Entramos em nossa quinta parte, de nossa
divisão proposta de dezoito delas, nos baseando na estruturação apresentada
pela BEG. Estamos no capítulo 7.
V. O TEMPLO (7.1-10.25).
Já vimos os pecados repetidos de Judá
(2.1-3.5) que levaram aos julgamentos divinos e à invasão estrangeira
(3.6-6.30). Agora, veremos como Jeremias rejeitou a suposição geral de que o
templo protegeria Jerusalém da destruição.
Os judaítas possuíam a crença equivocada de
que os babilônios não poderiam destruir Jerusalém porque a cidade abrigava o
templo de Deus. Jeremias põe fim a essa confiança ilusória.
O enfoque sobre essa questão é dividido em
três seções: o discurso principal de Jeremias no templo (7.1-8.3) e os
discursos secundários sobre a culpa de Judá (8.4-9.26) e sobre o pecado da
idolatria em Judá (10.1-25).
Para nossas reflexões, dividiremos essa série
de discursos de Jeremias em três seções: A. O templo de Salomão e Siló – 7:1 – 8:3;
B. Os pecados e julgamentos de Judá – 8:4 – 9:26; e, C. A idolatria ou o Senhor
– 10:1-25.
A. O templo de Salomão e Siló – 7:1 – 8:3.
Até o terceiro versículo do próximo
capítulo, veremos Jeremias fazendo o seu principal discurso sobre o templo de
Salomão e Siló. Nesse discurso, Jeremias ataca a suposição falsa de que a mera
presença do templo protegeria Jerusalém dos seus inimigos.
Como em muitas outras passagens proféticas,
a palavra veio a Jeremias da parte do Senhor e este a relatou.
Deus convida Jeremias a se colocar na porta
que dava para o átrio interno do templo e dali proclamar a sua palavra.
Jeremias se colocou no lugar central de adoração de Judá para proclamar a
hipocrisia dos seus adoradores. O poder desse ato é intensificado pelo fato de
o profeta ser um sacerdote. É provável que esse discurso tenha sido feito
durante uma das grandes festas anuais (Éx 23.14-18), uma ocasião em que
"todo o Israel" (Dt 31.11) devia estar presente.
Todos estavam sendo convidados a ouvir a
palavra, todos os de Judá que entravam pelas portas - essas portas davam para o
átrio externo do templo – para especificamente adorarem ao Senhor.
A palavra de Jeremias era uma exortação
para que corrigissem o caminho deles e as suas obras e ai sim ele, Deus, os
faria habitar naquele lugar. O profeta lembra ao povo de que a garantia de sua
permanência na Terra Prometida nunca havia sido incondicional.
No verso 4, há uma tríplice repetição
indicando que o povo apelava fervorosamente para o templo como confirmação de
que nenhum mal sobreviria a cidade. Os apelos ao templo em busca de segurança
eram enganosos, pois não tinham nenhum valor sem o arrependimento e a fidelidade
a Deus (vs. 5-6).
Nada sagrado tem valor algum senão for
acompanhado de atitudes que demonstrem arrependimento, fidelidade e amor a Deus.
O templo do Senhor era considerado sagrado, mas os que o frequentavam não eram
santos. O segredo para que o templo fosse esse amuleto estaria no comportamento
do povo em emendarem os seus caminhos e executarem a justiça, o juízo e a verdade
– vs. 5, 6.
Conforme o verso 6, até sangue inocente era
derramado. Apesar de Jeremias não dar detalhes, fica claro que estava ocorrendo
o derramamento de sangue inocente. É possível que seja uma referência ao
sacrifício de crianças nos cultos pagãos (cf. 19.4; 32.35).
No verso 7, a promessa condicional de Deus de
que ele mesmo habitaria com eles para sempre. A condição era a justiça, a
verdade e a retidão, mas a confiança deles, para o mal deles, estava no erro,
em palavras falsas de nenhum proveito a quem quer que seja – vs. 8.
