presente, é para
vivermos para a glória de Deus – I Co 10:31 – para ele, o Senhor que por nós
morreu. Assim, Jeremias não era o dono de sua vida, mas a vivia para Deus e foi
servindo a Deus que também fez parte do cativeiro, sendo levado cativo à
Babilônia.
Nos versos de 15 a 18, naturalmente, Jeremias
ora, se queixando novamente a Deus por ele permitir que o seu profeta fosse
maltratado.
Ele diz que comeu as suas palavras. Sendo que
o aspecto era inicialmente doce, mas depois ficou amarga. Era essa a tarefa, ao
mesmo tempo doce e amarga de receber as palavras de Deus (veja Ez 3.1-3). Ele
entende que carrega o poderoso nome do Senhor e que por ele era chamado, como
era também declarado acerca do povo em 14.9.
A compulsão de profetizar era, com frequência,
opressora, solitária, mas necessária e abençoadora. Sem dúvida se trata de uma
afirmação literalmente verdadeira, em parte devido ao celibato de Jeremias
(16.2). No entanto, o profeta indesejado certamente experimentou também um
sentimento profundo de solidão. Compare com Elias ( I Rs 19.10) e Jesus (Mt
26.37-38).
Ele sente ser pérpetua a sua dor e
incurável a sua ferida por causa de sua missão e por causa do povo de Deus. Em
14.17, a ferida é de Judá. A frase inteira é aplicada a Judá em 30.12,
juntamente com uma promessa de cura (vs. 16-17). Veja também 10.19, em que é
usada para Jeremias. Seria Deus um ilusório ribeiro para ele? Contrastando 2.13
e comparando com 20.7, veremos que no fim mesmo quem prevalecerá será sempre
Deus.
Jr 15:1 Disse-me, porém, o Senhor:
Ainda que
Moisés e Samuel se pusessem diante de mim,
não
poderia estar a minha alma com este povo.
Lança-os
de diante da minha face, e saiam eles.
Jr 15:2 E
quando te perguntarem:
Para
onde iremos?
dir-lhes-ás:
Assim
diz o Senhor:
Os
que para a morte, para a morte;
e
os que para a espada, para a espada;
e
os que para a fome, para a fome;
e
os que para o cativeiro, para o cativeiro.
Jr 15:3 Pois
os visitarei com quatro gêneros de destruidores,
diz
o Senhor:
com
espada para matar,
e
com cães, para os dilacerarem,
e
com as aves do céu
e
os animais da terra,
para
os devorarem e destruírem.
Jr 15:4
Entregá-los-ei para serem um espetáculo horrendo
perante
todos os reinos da terra, por causa de Manassés,
filho
de Ezequias, rei de Judá,
por
tudo quanto fez em Jerusalém.
Jr 15:5 Pois
quem se compadecerá de ti, ó Jerusalém?
ou
quem se entristecerá por ti?
Quem
se desviará para perguntar pela tua paz?
Jr 15:6 Tu me
rejeitaste, diz o Senhor, voltaste para trás;
por
isso estenderei a minha mão contra ti,
e
te destruirei; estou cansado de me abrandar.
Jr 15:7 E os
padejei com a pá nas portas da terra;
desfilhei,
destruí o meu povo;
não
voltaram dos seus caminhos.
Jr 15:8 As
suas viúvas mais se me têm multiplicado
do
que a areia dos mares; trouxe ao meio-dia
um
destruidor sobre eles, até sobre a mãe de jovens;
fiz
que caísse de repente sobre ela
angústia
e terrores.
Jr 15:9 A que
dava à luz sete se enfraqueceu:
expirou
a sua alma; pôs-se-lhe o sol sendo ainda dia;
ela
se confundiu, e se envergonhou;
e
os que ficarem deles eu os entregarei à espada,
diante
dos seus inimigos, diz o Senhor.
Jr 15:10 Ai
de mim, minha mãe! porque me deste à luz,
homem
de rixas e homem de contendas para toda a terra.
Nunca
lhes emprestei com usura,
nem
eles me emprestaram a mim com usura,
todavia
cada um deles me amaldiçoa.
Jr 15:11
Assim seja, ó Senhor,
se
jamais deixei de suplicar-te pelo bem deles,
ou
de rogar-te pelo inimigo no tempo da calamidade
e
no tempo da angústia.
Jr 15:12 Pode
alguém quebrar o ferro, o ferro do Norte, e o bronze?
Jr 5:13 As
tuas riquezas e os teus tesouros,
eu
os entregarei sem preço ao saque;
e
isso por todos os teus pecados,
mesmo
em todos os teus limites.
Jr 15:14 E
farei que sirvas os teus inimigos numa terra
que
não conheces; porque o fogo se acendeu em minha ira,
e
sobre vós arderá.
Jr 15:15 Tu,
ó Senhor, me conheces; lembra-te de mim, visita-me,
e
vinga-me dos meus perseguidores;
não
me arrebates, por tua longanimidade.
Sabe que por
amor de ti tenho sofrido afronta.
Jr 15:16
Acharam-se as tuas palavras, e eu as comi;
e
as tuas palavras eram para mim o gozo e alegria
do
meu coração; pois levo o teu nome,
ó
Senhor Deus dos exércitos.
Jr 15:17 Não
me assentei na roda dos que se alegram,
nem
me regozijei. Sentei-me a sós sob a tua mão,
pois
me encheste de indignação.
Jr 15:18 Por
que é perpétua a minha dor, e incurável a minha ferida,
que
se recusa a ser curada? Serás tu para mim como ribeiro
ilusório
e como águas inconstantes?
Jr 15:19
Portanto assim diz o Senhor:
Se
tu voltares, então te restaurarei, para estares
diante
de mim;
e
se apartares o precioso do vil,
serás
como a minha boca;
tornem-se
eles a ti, mas não voltes tu a eles.
Jr 15:20 E eu
te porei contra este povo como forte muro de bronze;
eles
pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti;
porque
eu sou contigo
para
te salvar, para te livrar, diz o Senhor.
Jr 15:21 E
arrebatar-te-ei da mão dos iníquos,
e
livrar-te-ei da mão dos cruéis.
Em resumo, aprendendo com Jeremias, entendo
que não estamos aqui para o sucesso ou para o fracasso, para a vitória ou para
a derrota, para os ganhos ou para as perdas, mas para fazer o que nos vier às
mãos para fazê-lo, em amor – I Co 16:14, de todo o coração – Cl 3:23, como se
ao Senhor Jesus as estivéssemos fazendo – Cl 3:17, dando a ele glórias em tudo
e em todas as coisas – I Co 10:31 – e isso tudo sem murmurações, nem contendas –
Fp 2:14.
Deus responde a Jeremias, garantindo
livramento, mas advertindo-o para se arrepender dos seus próprios pecados.
A promessa do livramento de Jeremias
prefigura o livramento de Judá. Essa é uma função importante da "confissão"
juntamente com as respostas do Senhor.
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