No verso 9, Deus elenca uma série de
infrações de sua lei. Observar a alusão a cinco dos Dez Mandamentos (cf. Os
4.2), com ênfase sobre o primeiro (Ex 20.3).
Aquela casa ali não dava o direito deles de
pecarem à vontade. Ela, de fato, era a casa que se chama pelo seu nome. O
"lugar" (Dt 12.5) que leva o nome de Deus é identificado em 1 Rs 8.43
como sendo o templo em Jerusalém. Ao colocar o seu nome nesse lugar, o Senhor
indicou a sua presença especial ali (1Rs 8.27; 1 Rs 8). O sarcasmo de Jeremias
é apropriado. O povo entendeu o privilégio de acesso à presença de Deus como
permissão para se rebelar. Eles estavam se achando o povo escolhido por Deus,
mas queriam apenas os privilégios e não os deveres e obrigações decorrentes.
Então o que se tornou a sua casa senão
covil de salteadores. Veja Mt 21.13. Apesar de estarem escondidos (como num
covil), seriam vistos pelo Senhor e sofreriam as consequências.
Siló era o lugar central de adoração em
Israel antes de Davi transformar Jerusalém na capital do seu reino (Js 18.1; 1
Sm 1.9). Uma vez que Siló não existia mais (provavelmente havia sido destruída
pelos filisteus), a referência ilustra bem o argumento de Jeremias – o lugar
onde o nome de Deus habitava não estava imune ao seu julgamento.
Deus não havia gostado de que tivessem
agido assim e começando de madrugada - uma frase comum neste livro de Jeremias
(25.3-4; 26.5) que indica a paciência demonstrada por Deus para com o seu povo
antes de julgá-lo -, insistentemente, lhes falou, mas eles não ouviram – outro tema
repetido com frequência neste livro (6.17; 11.7-8; 25.3; cf. 2Rs 17.13-14).
Do mesmo jeito que tinha feito a Siló, Deus
prometera fazer daquele lugar que abrigava o templo do Senhor, pois o Senhor os
chamou e eles não responderam. E não somente isso, mas os lançaria fora de sua
presença, do mesmo jeito que lançara os seus irmãos, da linhagem de Efraim –
vs. 14, 15.
Jeremias é advertido por Deus com uma proibição
ameaçadora, pois um dos papéis do profeta era interceder. Abraão (Gn 20.7) e
Moisés (Êx 32.11-14) são fortes exemplos de intercessores, mas Deus instruiu
Jeremias a não orar (11.14; 15.1), pois o destino de Jerusalém estava
praticamente selado. Havia, contudo, uma palavra nos vs. 5-6 (exemplos de pedidos
de orações 1Sm 7.8; 12.19; 1Jo 5.16).
Filhos, pais, mulheres todos envolvidos com a
idolatria procurando agradar uma tal de rainha dos céus. A idolatria exercia
sobre o povo um papel muito forte. Essa Rainha dos Céus, possivelmente, era um
título babilônico para a deusa Istar (44.19,25), mas essa identificação é
incerta.
Depois das extensas acusações dos vs. 1-19,
temos o início da declaração da sentença sobre os homens e sobre os animais, sobre os
frutos da terra. O julgamento divino transtorna todos os relacionamentos,
principalmente entre Deus, o seu povo e toda a criação (cf. Os 2.18).
Tudo e todos são afetados pelo juízo de Deus.
homens, animais, campos, florestas, a natureza toda sofre.
A mera quantidade de sacrifícios não significava
nada para o Senhor (1 Sm 15.22-23). Ele se interessava tão pouco pelos
sacrifícios per si que seus adoradores poderiam muito bem cometer a
transgressão de consumir a carne dos holocaustos (Lv 1.9). O povo acostumado
com o pecado, procurava em suas ações subornarem – como se isso fosse possível –
a Deus. Além de idolatrarem o templo, adoravam ídolos mesmo, outros deuses, e
ainda ofereciam sacrifícios como se Deus deles fosse dependente e necessitasse
urgentemente das doses de misericórdia de seus adoradores.
Como esses versículos ressaltam – vs. 22,
23 -, o sacrifício de animais só era aceitável quando acompanhado da obediência
que flui naturalmente da fé e da contrição (Mq 6.6-8; Hb 11.4,6; Gn 4.4-5).
Deus lhes tinha ordenado para darem ouvidos
a ele. A sua promessa seria de que ele seria o nosso Deus e nós seríamos o seu
povo. Essa fórmula aparece com frequência e enfatiza a solidariedade e lealdade
que existia entre Deus e o seu povo em seu relacionamento de aliança (Lv 26.12).
Novamente não ouviram, não se inclinaram
para Deus, antes andaram na dureza do seu coração maligno. Compare com 3.17 e
Gn 6.5. A descrição de Judá no livro de Jeremias, como em outras partes das
Escrituras, sugere fortemente a inclinação do coração humano para fazer o mal.
A recusa em ouvir a Deus, em não
obedecê-lo, fazia eles vítima do engano. Por não aceitarem a correção, poderiam
ser quebrantados de repente sem que houvesse mais curas – Pv 29:1.
No vs. 29, o profeta se dirige a Jerusalém,
apresentando a cidade como uma mulher (veja 2.1). O corte dos cabelos pode ser
urna alusão à renovação de um voto nazireu, pois esse ato era prescrito para o
nazireu que sofria uma contaminação ritual (Nm 6.5-9).
Os filhos de Judá fizeram o que era mau aos
olhos do Senhor, na sua casa. Essa citação indica que uma religião estrangeira
havia sido instituída no próprio templo, como aconteceu no reinado de Manassés
(2Rs 21.7). Josias eliminou essas práticas, mas, ao que parece, elas foram retomadas
no reinado de Jeoaquim. Ezequias também testemunhou esse tipo de profanação do
templo (Ez 8.3-12). O ressurgimento dessas práticas serviu para confirmar a
análise de Jeremias da rebelião persistente de Judá.
Era nos altos que até seus filhos queimavam
no fogo. Para o quê? A cegueira espiritual quando encobre o homem o escraviza a
caprichos inimagináveis. Os altos era um nome comum para os santuários pagãos
(2Rs 23.8-9). Tofete era, literalmente, "um lugar de togo".
Esse terrível lugar ficava no vale de
Hinom, onde crianças eram oferecidas como sacrifício ao deus estrangeiro
Moloque. A oferta dos primogênitos era uma prática conhecida no mundo antigo,
mas em Israel eles deviam ser "resgatados" pelo sacrifício de animais
(Êx 13.1-16; 34.19-20). O sacrifício humano era expressamente proibido (Lv
18.21; 20.2-5; 2Rs 23.10).
O vale do filho de Hinom estava situado a
sudoeste de Jerusalém. A abreviação desse nome ("vale de Hinom"; em
hebraico, ge'hinnom) deu origem à designação "Geena" (em grego,
geenna), traduzida como "inferno" (Mt 18.9).
Jr 7:1 A palavra que da parte do Senhor
veio a Jeremias, dizendo:
Jr
7:2 Põe-te à porta da casa do Senhor,
e
proclama ali esta palavra, e dize:
Ouvi
a palavra do Senhor, todos de Judá,
os
que entrais por estas portas,
para
adorardes ao Senhor.
Jr
7:3 Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel:
Emendai
os vossos caminhos e as vossas obras,
e
vos farei habitar neste lugar.
Jr
7:4 Não vos fieis em palavras falsas, dizendo:
Templo
do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor
são
estes.
Jr
7:5 Mas, se deveras emendardes os vossos caminhos
e
as vossas obras; se deveras executardes a justiça
entre
um homem e o seu próximo;
Jr
7:6 se não oprimirdes o estrangeiro, e o órfão, e a viúva,
nem
derramardes sangue inocente neste lugar,
nem
andardes após outros deuses
para
vosso próprio mal,
Jr
7:7 então eu vos farei habitar neste lugar,
na
terra que dei a vossos pais desde os tempos antigos
e
para sempre.
Jr
7:8 Eis que vós confiais em palavras falsas,
que
para nada são proveitosas.
Jr
7:9 Furtareis vós, e matareis, e cometereis adultério,
e
jurareis falsamente, e queimareis incenso a Baal,
e
andareis após outros deuses que não conhecestes,
Jr
7:10 e então vireis, e vos apresentareis diante de mim nesta casa,
que
se chama pelo meu nome, e direis:
Somos
livres para praticardes ainda
todas
essas abominações?
Jr
7:11 Tornou-se, pois, esta casa, que se chama pelo meu nome,
uma
caverna de salteadores aos vossos olhos?
Eis que eu, eu mesmo, vi isso,
diz o Senhor.
Jr
7:12 Mas ide agora ao meu lugar, que estava em Siló,
onde,
ao princípio, fiz habitar o meu nome,
e
vede o que lhe fiz, por causa da maldade
do
meu povo Israel.
Jr
7:13 Agora, pois, porquanto fizestes todas estas obras,
diz
o Senhor, e quando eu vos falei insistentemente,
vós
não ouvistes, e quando vos chamei,
não
respondestes,
Jr
7:14 farei também a esta casa, que se chama pelo meu nome,
na
qual confiais, e a este lugar, que vos dei a vós
e
a vossos pais, como fiz a Siló.
Jr
7:15 E eu vos lançarei da minha presença,
como
lancei todos os vossos irmãos,
toda
a linhagem de Efraim.
Jr
7:16 Tu, pois, não ores por este povo,
nem
levantes por ele clamor ou oração, nem me importunes;
pois
eu não te ouvirei.
Jr
7:17 Não vês tu o que eles andam fazendo nas cidades de Judá,
e
nas ruas de Jerusalém?
Jr
7:18 Os filhos apanham a lenha, e os pais acendem o fogo,
e
as mulheres amassam a farinha para fazerem bolos
à rainha do céu,
e oferecem libações
a
outros deuses, a fim de me provocarem à ira.
Jr
7:19 Acaso é a mim que eles provocam à ira? diz o Senhor;
não
se provocam a si mesmos, para a sua própria confusão?
20
Portanto assim diz o Senhor Deus:
Eis
que a minha ira e o meu furor se derramarão
sobre
este lugar, sobre os homens
e
sobre os animais, sobre as árvores do campo
e
sobre os frutos da terra; sim, acender-se-á,
e
não se apagará.
Jr
7:21 Assim diz o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel:
Ajuntai
os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios,
e
comei a carne.
Jr
7:22 Pois não falei a vossos pais no dia em que os tirei da terra
do
Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca
de
holocaustos ou sacrifícios.
Jr
7:23 Mas isto lhes ordenei:
Dai
ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus,
e
vós sereis o meu povo;
andai
em todo o caminho que eu vos mandar,
para
que vos vá bem.
Jr
7:24 Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos;
porém
andaram nos seus próprios conselhos,
no
propósito do seu coração malvado;
e
andaram para trás, e não para diante.
Jr
7:25 Desde o dia em que vossos pais saíram da terra do Egito,
até
hoje, tenho-vos enviado insistentemente todos os meus
servos,
os profetas, dia após dia;
Jr
7:26 contudo não me deram ouvidos, nem inclinaram
os
seus ouvidos, mas endureceram a sua cerviz.
Fizeram
pior do que seus pais.
Jr
7:27 Dir-lhes-ás pois todas estas palavras,
mas
não te darão ouvidos; chamá-los-ás,
mas
não te responderão.
Jr
7:28 E lhes dirás:
Esta
é a nação que não obedeceu a voz do Senhor seu Deus
e
não aceitou a correção; já pereceu a verdade,
e
está exterminada da sua boca.
Jr
7:29 Corta os teus cabelos, Jerusalém, e lança-os fora,
e
levanta um pranto sobre os altos escalvados;
porque
o Senhor já rejeitou e desamparou esta geração,
objeto
do seu furor.
Jr
7:30 Porque os filhos de Judá fizeram o que era mau
aos
meus olhos, diz o Senhor; puseram as suas abominações
na
casa que se chama pelo meu nome,
para
a contaminarem.
Jr
7:31 E edificaram os altos de Tofete,
que
está no Vale do filho de Hinom, para queimarem no fogo
a
seus filhos e a suas filhas, o que nunca ordenei,
nem
me veio à mente.
Jr
7:32 Portanto, eis que vêm os dias, diz o Senhor,
em
que não se chamará mais Tofete,
nem
Vale do filho de Hinom,
mas
o Vale da Matança;
pois
enterrarão em Tofete, por não haver mais outro lugar.
Jr
7:33 E os cadáveres deste povo servirão de pasto às aves do céu
e
aos animais da terra; e ninguém os enxotará.
Jr
7:34 E farei cessar nas cidades de Judá, e nas ruas de Jerusalém,
a
voz de gozo e a voz de alegria, a voz de noivo
e
a voz de noiva; porque a terra se tornará
em
desolação.
Ai deles que agora sofriam a palavra
profética de juízo, pois os seus cadáveres iriam servir de pasto para as aves
dos céus e aos animais da terra e ninguém os poderia enxotar. Na antiguidade, o
fim mais terrível que podia ser dado a um corpo era deixá-lo insepulto.
Por causa disso tudo, Deus faria cessar nas
cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém a voz de gozo, de alegria, de noivo, de
noiva onde a terra seria tornada desolada. Confira a maldição da aliança em Dt
28.26.
Estamos trabalhando na quarta parte, de
nossa divisão proposta de dezoito delas, nos baseando na estruturação
apresentada pela BEG. Estamos no capítulo 6.
IV. OS PECADOS E JULGAMENTOS DE JUDÁ (3.6-6.30) - continuação.
Como já dissemos, nós já vimos os pecados
repetidos de Judá (2.1-3.5) que levaram aos julgamentos divinos e, agora, em
consequência os pecados que os levaram à invasão estrangeira (3.6-6.30).
Também havíamos dividido essa parte “4”
como segue:: A. Judá é pior do que Israel - 3.6-4.4 – já vimos; B. O julgamento por meio da invasão - 4.5-31 – já vimos; C. A cidade pecaminosa de
Jerusalém - 5.1-13 – já vimos; D. O
julgamento por meio da destruição de Jerusalém - 5.14-19 - já vimos; E. Os pecados de Judá - 5.20-31 - já vimos; F. O julgamento por meio do exílio – 6:1-30 – veremos e encerraremos a parte IV agora.
F. O julgamento por meio do exílio – 6:1-30.
Estamos, finalmente, no último capítulo
dessa quarta parte e nela veremos, em seus 30 versículos, o julgamento por meio
do exílio. Depois de anunciar o pecado de Judá, Jeremias faz uma declaração
final sobre o exílio iminente.
A aproximação dos babilônios aterrorizaria
todos em Judá. Não haveria onde se esconder. Fugir para onde, se o inimigo já estava
a caminho a passos largos? Haveria algum lugar de segurança?
O profeta se refere a Jerusalém como a
formosa e delicada, como a filha de Sião. Apesar de ser uma personificação de
Jerusalém - 4.31 - a imagem também se refere às mulheres refinadas da cidade - Is
3.16-26; Am 4.1. A tristeza do profeta é expressa no olhar nostálgico que ele
lança sobre a sua cidade amada.
Ela agora não mais seria pastoreada pelos pastores
de Israel, mas pelos líderes babilônios com as suas tropas tomando Jerusalém
(cf. 4.15).
A guerra já estaria preparada contra ela e
por ironia, essas mesmas palavras “levantai-vos e subamos de noite” eram usadas
pelos israelitas quando subiam à Jerusalém para adorar - 31.6. Aqui, a imagem
da guerra santa é invertida: o Senhor lutaria contra o seu povo.
O ataque poderia se dar a qualquer hora,
mesmo em horas tidas como incomuns para os ataques como ao meio-dia ou de
noite. Isso revelava que a força do inimigo era tanta que o resultado seria o
mesmo qualquer que fosse o momento que decidissem atacar.
Nos versos 6 e 7, Deus parece que se dirige
aos babilônios, instruindo-os acerca de como castigar Jerusalém. A opressão
citada, no meio dela, era contra o seu próprio povo que como um poço cuja água
transborda, Jerusalém transbordava de perversidade.
Ele se dirige a ela em tom ameaçador e
final como se já avisada já fosse de que o mal estava por vir a ela por causa
de seus pecados e por causa de sua rejeição a Deus. o risco dela era Deus se
apartar dela definitivamente e ela se tornar uma total assolação, uma terra
deserta e já não mais habitada para sempre, por isso o aviso.
Em vez de rebuscar suas plantações – vs. 9
-, os agricultores deviam deixar o que sobrava para os pobres (Dt 24.19-221. No
entanto, a Babilónia "rebuscaria" Judá meticulosamente. No capítulo
anterior, vs. 10, o problema da vinha eram as gravinhas. Retirando-se elas, o
remanescente seria salvo. O Senhor tinha propósitos mais profundos por trás da
permissão que concedeu aos babilónios (23.3 – Deus esta no controle de tudo).
Trata-se de urna expressão hiperbólica; Deus poupou um remanescente para cumprir
a sua aliança de redenção - 11.23. ela não haveria de alcançar o joio, nem as gravinhas,
mas o remanescente fiel que teme e treme de sua palavra.
O
profeta usa de exagero nos vs. 11-12 para indicar a destruição quase total de
Jerusalém que envolveria crianças, jovens, marido, mulher, velho, casas, campos, toda a terra.
Tudo estava contaminado desde o menor até
ao maior, desde o profeta até ao sacerdote. A falsa mensagem deles, separados
para pregarem a palavra de Deus, era paz, paz, no entanto, essa não era a
palavra de Deus, mas a palavra que seus corações malignos desejavam para
continuar, cada um em seu pecado predileto. A mensagem dos falsos profetas,
recebida de bom grado pelo povo, não poderia trazer a paz verdadeira (Mq 2.6),
cuja contraparte é a justiça.
Estavam tão acostumados com o pecado e suas
abominações que mal sabiam o que era envergonharem-se – vs. 15 - de tão
cauterizada que estava as suas consciências.
Deus lhes pede que se ponham no caminho
novamente para o bem deles. Os caminhos verdadeiros estabelecidos por Moisés. O
bom caminho, literalmente, "o caminho para o bem", ou seja, o caminho
para a paz e para a prosperidade. O sinal de que estariam no caminho certo
seriam achar descanso para a sua alma - Mt 11.29.
Até os seus atalaias - uma designação usada
para os profetas (Is 21.11; Ez 3.17; Hc 2.1) - Deus colocou para eles os
avisando para estarem atentos à voz da buzina, mas eles disseram que não
escutariam!
Então Deus conclama nações e fala à terra e
anuncia que trará o mal sobre o povo – vs. 18, 19 -, o próprio fruto dos seus
pensamentos porque rejeitaram a palavra do Senhor e a sua lei. Ao invés de
agradar a Deus com o que Deus requer, ofereceram a ele o incenso de Sabá, com ingredientes caros usados em rituais (Ex
30.23-38), numa tentativa clara de suborno. De tais holocaustos - uma ênfase
importante nos salmos e nos profetas (SI 40.6-8; Is 1.11-15; Mq 6.6-8; veja Mt
23.23) – o Senhor não se agradava.
O resultado disso não poderia ser outro. Levariam
as consequências consigo e estariam armados, doravante, tropeços ao próprio
povo que pais e filhos juntamente, e vizinhos e amigos para que eles perecessem.
O povo da terra do norte já estava vindo. Uma
grande, temível e terrível nação já se levantava das extremidades da terra,
trazendo seus arcos e flechas, não usando de misericórdias, rugindo como um
leão feroz, montados em cavalos dispostos à batalha. A manutenção de vivos não
era ato de misericórdia deles, mas interesses na escravidão e outros negócios. Embora
fossem instrumentos de Deus para o juízo, Deus não aprovava a violência deles e
ainda deles haveria de requerer todo sangue derramado.
O profeta fala que ao ouvirem a notícia
disso, logo de todos se afrouxaram as suas mãos e do povo se apegou uma
angústia de dar nó na língua. As dores já poderiam se sentir como a que está de
parto para fazer nascer a criança, mas a criança não sai.
Não poderiam sair no campo, nem andarem
pelo caminho por causa da espada do inimigo e do espanto que estava por todos
os lados. Era de fato muito terrível a destruição de Jerusalém – 20:10; 46:5;
49:29.
Jr 6:1 Fugi para segurança vossa, filhos
de Benjamim, do meio de Jerusalém!
Tocai
a buzina em Tecoa, e levantai o sinal sobre Bete-Haquerem;
porque
do norte vem surgindo um grande mal, sim,
uma
grande destruição.
Jr 6:2 A formosa e delicada, a filha de Sião, eu
a exterminarei.
Jr
6:3 Contra ela virão pastores com os seus rebanhos;
levantarão
contra ela as suas tendas
em
redor e apascentarão, cada um no seu lugar.
Jr
6:4 Preparai a guerra contra ela;
levantai-vos,
e subamos ao meio-dia.
Ai
de nós! que já declina o dia,
que
já se vão estendendo as sombras da tarde.
Jr
6:5 Levantai-vos, e subamos de noite,
e
destruamos os seus palácios.
Jr
6:6 Porque assim diz o Senhor dos exércitos:
Cortai
as suas árvores, e levantai uma tranqueira
contra
Jerusalém.
Esta
é a cidade que há de ser castigada;
só
opressão há no meio dela.
Jr
6:7 Como o poço conserva frescas as suas águas,
assim
ela conserva fresca a sua maldade;
violência
e estrago se ouvem nela;
enfermidade
e feridas há
diante
de mim continuadamente.
Jr
6:8 Sê avisada, ó Jerusalém, para que não me aparte de ti;
para
que eu não te faça uma assolação,
uma
terra não habitada.
Jr
6:9 Assim diz o Senhor dos exércitos:
Na
verdade respigarão o resto de Israel como uma vinha;
torna
a tua mão, como o vindimador, aos ramos.
Jr
6:10 A quem falarei e testemunharei, para que ouçam?
eis
que os seus ouvidos estão incircuncisos,
e
eles não podem ouvir;
eis
que a palavra do Senhor se lhes tornou em opróbrio;
nela
não têm prazer.
Jr
6:11 Pelo que estou cheio de furor do Senhor;
estou
cansado de o conter;
derrama-o
sobre os meninos pelas ruas,
e
sobre a assembleia dos jovens também;
porque
até o marido com a mulher serão presos,
e
o velho com o que está cheio de dias.
Jr
6:12 As suas casas passarão a outros,
como
também os seus campos e as suas mulheres;
porque
estenderei a minha mão contra os habitantes da terra,
diz
o Senhor.
Jr
6:13 Porque desde o menor deles até o maior,
cada
um se dá à avareza; e desde o profeta até o sacerdote,
cada
um procede perfidamente.
Jr
6:14 Também se ocupam em curar superficialmente
a
ferida do meu povo, dizendo:
Paz,
paz; quando não há paz.
Jr
6:15 Porventura se envergonharam
por
terem cometido abominação? Não, de maneira alguma;
nem
tampouco sabem que coisa é envergonhar-se.
Portanto
cairão entre os que caem;
quando
eu os visitar serão derribados, diz o Senhor.
Jr
6:16 Assim diz o Senhor:
Ponde-vos
nos caminhos, e vede,
e
perguntai pelas veredas antigas,
qual
é o bom caminho, e andai por ele;
e
achareis descanso para as vossas almas.
Mas
eles disseram:
Não
andaremos nele.
Jr
6:17 Também pus atalaias sobre vós dizendo:
Estai
atentos à voz da buzina.
Mas
disseram: Não escutaremos.
Jr
6:18 Portanto ouvi, vós, nações, e informa-te tu,
ó
congregação, do que se faz entre eles!
Jr
6:19 Ouve tu, ó terra!
Eis
que eu trarei o mal sobre este povo,
o
próprio fruto dos seus pensamentos;
porque
não estão atentos às minhas palavras;
e
quanto à minha lei, rejeitaram-na.
Jr
6:20 Para que, pois, me vem o incenso de Sabá,
ou
a melhor cana aromática de terras remotas?
Vossos
holocaustos não são aceitáveis,
nem
me agradam os vossos sacrifícios.
Jr
6:21 Portanto assim diz o Senhor:
Eis
que armarei tropeços a este povo,
e
tropeçarão neles pais e filhos juntamente;
o
vizinho e o seu amigo perecerão.
Jr
6:22 Assim diz o Senhor:
Eis
que um povo vem da terra do norte,
e
uma grande nação se levanta das extremidades da terra.
Jr
6:23 Arco e lança trarão; são cruéis, e não usam de misericórdia;
a
sua voz ruge como o mar, e em cavalos vêm montados,
dispostos
como homens para a batalha, contra ti,
ó
filha de Sião.
Jr
6:24 Ao ouvirmos a notícia disso, afrouxam-se as nossas mãos;
apoderam-se
de nós angústia e dores, como as de parturiente.
Jr
6:25 Não saiais ao campo, nem andeis pelo caminho;
porque
espada do inimigo e espanto há por todos os lados.
Jr
6:26 Ó filha do meu povo, cingi-te de saco,
e
revolve-te na cinza; pranteia como por um filho único,
em
pranto de grande amargura;
porque
de repente virá o destruidor sobre nós.
Jr
6:27 Por acrisolador e examinador te pus entre o meu povo,
para
que proves e examines o seu caminho.
Jr
6:28 Todos eles são os mais rebeldes,
e
andam espalhando calúnias; são bronze e ferro;
todos
eles andam corruptamente.
Jr
6:29 Já o fole se queimou; o chumbo se consumiu com o fogo;
debalde
continuam a fundição,
pois
os maus não são arrancados.
Jr
6:30 Prata rejeitada lhes chamam,
porque
o Senhor os rejeitou.
Dos versos de 27 a 30, Deus revela a
Jeremias o seu papel nisso tudo. O de acrisolador e o de fortaleza para
conhecer o caminho deles e o examinar ficando claro assim seu papel de mediador
e intercessor do povo.
O Senhor ordena que Jeremias teste Judá
como um acrisolador testa os metais para averiguar a pureza deles. Em outras
partes do livro, o próprio Senhor é o acrisolador tanto do povo, quanto de
Jeremias – 9:7; 17:10; 20:12; 11:20; 12:3). A parte ruim seria descartada, mas
a parte boa, livre das impurezas, seria tratada e reaproveitada.
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